sábado, 26 de setembro de 2020

Minduim

Há mil anos eu não fazia um brigadeiro de panela (micro-ondas taí pra isso, né), mas voltei ao fogão por uma receita de brigadeiro de paçoca. Filipinas tem paçoca, sim senhor! Chama "peanut bar", tem cacau em pó nos ingredientes e é gostoso que dói. 

A receita leva 50 gramas de chocolate branco e 6 paçoquinhas. Beleza. O granulado é substituído por amendoim salgado triturado, e aí é que surgiu o problema. 

O amendoim que eu tinha comprado era temperado com alho. Tudo bem, imaginei - volto ao mercado para comprar o que eu preciso. Só que não tem!

Cinco marcas diferentes, cinco "classic peanuts", todos com alho. Aparentemente, aqui nas Filipinas ninguém gosta de um amendoim simplesinho. Sabores diversos há: mel, pimenta, temperado. Tem pra todo gosto, menos o mais básico. 

Resolvi fazendo uma farofinha de um mix de oleagianosas que uso para cookies. Ficou bom, mas fugiu um pouco da ideia original. 

O brigadeiro em si ficou maravilhoso: brilhante, cremoso, uma lindeza. Estou tentada a abandonar definitivamente o micro-ondas - e o Nescau local, que se chama Milo e parece Toddy.

sábado, 19 de setembro de 2020

Originais x cópias x genéricos

Existem os originais (com seus preços desmedidos), as cópias (com sua qualidade dúbia e sua intrínseca cafonice) e os "inspired" (que eu chamo de genéricos).

Estou falando de objetos em geral, principalmente itens de vestuário (bolsas, roupas, sapatos). 

Na internet, vi calorosas defesas dos direitos do designer. Se ele não for devidamente remunerado, que incentivo terá para criar? Logo, falsificações deveriam ser severamente combatidas, o que faz certo sentido. Mas não demorei para perceber que marcas caras, como as Arezzos da vida, copiam descaradamente os lançamentos europeus (sem dar crédito algum, claro) e vendem seus artigos a preços elevados (não tão exorbitantes quanto os originais, mas bem longe do alcance da maioria da população). Ou seja, as próprias corporações imitam umas às outras na cara dura. 

Aí, faz como? A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. Boas soluções de design não deviam ficar restritas a uma parcela mínima da população (os ricos), nem financiar crime organizado e poluir o meio ambiente (as falsificações). 

Então vamos de genéricos, uai! Boas ideias reproduzidas por outros fabricantes, sem a horrorosa logomarca. Meu All Star não é da Converse e meus óculos aviador não são da Ray-Ban. Gosto do estilo, mas não faço propaganda gratuita por aí. E paguei o preço normal para um par de tênis de lona e para óculos escuros sem grau. 

* * * 

Pirataria cultural: aprovo. Cabe aí uma longa discussão sobre autores e editoras/produtoras de menor porte. Desses eu acho que vale a pena adquirir. 

* * * 

Eu, Etiqueta

            Carlos Drummond de Andrade, 1984


Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome… estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É doce estar na moda, ainda que a moda

seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

tão diverso de outros, tão mim-mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comprazo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou – vê lá – anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam,

e cada gesto, cada olhar,

cada vinco da roupa

resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido,

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrina me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Ceguinha no more

Os oclinhos de leitura me contentaram por algum tempo, mas a alegria durou pouco porque 1) o grau não é exatamente o certo (comprei na farmácia por 2 dólares, né); 2) passou de um palmo de distância, o mundo fica embaçado. Então decidi ir à oftalmologista. 

Mil cuidados, um paciente de cada vez na clínica, face shield (que eu tive de tirar para fazer os exames, claro) e máscara. Continuo com três problemas de vista (miopia, hipermetropia, presbiopia) e tudo baixinho (a vista cansada é a mais alta, 1.5 graus). Dessa vez me conformei em fazer óculos bifocais. 

Literalmente. Saí da clínica com os óculos encomendados. Quem cuidou disso foi a médica assistente. Sacou um catálogo e foi me mostrando as opções. Segundo ela, as lentes atuais são muito confortáveis e as pessoas se adaptam em poucos dias. Veremos! (Literalmente.)

Como sou esperta, tinha levado os óculos comprados no ano passado (aqueles que mandei fazer só para miopia e que, portanto, usei bem pouco). Ou seja, a bonita armação pôde ser aproveitada. 

Hoje recebi alguns pares de lentes de contato descartáveis para testar. O curioso é que são lentes de contato progressivas! Modernidades, gente, modernidades. Aparentemente, só não vai corrigir o astigmatismo.   

Ou seja, não tenho mais desculpa: hei de voltar a enxergar como uma águia. 

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Férias em casa

O tempo voou e as férias chegaram. Ueba!

Férias já foram sinônimo de viagem, mas em 2020 não está rolando. Além de tudo quanto é país estar fechado para as Filipinas, as próprias Filipinas estão fechadas para mim. Até que posso sair da capital, com diversas autorizações, mas prefiro não arriscar. Sabe-se lá os efeitos colaterais que o coronavírus provocaria no meu único pulmão. 

Mas não seja por isso. Pretendo me divertir loucamente vendo seriados e filmes (não contente com Netflix e Amazon Prime, agora tenho HBO Go), lendo livros variados (sendo que estou tentada a organizar tematicamente minha biblioteca de livros digitais e apagar o que não presta. É uma tarefa hercúlea. Veremos), procurando uns cursos on-line para estudar (o que sempre me interessa) e fazendo travessuras na cozinha com o Leo (somos chefs iniciantes, mas a internet está aí pra isso). E tomando uns vinhos: é fácil encontrar neozelandeses e sul-africanos no supemercado. Não sei se são bons, só sei que gosto!

Também quero dar uns passeios pela cidade. A pé, de máscara, e levando o face shield na sacolinha para quando quiser entrar em um estabelecimento. Manila é plana, o que é ótimo, e muitíssimo quente, o que não é tão bom. A sensação térmica chega aos 40 fácil. Então, vamos fazer o que aprendemos em Singapura (onde fomos a um parque lindíssimo e... deserto. Depois de uns minutos, descobrimos a razão: era onze da manhã e basicamente cozinhamos). Na rua, só se for cedinho ou no fim da tarde.   

Vai ser ótimo!