segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Caso da Declaração

Na semana passada declarei ao Maridinho que, quando me oferecessem o Prêmio Nobel da Paz, eu ia recusar dizendo que não era da mesma laia do Kissinger e do Arafat.

Ele nem piscou o olho.

Já está acostumado com a minha megalomania.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Caso da Senhoura

Ultimamente tenho sido chamada de senhora. O que é muito legal e uma marca de reconhecimento aos meus anos e à minha experiência, mas sempre me surpreende. Fico dando risadinhas secretas, pensando como é possível que as pessoas não percebam a criançona que eu sou.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Caso do Machismo na Literatura

Hoje li o "Travessuras da Menina Má", do Vargas Llosa. (É, hoje. Eu posso ser baixinha, fracota, não ter condicionamento físico nem consciência corporal, mas ainda não encontrei alguém que lesse mais rápido que eu. Ha.)

O Mariozinho é um bom escritor. Me diverti durante umas horas com ele, e fiquei querendo saber como a história ia terminar. No livro, o narrador conta, em primeira pessoa, suas aventuras e desventuras com o amor de sua vida - a menina má -, com quem ele se encontra e desencontra tendo como pano de fundo da Europa e do Peru durante as décadas de 60, 70 e 80.

Só que o "amor de sua vida" não está nem aí pra ele. Ela diz e demonstra, repetidas vezes, que não o ama e que mal gosta dele. Na verdade, ela o procura só quando está encrencada e precisa de ajuda.

Ou seja, trata-se de uma história típica de amor obsessivo. Em outras palavras, ela fala mil vezes "não" e ele se recusa a escutar, entender ou acreditar. Porque mulher não tem querer, né? Ou não sabe o que realmente quer.

A cena da primeira vez em que eles fazem amor é constrangedora: ela desinteressada e passiva, ele em êxtase. Mas a experiência dela não importa - o que importa é que ele esteja feliz, não é mesmo?

Isso não é romântico. É machista. É coisa de filmes e livros em que o "herói" beija a mulher à força e aí, finalmente, ela cede. Porque ela não sabia que, no fundo, ela queria, entende?

No fim das contas, o machismo é ruim pra todo mundo. O protagonista joga a vida fora por causa da menina má.

Bem-feito.

(Obs: toda vez que o hômi reencontra a moça, a primeira coisa que ele diz pra ela é que ela está linda. Que nunca esteve tão bonita. Que está mais linda do que antes. Que ele tinha medo de que ela não estivesse mais bonita. E é claro que, nos períodos em que por alguma razão ela não está linda, ele não quer encostar nela. Típico.)

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Caso da Reflexão sobre os Comentários 2

Fui fazer um curso na capital, e quando voltei muita gente tinha se manifestado. Então eu vou dar opinião também. Que é simplesmente a minha opinião, e portanto não tem mais valor do que a de ninguém, tá?

Acho que existem dois focos que estão misturados aqui. Se pensarmos que o mundo é assim mesmo e que é mais prático se adaptar a ele, é claro que o melhor é tentar tirar o melhor da situação, reduzindo um pouco os cuidados de beleza e obedecedendo às regras muito difundidas (tipo depilação). Aí a idéia é "ser livre" ou "ser feliz", seguindo mais ou menos as regras do jogo. E é uma escolha válida, claro.

Mas existe um outro foco, e é nele que eu estou me concentrando. Porque as mulheres são 70% dos pobres do mundo, recebem salários menores pelo mesmo trabalho, são vítimas de violência doméstica e estupro; as carreiras tipicamente femininas (como enfermagem e ensino)são desvalorizadas; no Brasil o aborto não é legal, diversas religiões são contra os métodos anticoncepcionais e que quem sofre as conseqüências disso são as mulheres.

Nesse foco eu vejo uma co-relação entre a importância dada à aparência feminina, as restrições feitas pela sociedade em relação aos nossos corpos (regime/ausência de pelos/salto alto), a rivalidade que esses aspectos criam entre nós e aqueles problemas ali atrás.

É claro que eu posso estar redondamente enganada. É claro que tem muitas outras maneiras de ser feminista. É claro que eu não sou legal/esperta/humanista porque não uso colarzinho e que quem usa colarzinho é boba/feia/chata. Sim, eu me depilo, embora com menos freqüência e aplicação do que antes; e sim, eu aprecio o que é belo.

Mas meu novo lema é: menos beleza, mais justiça.

domingo, 2 de maio de 2010

O Caso da Reflexão sobre os Comentários

O último post recebeu um monte de comentários interessantes. As roupas unissex levaram umas torcidas de nariz. E foram muito identificadas como "roupa de homem".

De fato elas acabam sendo. As mulheres adotaram um monte de peças do guarda-roupa masculino, e os homens não quiseram nenhuma das nossas (fora algumas exceções como o Maridão da Lúcia, que usa saia). A razão me parece óbvia - quem quer se vestir como esses seres de segunda classe, as mulheres?

Mas a minha intenção, ao preferir as roupas unissex, não foi eliminar as supostas características femininas do meu visual. Foi, primeiro, fazer uma declaração política, no sentido "não sou enfeite". A maior parte das roupas "de moça" são justas e/ou curtas e/ou decotadas; ornamentadas; coloridas. Os acessórios são essencialmente estéticos e só eventualmente úteis. Em suma, são peças que, na minha opinião, estavam dizendo "olha como a minha aparência é importante. Veja como não me importo de empregar tempo e recursos para atingir esse visual harmonioso."

O segundo objetivo era ganhar tempo e mobilidade, mesmo. Roupas unissex, cores neutras, sapatos básicos e confortáveis combinam todos entre si. Eu fico pronta num instante. Mala é questão de minutos. Caminhar mais que o programado não me detona os pés. Se eu precisar me abaixar, pegar alguma coisa do chão, fugir de um incêndio, saia justa e sapato alto não vão me dificultar a vida.

E, sinceridade? Minhas roupas são unissex por definição (calça, camisa, sapato baixo), mas não no sentido que um homem mais ou menos do meu tamanho as usaria sem piscar o olho. Minhas calças têm cintura baixa e, obviamente, lugar para os quadris; minhas camisas são acinturadas, ou ficam, quando eu as coloco para dentro; meus sapatos de trabalho têm fivelinha ou lacinho (procurei sem e não achei).

No caso das roupas apropriadas para o calor, eu admito que a gente tem mais opções que os moços. Só que as alcinhas, saias, shorts e rasteiras vêm com um preço, que não é baixo: para expôr os nossos membros por aí, pele sem pelos e unhas feitas, fazendo favor. Eu trocava na hora o privilégio das blusinhas e vestidos pelo privilégio de estar pronto para ir ao clube a qualquer momento, sem preocupar com depilação/gordurinhas. Ainda que esse segundo privilégio venha acompanhado de uns momentos calorentos em festas e no trabalho.

Aí entra uma questão de ponto de vista: eu já achei a maior vantagem ter muitas opções de modelito. Hoje não acho mais, porque vejo que junto vem um monte de coisas não tão legais. Como o consumo, a competição, o excesso de importância da aparência, a existência de inúmeros códigos de comportamento (um homem vai a um casamento de manhã, de tarde e de noite de terno. No máximo muda a cor. Uma mulher precisa de roupas e acessórios completamente diferentes para cada uma dessas ocasiões).

O que nos leva a outra discussão: até que ponto expressamos nossa individualidade com o que a gente usa? Principalmente porque a gente mora no Brasil e qualquer visual "fora do padrão" gera olhares tortos (vide o Maridão da Lúcia)? Folheando as revistas femininas (e eu já as folheei muitíssimo), a gente mal encontra meia dúzia de possibilidades: a sensual, a clássica, a romântica, a rebelde (= metais e couro preto), a poderosa (que é a sensual rica) e... e o que mais, mesmo?

Sou toda ouvidos.