sábado, 27 de junho de 2015

Minimalismo pra quê?

Lá no minimalizo uma leitora falou: tá bom, tudo isso é muito bonito, mas qual é o objetivo da bagaça mesmo?

Eu respondi rapidinho que bem, tem vários, um para cada praticante. O meu foi sair viajando. Tem gente que quer ter mais tempo livre. Ou quer economizar. Ou quer consumir menos recursos naturais.

Eu sempre falei que meu minimalismo era utilitário, não um fim em si mesmo. Então, se meu período de viagens está acabando, quer dizer que eu não quero ou preciso mais buscar o menos?

Poderia até ser. Só que eu curti. Achei muito bom ter menos objetos e menos preocupações. Ganhei mais tempo e mais flexibilidade. Fiquei aberta a mais oportunidades. Descobri o que é mais significativo para mim.

Talvez o que o minimalismo me traga é simplesmente mais controle sobre a minha vida. Se preciso de menos coisas, se não faço questão de mostrar status, tenho mais opções. Posso morar em um apartamento menor perto do trabalho, posso pensar em mudar de carreira mesmo se for para ganhar menos, posso guardar dinheiro para um objetivo que é importante para mim, não para os outros.

Sim, minha família e meus conhecidos podem achar que eu enlouqueci. Ou que fiquei pobre, o que talvez seja tão ruim quanto. Mas é aquela coisa: depois que você deixa de corresponder às expectativas da galera e você vira "um caso perdido", as coisas se acalmam. E a vida continua.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Meu período consumista

Lá pelo ano de 2008, fiquei meio sem ter o que fazer. Estava satisfeita com o casamento e o trabalho, já tinha terminado uma especialização, na cidade onde eu morava não tinha o curso da língua que eu queria e naquela época não existia leitor digital. Aí comecei a me interessar - mais - por moda e maquiagem, a ir à manicure toda semana e a fazer luzes no cabelo.

(Gente, não estou dizendo que quem gosta dessas coisas não tem mais o que fazer. Só estou contando meu caso.)

Durante um tempo, me diverti muito visitando blogs, comprando roupas e sapatos e bolsas, aproveitando viagens para trazer maquiagens que só estavam à venda lá fora.

E aí, no final de 2009, cansei. Aquilo tudo passou a me interessar menos, porque comecei a perceber um padrão: os lançamentos não eram necessariamente originais, melhores ou mais bonitos. Eram simplesmente diferentes do que eu já tinha. No meu guarda-roupa havia roupas de todas as cores e estilos, não especialmente porque gostasse, mas porque tinham estado na moda (e olha que nunca fui a louca das tendências). Os sapatos e bolsas que eu tinha eram lindos, mas muitos eram pouco práticos, pesavam no ombro e machucavam meus pés. E os blogs e as revistas se repetiam sem parar.

Comece a achar aquilo muito chato. Vocês sabem que eu sou uma pessoa novidadeira, né? Mas as novidades desse universo me pareciam tudo mais do mesmo. Aí larguei mão. O feminismo me ajudou a ver que eu não precisava de tudo aquilo (podia, mas não precisava). Quando o minimalismo chegou, foi só correr pro abraço.

Hoje eu só uso salto baixo. No meu armário só tem as cores e as peças que eu gosto. Uso maquiagem quando me dá na telha. Corto meu próprio cabelo. Pulo as páginas de moda das revistas.

Continuo consumindo, é claro. Preciso de casa, comida, roupa, educação e diversão. Mas consumo muito menos, e muito melhor - porque tento consumir o que eu realmente acho importante, não o que me dizem que é.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Dinheiro grátis

Quando voltei ao Brasil, descobri que tinha uns de pontos na minha conta bancária e que eles podiam ser trocados por vales, objetos e passagens aéreas - e também em compras em um supermercado aqui perto de casa.

Lá me fui, toda feliz. Não era muita coisa, não, mas deu bem pra comprar uns potes de sorvete e uns chocolates. Na hora de passar no caixa, me lembro de ter dado uma risadinha e pensado: ueba, dinheiro grátis!

Não preciso dizer que eu estava redondamente enganada, né? Não existe almoço grátis - nem potes de sorvete grátis. Uns dias depois, lendo "Affluenza - when too much is never enough (quando demais nunca é suficiente)", do Clive Hamilton - um livro sobre excesso de consumo na Austrália e seus efeitos negativos -, parei pra pensar na parte que dizia que, bem, nada é de graça. Que pagamos mais caro por passagens aéreas para bancar programas de milhagem, mais caro em shoppings para financiar prêmios de fim de ano e mais caro por tudo para que os lojistas cubram as taxas pelas transações de cartão de crédito.

É óbvio, não? Eu nunca tinha pensado nisso, mas é evidente que as vantagens de programas de incentivo ao consumo e fidelização têm que ser bancadas por alguém. Ou seja, eu pago mais caro no supermercado aqui perto de casa do que em um que não dê sorvete "grátis".

E é claro que quem é mais recompensado por todos esses programas é justamente quem gasta/consome mais, isto é, quem tem mais dinheiro - e que provavelmente não precisa dos prêmios... Já o consumidor ocasional, de menor poder aquisitivo, paga a mais e não usufrui de nada.

Então, de hoje em diante, vou desconfiar dos estabelecimentos e empresas que oferecem "vantagens". Provavelmente elas vão estar embutidas no preço final.

Vantagem mesmo é pagar mais barato.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Os grandes gestos e a minha inquietude

Sou uma pessoa que gosta dos grandes gestos. Passar em um concurso! Mudar de cidade! Vender tudo e sair viajando! é comigo mesmo. Quando há um grande gesto envolvido, tenho a impressão que estou vivendo de fato e aproveitando as oportunidades. Quando não, parece que o tempo está passando e eu não estou fazendo tudo o que gostaria.

Infelizmente a vida (pelo menos a minha) não é composta só de grandes gestos. Grande parte dela é feita de rotina, preparação e providências. Neste exato momento, estou em um período assim: digerindo o sabático, me readaptando ao Brasil, planejando o futuro. 

Não vejo nisso a menor graça. Depois de mais de dois anos viajando, o dia a dia por aqui, que no início foi reconfortante, ficou monótono. Eu estava achando que tinha passado pelo sabático sem efeitos colaterais, mas olha eles aí. Na viagem, cada dia era uma novidade; hoje, um parece igual ao outro. Aí eu fico impaciente e inquieta. 

Mas agora não é hora para grandes gestos. É hora para os pequenos, aqueles repetitivos, rotineiros, sem glamour. É hora de ficar quietinha, de manter o foco, de estudar. É um período de recolhimento e trabalho - necessário para recolher os resultados depois. 

Para mim, isso não é fácil. Fáceis são os grandes gestos, as rupturas e as novidades. 

terça-feira, 16 de junho de 2015

A fila (dos concursos) anda

Uma das razões de voltarmos para o Brasil foi o fato de que o concurso que o Leo queria fazer havia sido autorizado. O edital tinha seis meses para sair e... isso acaba de acontecer, na tábua da beirada, na última semana do prazo. Isto é, mais de três meses depois da nossa volta.

Tudo bem que ele ficou estudando enquanto isso. Mas, como o edital veio com um monte de matérias novas, todo aquele direito constitucional e administrativo não vai servir para nada (só para a satisfação pessoal, né). Enfim, já que que todos os outros concorrentes também foram pegos de surpresa, no final das contas tá tudo bem.

Semana passada saiu... a autorização para o concurso que eu quero fazer. Só que a experiência do concurso do Leo está me deixando com o pé atrás. Estou desconfiada que: 1) o edital vai demorar a sair; e 2) as matérias vão vir todas diferentes, até porque o último concurso foi em 2008.

Então estou aflita e sem saber o que fazer. Estou imaginando um cenário sombrio, no qual vou gastar meio ano da minha licença estudando, com o edital saindo só em dezembro, cheio de matérias que eu não tinha nem cogitado. E aí, bem na hora de pegar firme nos estudos, vou ter que voltar a trabalhar.

Tá fácil não.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Meu lugar no mundo

Acho que tem gente que dá sorte. Que nasce em lugares que têm tudo a ver com sua personalidade e seu jeito de ser. Todo mundo tem problemas, claro. Mas tenho a impressão de que se as suas características são valorizadas na sociedade em que você vive, seu nível de - conforto? aceitação? bem-estar? - é maior.

No Brasil, eu tenho minhas limitações. Não gosto de carnaval, nem de pagode, nem de televisão, nem de praia, nem de cerveja. Óbvio que o Brasil é muito mais que isso, mas não consigo deixar de pensar que quem curte essas coisas se diverte mais.

E a solução nem é mudar de país (ainda que fosse fácil, né). Uma vez, a irmã I, que estava morando em Frankfurt, disse:  "Não é que eu queira ser alemã. O que eu queria é que meus pais, minhas irmãs, meus amigos tivessem nascido aqui". Quer dizer, você pode até deixar sua terra natal, mas uns pedacinhos seus vão sempre ficar pra trás.

Faz como, então?

Se organiza para passar um tempo aqui e um tempo lá. (Eu sei a que Lina, do Conexão Paris, faz assim.) É fácil? Claro que não. É impossível? Também não.

Tem alguns caminhos. Um deles é arrumar emprego em uma empresa internacional que esteja disposta a te mandar para onde você quer morar. Outro é trabalhar à distância - e aí, em tese, dá pra ir e voltar. E um terceiro, de longuíssimo prazo, é esperar a aposentadoria (e torcer para o dólar não disparar demais).

E não precisa nem dizer, mas digo mesmo assim: se a gente não tiver uma montanha de objetos, nem um custo de vida altíssimo, tudo isso fica menos difícil, né?

O mundo nas mãos.

domingo, 7 de junho de 2015

Pergunta, Mila!

Quando viajei com meus pais para a Espanha em 2007, minha mãe queria saber tudo, do conteúdo da salada verde à utilidade do prédio vizinho à prefeitura. Como eu tinha prometido que serviria de intérprete, toda hora eu escutava: "Pergunta, Mila!"

Na época, isso me deixava meio irritada porque 1) o meu espanhol era pra lá de marromeno e 2) eu achava que ia incomodar as pessoas com as dúvidas maternas (que, convenhamos, não eram das mais relevantes).

(Obs: é claro que o bordão virou parte da mitologia da série. O Leo se diverte muito - e me faz rir - lascando um "Pergunta, Mila!" em locais como o interior da Bulgária ou da China.)

Hoje, estou convencida de que minha mãe estava certa. Posso adotar "Pergunta, Mila!" como meu lema pessoal. De maneira geral, as pessoas não se importam de responder a perguntas. Na maioria das vezes, elas gostam de compartilhar o que sabem. E, de vez em quando, uma pergunta pode não só resolver o seu problema como o dos outros também!

Desde que cheguei ao Brasil, estou pensando em comprar uma bicicleta ergométrica ou uma esteira. Primeiro enrolei porque eventualmente vou me mudar para Brasília, depois achei que os preços estavam altos... E então, conversando com uma das minhas tias, ela disse que tem uma ergométrica encostada e que está doida pra se livrar dela. Ela mora a poucos quarteirões da casa dos meus pais. É só passar e buscar.

Ou seja, eu podia estar pedalando alegremente a meses. Imagina se o "Pergunta, Mila" tivesse sido aplicado antes!

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Decoração para pessoas introvertidas

Uma das diferenças entre introvertidos e extrovertidos é que os primeiros preferem um nível de estímulo menor (bar lotado com música altíssima? É o horror). Então, faz sentido que a gente goste de viver em lugares visualmente limpos, com cores relaxantes e poucos detalhes.



Sempre apreciei o estilo nórdico de decoração (muito branco, muita luz, madeira clara, linhas simples), mas foi a pouco tempo que descobri que os escandinavos são um povo introvertido. Pronto, tá explicado! É por isso que eu me sinto tão confortável nesses ambientes (e porque eu gosto tanto dos móveis da Ikea).


É engraçado como o autoconhecimento pode se refletir em muitas coisas - inclusive no jeito em que a gente mora. Eu acho bonito quartos coloridos e enfeitados, mas eles começam me cansar depois de um tempo. E eu não entendia isso direito - até agora.

Talvez uma das razões pelas quais eu tenha abraçado o minimalismo com tanto entusiasmo seja isso: para uma pessoa introvertida, "menos" (menos coisas, menos estímulos) realmente é mais.

(Fotos daqui.)