domingo, 30 de novembro de 2025

O ano acabô, gente

Incrível: segunda-feira já é dezembro. 2025 está no finzinho. Quem fez fez; quem não fez pode correr pra ver se ainda faz, mas por que deixar para amanhã o que você pode deixar pro ano que vem?

A palavra do ano foi "aceitação". Passei a aceitar mais que o mundo é assim, que as pessoas são assim, que muito está fora do meu controle (especialmente no trabalho) e é assim. Que eu sou assim. É um pouco Gabriela? ("Eu nasci assim/eu cresci assim/vou ser sempre assim.") Sim. Buscar, perseguir, ambicionar, correr atrás tem seu valor, mas uma hora dá, não dá? Até porque a vida muda a nossa vida com frequência, sem nem perguntar. Vem embutido no programa. Ainda mais no meu, que escolhi uma carreira...assim. 

A frase do ano foi  "Bora viajar?". Em janeiro fui para Brescia, na Itália, para fugir do escuro do inverno em Zurique, e para Atenas, encontrar irmã mais velha e família. Em março, à Málaga e a Madri, de onde saía o melhor voo para Belo Horizonte, onde a mesma irmã deu um festão de 50 anos. No fim de abril, Roma (de novo, de onde saía o melhor voo, dessa vez pra Xangai). A Etihad avacalhou as passagens e acabei passando o aniversário em Abu Dhabi em vez de com os amigos, mas foi legal (hotel com prainha e mais um país pra lista) e não atrapalhou em nada as duas semanas no Japão. Em maio, uns diazinhos com irmã mais velha e marido em Avignon, na França. Em julho, meu afilhado de 14 anos veio nos visitar e passou duas semanas aproveitando o verão na Suíça. Em setembro, o destino foi Rimini, na Itália, e em Amsterdã, para ver a Lu, a Lê e a Lari. Em outubro, um fim-de-semana na Eurodisney decorada para Halloween com a Fê, amiga que fez Disney College Program comigo lá em 2002, e uma semana em Londres, Cardiff e Winchester. 

A decepção literária do ano foi "Rose Field", do Philip Pullman. Phil é o autor da sensacional trilogia de fantasia "As Fronteiras do Universo" (His Dark Materials): A Bússola Dourada,  A Faca Sutil e a Luneta Âmbar. Pois bem, quase 20 anos depois ele decidiu escrever outra trilogia para complementar a primeira, com resultados no mínimo duvidosos. Ele publicou La Belle Sauvage em 2017, The Secret Commonwealth em 2019 e eu fiquei esperando impacientemente até 2025 para que ele lançasse The Rose Field, o último livro da sextologia, cuja função seria reabilitar magicamente os dois anteriores. Infelizmente, isso não aconteceu. The Rose Field é longo, chato, detalhista quando não precisa e, pior de tudo, avacalha os princípios da trilogia original (exatamente como Gladiator 2 fez com o primeiro Gladiador. Só que As Fronteiras do Universo me é muito mais querido que Gladiador, então eu senti muito mais). 

Em compensação, este ano fiz duas descobertas literárias: Tana French, que apesar do nome é irlandesa, e escreve policiais psicológicos interessantíssimos; e R. F. Kuang, escritora sino-americana jovem e produtiva (ela não tem nem 30 anos e já publicou seis livros, em diferentes estilos). Fico contentíssima com o fato de que elas ainda têm muitos anos de carreira pela frente. Da TF, sugiro começar com O Bosque da Memória (In the woods); da RFK, meu preferido é Babel - Uma História Arcana. 

Para 2025 terminar de verdade ainda temos dezembro pela frente, de fato. Mas vai passar voando: três semaninhas e estaremos quase no Natal. Aí emenda com o Ano-Novo... e já era.  

Suíça? Que nada. Shiragawa-go, a Suíça... do Japão

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O saga do vestidinho florido

Eu tento ter só roupas confortáveis e (que eu ache) bonitas, mas mesmo assim tenho umas preferidas, e essas eu uso à exaustão. Durante anos. Até a roupa acabar. 

Pois bem, eu tinha um vestidinho florido que pretendia usar até acabar. Ele era amplo, longo, lindo, não amassava (porque já é amassado) e, o mais importante, tinha BOLSOS (nós mulheres somos muito privadas de bolsos, então quando a roupa vem com eles eu fico deslumbrada). 

No entanto, fui privada da intenção de usá-lo até acabar pelo destino. Um belo dia, voltando de viagem, coloquei o vestidinho florido na tampa de fora da mala, porque ele estava usado, e embarquei em um voo da EasyJet. Grande erro. O vestidinho florido desapareceu. 

Decidi reclamar com a EasyJet, o que é uma luta. É difícil encontrar os contatos, a plataforma de reclamações, acessar as respostas, tudo. Mas achei que valia a pena porque, na minha cabecinha iludida, a EasyJet ia pegar as gravações das áreas de bagagem, descobrir quem tinha surrupiado o vestidinho florido, exigir de volta e me entregar. 

Claro que isso não aconteceu. Depois de um longo processo de comprovação de propriedade do vestidinho florido (que incluiu fotos minhas usando o vestidinho florido e durante o qual tentei bravamente recuperar o recibo da compra no site filipino da Uniqlo, com zero sucesso, apesar da grande boa vontade deles, e tive que enviar para a EasyJet comprovantes de compras online, sendo que justamente o do vestidinho florido não tinha foto), a EasyJet não me entregou o vestidinho florido mas, farta da minha insistência, ofereceu um tanto de milhas ou vinte dólares. 

Enxuguei uma lágrima e aceitei os vinte dólares, porque as milhas oferecidas não poderiam ser usadas no site deles, mas apenas em compras telefônicas (?). E me lancei ao mar dos brechós digitais, porque o vestidinho florido era uma edição especial que a Uniqlo não vendia mais. 

Depois de muito buscar, achei, não da numeração certa. Pensei em comprar mesmo assim e reformar, mas decidi confiar que uma hora o vestidinho floral do meu tamanho ia surgir no mar de brechós digitais. 

E, um ano e meio depois, quando eu estava limpando uns links pouco usados e fiz uma última busca, ele apareceu!!!

Em um site britânico, que não faz entregas na Suíça, mas quem tem amigo não morre pagão: uma colega que mora em Londres vai receber pra mim, uma hora a gente vai se visitar, e o vestidinho florido voltará para minhas mãos sequiosas. 

E querem saber mais? A compra + entrega custou... vinte dólares. 

Bolsos! Bolsos!

sábado, 8 de novembro de 2025

São muitas (r)emoções

Aêêê! Estamos de volta àquele emocionante período que define de que maneira minha vida vai mudar. Porque minha vida muda sempre, a cada punhado de anos (o que eu acho sensacional). O que está em minhas mãos, na medida do possível, é qual será o próximo destino. 

O emocionante período é composto por vários etapas: inscrição no mecanismo de remoção, lista de vagas disponíveis, oferta de vagas, seleção de vagas, resultado do mecanismo. Isso dura dois meses. Depois é esperar a autorização para partir, e aí tenho 90 dias para puxar o carro. 

Desta vez muitas das datas não estão definidas. Mas uma, muito importante, está: 30 de junho de 2026 é o prazo final de partida. Provavelmente partirei nele, mesmo querendo ir embora antes, porque uma das peculiaridades do cantão de Zurique é que só se pode terminar um contrato de aluguel em três dias do ano: 31 de março, 30 de junho e 30 de setembro. E tem de avisar o locador com três meses de antecedência. Como é impossível que a autorização para partir saia em dezembro, o jeito é ter paciência e se programar para junho mesmo. 

Em suma, toda essa conversa para dizer que siiim, estou partindo para um novo e emocionante país, mas só daqui a 8 meses. 

Que anticlímax. 

domingo, 2 de novembro de 2025

Kaos

O mundo está o caos. Me sinto no último baile da Ilha Fiscal, tomando champã enquanto o Império rui ao meu redor. Imagino museus do futuro, em que arqueólogos discutirão quem ocupou a maior extensão territorial no pré-apocalipse, os romanos ou o MacDonalds. Fui ver a Távola Redonda e descobri que o Henrique VIII (o das 6 esposas) mandou retocar a pintura em 1522 e pintar o rei Arthur... com sua própria cara. 

* * *

Jane Austen, uma dos meus escritores favoritos (sim, a concordância é essa), fez 250 anos este ano. O Leo planejou uma belíssima viagem outonal ao Reino Unido, com paradas em Londres, Cardiff (capital de Gales - país 73, ueba) e Chawton, onde Austen viveu de 1809 a 1817, seus anos mais produtivos, quando reescreveu três livros e criou outros três. A casa virou um museuzinho caprichado, e a entrada vale por um ano, o que quer dizer que já estou planejando um retorno. 

* * * 

Voltei a tomar o remedinho mágico (escitalopram) em julho do ano passado e estou muito bem. Não é que eu não fique brava ou chateada quando as coisas não dão certo, é que consigo colocar os problemas em seu devido lugar (que é "daqui a 50 anos vamos estar todos mortos mesmo. Talvez antes"). Agora é continuar a ser usuária constante desse milagre da farmacologia e torcer para ele não parar de funcionar de repente (acontece).