Um lema da minha vida, aprendido com minha mamãe, é "Quem guarda tem". Adoro sacar triunfante uma embalagem para embrulhar um presente ou uma caneta marcadora para disfarçar um arranhão.
Dito isso, eu sou minimalista. Então só guardo o que tenho muita certeza de que realmente vou usar um dia. Se não for muito grande. E nem muito fácil de repor. E que eu goste muito.
Tipo um par de botinhas forradas, de sola alta de borracha, que comprei para uma viagem onde ia encarar muito frio e talvez neve. Isso foi em 2009. Nunca mais usei. Mas também não me desfiz, porque tinha confiança e fé que um dia eu iria voltar a um lugar tão frio quanto.
11 anos se passaram. Pessoa está em quarentena. Pessoa está sonhando com o próximo endereço (2022 na melhor das hipóteses, mas mimdeixa). Pessoa vê vídeos de países frios. Pessoa vê vídeos de roupas para países frios! Pessoa se lembra que tem botinhas forradas. Pessoa saca triunfante as botinhas forradas. Pessoa exclama: "Quem guarda tem!".
Pessoa sai andando pela casa toda-toda, sem se dar conta de que a borracha da sola alta está em decomposição. Pessoa deixa rastro de destruição na forma de incontáveis grumos de borracha preta que grudam implacavelmente no chão de madeira do apartamento alugado, mesmo com a dedicada aplicação do aspirador.
O Leo quase teve um troço com a sujeira. Eu fiquei indignada com o produto. Botas com míseros 11 anos de idade e três meses cozinhando em um contêiner se desfazem assim? Isso só pode ser obsolescência programada!
Quanto à limpeza, não me abalei. Eu lembrava da dica que a Carol Z. deu aqui no blog para recuperar a borracha de trás do Kindle quando ela fica grudenta: álcool isopropílico. Saquei triunfante a garrafinha (quem guarda tem!) e eliminei as manchas horrorosas em dois tempos.
As botinhas foram imediatamente para o lixo, sem possibilidade de resgate, pois as solas são de um formato muito específico. Suspirei vendo meus sonhos de um futuro frio e distante temporariamente desfeito e...
Saquei triunfante um segundo par de botinhas forradas, de sola alta de borracha, essas compradas no sabático, quando fomos à Finlândia e as primeiras tinham ficado no Brasil.
Termino esse post com mais um ditado, esse de meu pai: "Quem tem dois tem um; quem tem um não tem nenhum".
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Juro que botinhas forradas de sola alta de borracha são o único item aleatório que possuo (possuía) em duplicata. Sim, eu devia ter me livrado de um deles na última mudança. Mas veja bem, quem tem dois...