quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Para beber vinho na xícara de chá, primeiro você tem de jogar o chá fora

Estou prontinha para embarcar nos projetos de 2016. Mas, antes de começar coisas novas, quero fechar o ciclo de 2015 e tirar da casa, do armário e do computador aquilo de que não preciso mais.

Parece óbvio, mas nem é. Às vezes a gente vai acumulando objetos e restos de atividades que perderam a importância sem nem perceber.

(O que me faz notar outra vantagem de viver em ambientes minimalistas: os excessos saltam aos olhos, em vez de ficarem misturados - e camuflados - pelo monte de outras coisas que a gente já tem.)
Já organizei os materiais de estudo. Um monte de páginas de caderno foram arrancadas, os resumos que eu costumava grudar na parede foram recolhidos, e foi tudo pro lixo. O processo foi um pouco difícil, confesso. Eu não queria me livrar das minhas anotações, sabe? Estava rolando toda uma afeição. Mas quem aí não guardou os cadernos e xerox da faculdade por anos?

Outro desapego necessário foi no navegador de internet. Ele estava cheio de pastas de favoritos com nomes como "Brasil", "Apartamento", "Empresas de Mudança", "Mobília" e até "Carro" (a gente pesquisou antes de decidir não comprar). Pois bem: já estou no Brasil, já tenho apartamento, já fiz a mudança e já mobiliei a casa. Está na hora de apagar. O que eu reluto um pouco em fazer, porque a minha sensação é que apagar as pastas = apagar o passado, o que é claro que não é verdade.

Para completar, vou enfrentar o armário. Como contei em "A tentação das roupinhas gratuitas", ganhei um monte de roupa quando cheguei ao Brasil. Trouxe tudo pra Brasília - quem sabe o que eu ia querer vestir nessa nova etapa da vida? Pois bem, até tentei usar as saias longas estampadas e os vestidos coloridos que minha mãe me deu, mas não rolou. Gosto mesmo é de calça, camisa e short - e de preto, branco, azul e vermelho.

Diz a lenda que tem um ditado japonês que fala: "Para beber vinho na xícara de chá, primeiro você tem de jogar o chá fora." Faz sentido se a gente pensar que saquê é um vinho de arroz, e que as xícaras de chá japonesas não têm necessariamente asas. Por isso, desconfio que o ditado seja verdadeiro.

Acho que ele quer dizer que, para abrir espaço em nossas vidas para o novo, o jeito é abrir mão do velho. Se não desapegarmos do chá, não vamos tomar saquê nunca. Ou vamos beber saquê misturado com chá, o que não me parece coisa boa.

As anotações, os favoritos e as roupas estampadas são o chá. Vou deixar eles irem para a cachacinha oriental entrar.

Esses japoneses sabem das coisas. 

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