sexta-feira, 31 de julho de 2020

A ceguinha

Até os 20 e poucos, tive muitos graus de miopia e várias lentes de contato. Operei, passei a enxergar como uma águia e vivi feliz para sempre... ou até ano passado. Da última vez que fui à oftalmologista, ela me passou uma receita de óculos bizarra: de um único problema de vista passei a ter três. Agora não sofro só de miopia, mas de miopia, astigmatismo E vista cansada. Tudo em grauzinhos pequenos, mas suficientes para atrapalhar a vida.  

E atrapalhando eles estão. Não mandei fazer os óculos bifocais que a olfta recomendou e fui levando. Aí  cometi um erro idiota no trabalho, uns dias depois fiz de novo - e concluí que era um tumor cerebral. Ou dificuldade em enxergar. Como esse último é mais fácil de resolver, decidi que ia ficar com ele mesmo. 

O ideal, claro, seria voltar a um oftalmologista e pegar uma prescrição nova. Mas já que estamos em tempo de pandemia, me contentei em ir a uma farmácia e comprar oclinhos de leitura.

Foi uma beleza. Agora consigo ver letrinhas. O problema é que a lente para vista cansada ajuda a enxerga de perto, mas embaça todo o resto. O jeito é equilibrá-los na ponta do nariz e olhar por cima deles quando é caso de ver o mundo exterior. Exatamente como mamãe faz...

Estou achando que minha dificuldade com o russo, no fim de 2018, teve a ver (na verdade, a não ver) com o tanto que a professora escrevia no quadro. Passei a entender o que acontece com crianças que são levadas ao oftalmologista pela primeira vez quando suas notas caem sem explicação. É bizarro, mas a gente não percebe que não está enxergando bem. 

Só sente que tem de fazer esforço para entender o quadro-negro e copiar - e que os colegas já terminaram enquanto você está lá tentando extrair sentido do alfabeto cirílico. 

domingo, 5 de julho de 2020

Aniversário de um ano!

Hoje faz um ano que saímos do Brasil. Os meses passaram rápido, mas quanta coisa aconteceu! 

Despachar a mudança + entregar o apartamento + embarcar para Belo Horizonte no mesmo dia. Dizer tchau para a família e os amigos. Voar para o Canadá para uns dias de férias. Chegar a Manila e começar a trabalhar no dia seguinte. Colegas novos, chefes novos, funções novas. Outra língua, outros costumes. Morar em dois hotéis e um apartamento até nos mudarmos para o lar definitivo. Receber a mudança. Organizar um festival de cinema e um mini-campeonato de futebol. Julgar um concurso de fantasias em uma escola infantil. Viajar para Taipei, Seul e Boracay. Receber um upgrade do quarto com direito a "sunset cocktail" todo dia. Passar o natal com os colegas que foram virando amigos. Passar o ano-novo com os colegas que viraram amigos. Descobrir uma dentista ótima do lado de casa. Fazer planos de férias e de trabalho e levar nas fuças pandemia, quarentena e cancelamento de voos. Ajudar muitos brasileiros a embarcarem. Fretar um voo para resgatar os que estavam nas ilhas e não tinham como chegar à capital. Despachá-los para o Brasil e dar um suspiro de alívio. Trabalhar em casa. Trabalhar de manhã em casa e à tarde no escritório. Completar três meses de isolamento. Ufa! 

Sei que vou me lembrar deste ano com muito carinho no futuro. As aflições e perrenguinhos serão esquecidos e só vão ficar as descobertas e alegrias. Não foi um período fácil, mas valeu a pena.