segunda-feira, 28 de março de 2016

Mudança de foco

Nos últimos anos, eu tenho sido a pessoas das metas, do planejamento, dos planos B, C e D. O que, por um lado, é muito bom - se a gente não sabe onde quer chegar, nenhum caminho serve -, mas, por outro, me deixa sempre focada no futuro, sacrificando o hoje pelo amanhã e acreditando que quando X ou Y chegarem/acontecerem, aí sim eu estarei contente/realizada/feliz. 

O que é uma grande bobagem, claro. Primeiro que X ou Y podem não se realizar, já que tanta coisa nessa vida não depende só da gente. Segundo que o melhor momento pra ser feliz não é depois disso ou daquilo - é aqui e agora. 

Mas como é que faz pra conciliar as duas visões? Como viver o hoje sem deixar de pensar no amanhã?

Eu acho que só tem um jeito: mudando o foco, periodicamente. Não dá pra pensar no presente e no futuro ao mesmo tempo. Então, precisamos de um momento específico pra concentrar em cada um. 

Na maior parte das horas do dia, a gente tem de pensar é no hoje mesmo: nas pessoas com que convivemos, nas tarefas que temos de cumprir, nas pequenas alegrias cotidianas. E, uma vez por dia (ou semana, ou mês), a gente acerta o visor e foca no futuro: estou caminhando na direção que quero? Estou fazendo o que me comprometi a fazer para alcançar meus objetivos?

Porque se a pessoa senta pra estudar e começar a pensar na quantidade de horas de leitura e exercícios que a separam do concurso, ou resolve fazer dieta e se concentra nas semanas e  meses de disciplina, fica muito difícil continuar. E nos coloca naquela situação: só lá "depois" é que a coisa vai ficar boa. 

Mas se a gente pensa só no hoje e no que queremos hoje - só nessas poucas horas de estudo e nessas três refeições saudáveis - no que está acontecendo de bom e de divertido neste momento -, aí tudo é mais fácil. Lembra quando a gente era criança e ia pro colégio? Ninguém passava o primeiro dia de aula pensando nos 179 dias letivos seguinte - até porque, depois daquela série, a gente ainda ia enfrentar muitos outros anos escolares.

Sempre tive dificuldade com o dilema presente versus futuro, satisfação x ambição. Vamos ver se com esse método a questão se resolve!

sexta-feira, 25 de março de 2016

Só acaba quando termina (ou notícias do concurso)

Finalmente saiu o resultado definitivo da primeira etapa do concurso de Oficial de Chancelaria. Teve choro e ranger de dentes, mandado de segurança, prazos de recursos reabertos, posições alteradas. Em suma: muita emoção. 

A notícia boa é que eu fui aprovada nessa fase (ueba!). A notícia não tão boa é que a fase seguinte é um curso de formação seguido de prova que, tecnicamente, vale pontos suficientes para avacalhar toda a classificação e me tirar de dentro do número de vagas. 

Isso não quer dizer que a gente não tenha ficado feliz, comemorado e contado pros amigos a cada resultado parcial. Isso não quer dizer que eu não esteja confiante (estou, só não demais). Isso só quer dizer que, como boa mineira desconfiada, prefiro não contar com a vitória antes do apito final. 

Só acaba quando termina. 

* * * 

Por outro lado, é impossível não começar a fazer planos. O Leo ficou nas discursivas, mas a gente já tinha combinado que, se um passasse, o outro acompanharia quando fosse a hora de ir pra fora do país. Então estamos pesquisando Namíbia, Timor-Leste e Malásia e nos divertindo horrores. Se der uma zebra, tivemos horas e horas de alegria!

* * * 

Sim, a vida fica meio suspensa enquanto se faz recursos, aguarda resultados e estuda legislação consular para a última fase. Viagens, projetos, cursos, comemorações de aniversário - está tudo na geladeira, e vão continuar lá até uma possível posse.  Às vezes me sinto meio à toa, mas no passado misturei viagens e concursos e deu tudo errado. Dessa vez, é foco total.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Inquietude perpétua

Como (quase?) todo mundo, eu sou uma pessoa contraditória. Por um lado, minha vida é toda organizada, pontual e tranquila. Por outro, minha cabeça está em constante ebulição.

Dia desses tive um daqueles insights óbvios: minha insatisfação, minha inquietude, vem de dentro, não das circunstâncias externas. Não importa o emprego que eu eu tiver ou a cidade em que eu morar - sempre vai ter um bichinho interior querendo mais. Ou diferente.

Acho legal tentar mudar e aprender. Não tão legal é isso vir acompanhado de uma angústia difusa.

O problema é que, na minha cabecinha, eu não consigo separar a insatisfação da ação. Fico achando que, se eu estiver feliz e satisfeita, não vou ter vontade de avançar em nada. Ficarei eternamente confortável e acomodada. (E isso é ruim? Tem muita gente que funciona assim e parece bem contente. Mas eu sou chatonilda, né.)

Este é o dilema: continuar mudando, mas de um lugar de paz e gratidão. Pode isso, Arnaldo?

segunda-feira, 14 de março de 2016

Azunha

Tenho uma colega de trabalho que mora em outra cidade. Sempre que pode, ela pega um avião e vai pra lá. 

Então ela estava contando que, no dia seguinte ao que chega, ela vai ao salão fazer as unhas. É caro e toma tempo - que ela podia estar passando com a família, com os amigos e com o noivo -, mas ela faz. 

Perguntei gentilmente se ela já tinha ouvido falar de gente que não tirava a cutícula (e que aí até passava esmalte, mas escapava do salão). Que tinha tutoriais na internet e tudo. E ela disse que sim, mas pra ela não dava, porque tinha muita cutícula. 

Gente, eu juro que não estou criticando minha colega. Entendo perfeitamente que, nos círculos dela, todo mundo faça a unha. E que o povo ache até que é "questão de higiene", como dizem por aí (e que me mata: cutícula protege e unha curta não acumula sujeira, mas enfim). 

O que eu queria muito mesmo é que, nesse período da vida dela em que está morando em outra cidade, em que tem de pegar avião pra voltar pra casa, em que o tempo que ela tem com as pessoas que ama é limitado, ela pudesse optar por fazer ou deixar de fazer as unhas sem se sentir "descuidada", e que ninguém tivesse nada a ver com isso. 

terça-feira, 1 de março de 2016

Filosofia de ponto de ônibus

O ponto de ônibus é pertinho da minha casa e eu sei os horários em que os meus passam. No entanto, às vezes o ônibus que devia chegar naquela hora é engolido por um buraco negro e eu fico 10, 15, 20 minutos esperando o próximo.

O que não é problema. Quem tem leitor eletrônico (e sai cedo de casa) não se aperta. Saco o meu e avanço uns capítulos enquanto o “ons" (como nós mineiros dizemos) não chega.

Hoje fiquei pensando em como essa situação e a vida são parecidas. Imagine que os ônibus são oportunidades: pessoas interessantes, vagas de emprego, convites para eventos, concursos públicos. A gente sabe mais ou menos o lugar e a hora em que eles vão aparecer, mas na prática nada é garantido. Às vezes aquela viagem, aquele presente, aquele resultado simplesmente não dão as caras.

Quando eu era mais jovem, ficava muito irritada quando o ônibus demorava a passar. Só faltava sapatear de raiva. Hoje, mais experiente e madura (e com um Kindle debaixo do braço), não me aflijo.

É claro que é mais difícil aplicar essa lição em relação às oportunidades. Afinal, a gente quer muito o estágio, o curso, o aumento. A gente chegou na hora certa. A gente está no lugar certo. Mas as oportunidades, como os ônibus, são caprichosas e volúveis. Às vezes elas vêm quando deviam. Às vezes não. O problema é que, no ponto, esperamos minutos. Na vida, são semanas, meses, anos.

Mas isso não é motivo para desânimo. Tanto o ponto quanto a vida têm uma grande vantagem: se perdermos aquele ônibus, aquela oportunidade, uma hora passa outro. Pode demorar, e pode ser uma linha parecida que leva a gente para perto de onde queríamos chegar, e não exatamente para onde queríamos chegar. Mas que passa, passa.