quinta-feira, 30 de junho de 2016

Homenagem aos sapatos confortáveis

Durante muito tempo na vida eu achei que era muito normal sapatos apertarem, machucarem, pressionarem, espremerem. Eles eram bonitos e eu queria ser bonita e achava isso muito normal. 

Um dia vi a luz: eu não precisa ser bonita (até podia, mas não precisava). Logo, também não precisava usar sapatos bonitos e machucadores. Nunca. 

Minha vida mudou (mesmo). Meu humor melhorou. Eu vou a pé pra qualquer lado, agora. Eu pego ônibus sem pensar duas vezes, agora. Eu não me preocupo se meu salto vai afundar na grama ou agarrar em um buraco da calçada ou me fazer tropeçar, agora. E no trabalho, quando preciso chegar ao fim de corredores longos arrastando cadeiras ou carregando banners, eu  nem pisco o olho.

Isso ficou tão normal que eu até me esqueço da libertação que foi. Só me lembro quando uma colega pergunta: "Mas você nunca usa salto? Isso não é radical?" E eu fico sem palavras pra responder. Porque eu nem concebo um mundo onde eu me submeta a incômodos outros do que os absolutamente necessários. Porque hoje me parece tão óbvio que sapatos apertarem, machucarem, pressionarem e espremerem não é normal. Porque já fui essa colega.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

O novo projeto

Diz a turma da psicologia positiva que, para ser feliz, a gente tem que eliminar ou gerenciar o que nos deixa infelizes (dívidas, doenças, relacionamentos ruins, trabalho chato), mas não é só isso não. Temos também que fazer o que nos nos dê um sentimento de engajamento e propósito. E quanto mais tempo passarmos em "flow" (aquela situação em que estamos tão entretidos, usando nossas habilidades no nível máximo, que nem vemos o tempo passar), melhor.

Apesar de eu ter resmungado muito a respeito dos meus estudos para o concurso (não tenho tempo! não me deram férias! não sei mais estudar!), eu gosto bastante de ler e aprender (e quem não gosta, quando o assunto interessa?). Então decidi que, em vez de continuar absorvendo casualmente o que em chama a atenção, vou escolher um tema e fazer um plano, com horários marcados, metas a alcançar e bonitas planilhas. 


Vamos ver quanto tempo dura essa disposição.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Pego mas não me apego

Estou indo trabalhar achando que são meus últimos dias no setor, no prédio e na instituição. Caminho lentamente pelos corredores, tentando sentir a melancolia do adeus. E quer saber? Tô nem aí.

Tem gente que geme, chora e se descabela quando termina um curso, troca de emprego ou faz uma mudança. Fiquei pensando no meu passado e percebi que passei por três escolas, duas faculdades, três cidades e vários grupos de colegas (de estudo, de trabalho) sem derramar uma lágrima, soltar um suspiro ou lançar um olhar pra trás.

Os (poucos e bons) amigos que fiz continuaram em minha vida mesmo depois que a convivência obrigatória terminou. As outras pessoas? Ficarei feliz em reencontrá-las (ok, nem todas), mas se não acontecer, não vou me incomodar nem um pouquinho.

Os fatos indicam um coração perigosamente peludo, mas acho que é uma boa característica para quem gosta de ficar se mudando por aí. Talvez seja até uma das razões pelas quais eu gosto de me mudar por aí! Afinal, se toda vez que eu deixasse pra trás pessoas e lugares familiares eu sofresse horrivelmente, provavelmente estaria morando em Minas Gerais até hoje.

Na casa dos meus pais.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

As vantagens dos 40

Mal acabei de fazer 40 e já estou vendo grandes vantagens. Deve ser porque fiz concurso e estou convivendo com gente de diversas idades, inclusive os recém-formados. 

É um pessoal que vai sair pela primeira vez da casa dos pais. Alguns ficarão apertados até o primeiro salário entrar. Outros terão que comprar utensílios e móveis. Vários se preocupam com o que morar fora fará com seus relacionamentos. E os atrasos no pagamento no exterior que têm ocorrido no exterior deixam a turma de cabelo em pé. 

Acho fantástico um pessoal tão novo já estar entrando em uma carreira tão legal. Por outro lado, do alto dos meus 40, tudo é muito mais fácil. Estou casada e acostumada a morar longe da família; minha casa já está montada; tenho economias, e portanto não me preocupo com alugueis atrasados ou em ter de pagar adiantado as consultas no plano de saúde internacional. 

É claro que não é todo mundo que tem 40 que está bem de vida - em todos os sentidos -, mas a tendência é que as pessoas acumulem dinheiro, bens e experiências. Minha sensação é que a gente vai aprendendo as regras do jogo, acumulando fichas, descobrindo as estratégias que funcionam... e tudo vai ficando mais simples. 

O truque, é claro, é tentar só acumular coisas boas. Para quê ficar remoendo brigas, fracassos e conflitos? Não é muito melhor considerar os problemas do passado como uma forma de aprendizagem e focar em boas lembranças, momentos de carinho e pequenas (e grandes) vitórias? E isso também serve para os bens materiais, né. 

Em suma, desapego sempre.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Vitória no brechó

Hoje saí mais cedo do que eu esperava de um compromisso e, enquanto matava o tempo, vi a placa de um brechó desconhecido e decidi investigar. 

Se da outra vez eu saí do Peça Rara com as mãos abanando, dessa vez eu deixei o Rouparia com uma sacolinha recheada: seis peças no total. 

Se a pessoa não sabe o que quer, brechó deve dar um pouco de pânico porque, afinal, as possibilidades são praticamente ilimitadas. Tem roupa de tudo quanto é cor e modelo, e não tem uma coleção ou um lançamento pra direcionar as escolhas. Mas eu, que já sei qual é o meu estilo, procuro basicamente calças e camisas nas minhas cores preferidas, então fica tudo mais fácil. E como Brasília é uma cidade de mulheres profissionais, o que não falta são roupas adultas de etiquetas idem.  

Não faço questão de marca, mas sou obrigada a concordar com minha mãe em um ponto: em lojas mais carinhas a gente tem mais chance de encontrar tecidos naturais e estampas diferentes. Comprei três camisas, todas 100% algodão, todas com padronagens bacanas, e uma é tão macia que estou com vontade de transformar em pijama.

Já nas calças eu posso ter me excedido: eu tinha quatro calças pretas para trabalhar, e agora tenho seis calças pretas para trabalhar. Os modelos são ligeiramente diferentes, mas, no fim das contas, são calças pretas para trabalhar. É bem verdade que duas das calças que eu tinha estavam meio largas (minha mãe disse que eu tinha de aposentá-las), então talvez seja só questão de reorganizar o armário. Já a terceira calça não é para trabalhar, é para brincar.

Mas o povo quer é ver, né? Aí vão as minhas aquisições. 


E o povo quer é saber: quanto é que ficou? Sei que é complicado falar de dinheiro, e sempre tem gente que vai achar caro e gente que vai achar barato, mas para ser objetiva na defesa da vida simples e do minimalismo, tenho de fornecer os dados, né?

Então eu conto: as seis peças ficaram por 270 reais. Na hora de pegar, a atendente simpática disse que, no cacau, tinha 30% de desconto. Não tive dúvida: saí pra sacar dinheiro (por sorte tinha banco pertinho) e no fim das contas paguei 190 dinheiros.  

Fiquei contente e meu bolso também.