Saí do Brasil em julho de 2019. Antes disso, fui a Belo Horizonte me despedir de meus pais e minha irmã mais velha e passei uns dias por lá.
Planos de voltar ao Brasil? Tenho sim, em 2029, quando completo 10 anos de trabalho no exterior e sou obrigada a passar pelo menos um ano em Brasília. Antes disso? Nem a passeio, obrigada.
E a razão é muito simples: eu tenho 30 dias de férias só. Meus pais são aposentados; tios e tias, também. Minha irmã tem um montão de folgas. Faz muito mais sentido eles irem me visitar, em um lugar que eles não conhecem, ou conhecem muito pouco, e a gente ir passear, do que eu ir para o Brasil, um país no qual morei décadas.
Sim, terei sempre um belo quarto de hóspedes à espera da família.
Infelizmente, minha mãe não gostou da ideia. Ela já começou a perguntar "quando é que vou vê-la". Tentei vencê-la pela força dos meus argumentos racionais e ela não discordou ao telefone, mas uma irmã me contou que ela está achando um absurdo que eu fique tanto tempo longe.
Minha avó também era assim. Se não fôssemos à casa dela, ela não ficava satisfeita. Mas minha mãe ainda está muito nova para essas coisas. Ela é muito ativa, está bem de saúde e viaja bastante (ou viajava, no mundo pré-pandemia).
Eu entendo que minha mãe não fique feliz com minha ausência. Não posso querer que ela aplauda todas as minhas decisões (até queria, mas não rola). Tenho duas opções: voltar ao Brasil para deixá-la contente ou conviver com sua desaprovação nesse ponto (sem briga nem nada, só uns suspiros fundos por parte dela).
Falei que queria ter um armário no quarto de hóspedes para ela deixar roupas entre uma viagem e outra (como um casaco de frio), e ela se indignou. "Imagina, não faz sentido isso, se você tiver um segundo armário tem de ser para você mesma".
Mal sabe minha mãe que espero que ela me visite várias vezes por ano. Não aqui, que é o país mais distante do Brasil e que, de qualquer jeito, está em lockdown. Mas no futuro posto, com certeza. Vai ser muito mais perto (até porque não tem como ser mais distante).