terça-feira, 11 de maio de 2010

O Caso da Reflexão sobre os Comentários 2

Fui fazer um curso na capital, e quando voltei muita gente tinha se manifestado. Então eu vou dar opinião também. Que é simplesmente a minha opinião, e portanto não tem mais valor do que a de ninguém, tá?

Acho que existem dois focos que estão misturados aqui. Se pensarmos que o mundo é assim mesmo e que é mais prático se adaptar a ele, é claro que o melhor é tentar tirar o melhor da situação, reduzindo um pouco os cuidados de beleza e obedecedendo às regras muito difundidas (tipo depilação). Aí a idéia é "ser livre" ou "ser feliz", seguindo mais ou menos as regras do jogo. E é uma escolha válida, claro.

Mas existe um outro foco, e é nele que eu estou me concentrando. Porque as mulheres são 70% dos pobres do mundo, recebem salários menores pelo mesmo trabalho, são vítimas de violência doméstica e estupro; as carreiras tipicamente femininas (como enfermagem e ensino)são desvalorizadas; no Brasil o aborto não é legal, diversas religiões são contra os métodos anticoncepcionais e que quem sofre as conseqüências disso são as mulheres.

Nesse foco eu vejo uma co-relação entre a importância dada à aparência feminina, as restrições feitas pela sociedade em relação aos nossos corpos (regime/ausência de pelos/salto alto), a rivalidade que esses aspectos criam entre nós e aqueles problemas ali atrás.

É claro que eu posso estar redondamente enganada. É claro que tem muitas outras maneiras de ser feminista. É claro que eu não sou legal/esperta/humanista porque não uso colarzinho e que quem usa colarzinho é boba/feia/chata. Sim, eu me depilo, embora com menos freqüência e aplicação do que antes; e sim, eu aprecio o que é belo.

Mas meu novo lema é: menos beleza, mais justiça.

12 comentários:

  1. Muia raiva quando o computador dá pau e eu perco um comentário longo...

    Concordo que as pessoas não entendem qual é o ponto. Porque se a gente naturalizasse e aceitasse se adaptar a tudo, tava usando espartilho apertado até hoje. Que dizer "mas eu escolhi assim" e ao mesmo tempo "que nojo perna cabeluda!" é uma tremenda contradição, porque denuncia o patrulhamento a qual todas somos submetidas.

    Pra mim (posso estar enganada, claro) seu blog trata muito mais sobre o olhar coletivo sobre a aparência das mulheres do que sobre suas escolhas pessoais. Ok, elas estão aqui, mas são um ponto de partida pra algo maior. Porque quando nós, mulheres, julgamos outras mulheres pela aparência, naturalizando imposições que não são feitas aos homens, estamos colaborando com as injustiças que nos transformam em cidadãs de segunda classe. Porque quando esperamos que os homens estejam limpos, com roupas em bom estado e de acordo com a ocasião e das mulheres exigimos isso e ainda que estejam penteadas, maquiadas, depiladas, com a unha feita, cheirosas, com cabelos tingidos, etc, etc (sem nem entrar no mérito das roupas em si), estamos servindo a interesses que, com certeza, não são os nossos. E isso não é nada inteligente.

    Jamais me sentiria a vontade para debater com alguém que diz: "você usa maquiagem? então é fútil!". Não preciso trocar um patrulhamento por outro. Mas o que sempre encontrei aqui foi um convite a debater porque gastamos tempo e dinheiro com algo que não nos serve objetivamente. Quem ganha com isso? O que há por trás de certas imposições? E este debate eu tô muito afim de fazer, sempre.

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  2. Eu não gosto de extremismos, mas acho que as coisas tendem a se adaptar... Acho que as mulheres da nossa geração são as mais prejudicadas por pegar uma fase de transição.

    Trabalhamos como eles e ganhamos menos. Se queremos trabalhar, problema nosso, temos que colocar dinheiro em casa também. Se queremos ter filhos, problema nosso, temos que nos desdobrar para olhar lição, educar, limpar as orelhas e afagar.

    Isso sem falar nas tarefas domésticas, que pesam sobre nossas costas. Se a empregada falta, quem esfrega as meias????

    Alem da informação, precisamos pregar a justiça em ações. Criar homens preparados para dividir as coisas de verdade com as mulheres do futuro.

    Porque as da nossa geração... Tadinhas...

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  3. A Iara tem razão. Estamos aqui para ter um olhar crítico sobre POR QUE fazemos determinadas coisas, que até então pareciam "naturais" e não pra ficar comparando quem usa-compra-depila-o-quê (mas é lógico que saber a respeito de experiências pessoais dá um reforço, ou um conforto, ou um susto, na gente).
    Eu posso continuar fazendo tudo o que fazia antes, mas agora tenho um olhar crítico sobre isso - até pra assumir que certas coisas não vou fazer mais, e pronto.

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  4. http://revistacriativa.globo.com/Revista/Criativa/0,,EMI123297-17552,00-CABELO+JOAOZINHO+VIRA+HIT+ENTRE+AS+FAMOSAS.html

    Vi e lembrei de você. Tá aqui um belo exemplo que quer democrático é mais vantajoso.

    Beijo LUD.

    ADA

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  5. E o chato é que quem defende que não ter pêlos ou se maquiar é algo natural às mulheres sempre usa uma desculpa "científica" alegando que tal coisa é biológica. E afirmar isso é dizer que todas nós somos seres defeituosos pois não nascemos de acordo com o que a biologia determina.
    Opção é a palavra. Queremos ter o direito de optar sem sermos julgadas por nossas escolhas. É dessa forma que se dará a justiça.

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  6. Oi Lud, gosto muito do seu blog e também sou mineira vivendo em Brasília. Meu marido estava na fase de estudar e eu trabalhar. Sou psicóloga e servidora pública e ele tb é psicólogo e tá no doutorado. Sempre deu certo e eu acho ótimo porque sempre temos opções, mesmo as não-convencionais. Mas era engraçado quando saíamos do prédio, ele indo me levar ao trabalho de bermudas, e o porteiro perguntava pra ele: você vai trabalhar?? Tipo, até que enfim! :) Agora essa fase passou, porque marido estuda e trabalha e o povo parou de pegar no nosso pé. Não sei se entendi direito, mas vc mora no Vale do Aço? Parte da minha família é de lá, Valadares. Acho que você vai gostar de Brasília, embora as pessoas aqui perguntem antes de querer saber seu nome: onde vc trabalha? onde vc mora? Se não for no Plano Piloto fazem cara de c*. Eu e marido também nisso escolhemos uma opção pouco ortodoxa. Viemos morar em uma cidade satélite porque fui lotada aqui. E eu não dirijo (também não boto ovo, nem conserto rádio), então posso ir ao trabalho a pé, se quiser. E as pessoas não entendem isso. Querem que eu aprenda a dirigir logo e o trânsito daqui tá uma merda. Também ficam tristes por não morarmos no Plano Piloto e não disfarçam quando encontram com a gente e perguntam: ainda moram no Gama? Eu posso dizer que gosto daqui, faço as coisas a pé, não é perigoso como as pessoas que NUNCA vieram aqui acham que é. Ahhh..também não uso salto alto, tenho 1,80 de altura e acho desconfortável e estranho. Eu uso maquiagem sim, mas não me acho fútil. Invisto bastante em livros e não entendo não gostar de ler, escrevo poesia e gosto de viajar. Não sou presa a certos padrões de beleza, só que sou alta e magra, então o povo acha que eu persigo isso! Mas eu como muito! Não vivo sem doces. Já me olham torto na balança da farmárcia, pensando "ó a anoréxia", embora eu confira o peso pra não emagrecer demais. Sinto falta de Minas, mas aprendi a amar Brasília. Espero que você goste bastante daqui e qualquer coisa que precisar, aqui tem mineiro uai! Pode chamar! Meu email tá aí juotoni282@hotmail.com
    beijão!

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  7. Olá, Estava pesquisando sobre gêmeos e encontrei seu blog por acaso. Moro na capital de São Paulo e sou gêmea bivitelina. Criei um blog somente para falar sobre o universo gemelar. Estou reunindo histórias de gêmeos e familiares para postar. Gostaria de participar? Acesse o blog e entre em contato por favor. Obrigada, Jê.
    email: jemimapompeu@gmail.com
    http://www.vizinhosdeutero.blogspot.com

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  8. Iara,
    é isso aí!

    Anônimo,
    aí a gente discorda. Eu não acho que as coisas tendem a se adaptar. Acho que elas só mudam com muito grito e esperneio.
    Na questão da divisão de tarefas, estou com você. Minha mãe fala que quem cria os filhos machistas (ela tem três irmãos) são as mães. Sorte minha que lá em casa só tem mulher... se meu pai tivesse um filho homem, ia criá-lo igual a um deus-menino.

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  9. Dani,
    concordo com a Iara E com você!

    Iara,
    morri de rir. Nem "feia" (leia-se fora dos padrões) hoje em dia a gente consegue ser!

    Ashen Lady,
    exatamente!

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  10. Juliana O.,
    que legal, mais uma mineira em Brasília! Eu tô morando no Vale do Aço sim, em Fabri.
    Também sou fã de morar grudada no trabalho. É o que eu faço aqui e o que queria fazer aí!
    Ah, as pessoas! Elas não entendem um monte de coisas. Eu também não dirijo (e não boto ovo, nem conserto rádio - adorei!) e sempre me perturbaram por causa disso. Fiz até terapia para perder o bloqueio. Não perdi o bloqueio, mas não me sinto mais perturbada!
    Precisando eu chamo mesmo! Obrigada pelo apoio!

    JP,
    eu não sou gêmea, nem sou familiar de gêmeos... Ah, não, mentira: tenho tios gêmeos. Mas, como eles não são idênticos, e sempre moraram longe, só fiquei sabendo do fato na minha adolescência. E custei a acreditar ;-).

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  11. Uai, eu pensei que a maioria das pessoas fizessem o link entre 'mulher ganha menos e 'deve' gastar mais em 'feminisses' logo ela eh mais pobre que o homem.' Na minha cabeca e' simples relacionar ao economico. Se eu parasse de comprar esmaltinhos e comprasse um livro, por exemplo, renderia muito mais, obviamente. Mas la fora todos estao dizendo 'vc tem de comprar o esmaltinho'. E ai eu fico mais pobrinha e com a unha pintada. Mas e meu curriculo? Acrescentei nada a ele. E sem ele nao tenho poder. E ter poder passa tambem por ter um curriculo fierce e vai desenbocar no fato de eu estar mais preparada intelectualmente e qualificada para batalhar por um emprego contra meus colegas homens.

    La no interior da Bahia, onde viamos mulheres que habitava um mundo de tanta violencia domestica que achava 'comum' o homem bater nelas (e nos filhos), minha mae sempre dizia 'se ela tivesse dinheiro ou algo que remediasse o cabra nao faria isso com ela'.

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  12. Mari,
    eu não podia concordar mais. Só que tem gente que tem dinheiro pra comprar livro E esmalte. E tem as feministas "enfeitadas", tipo a Martha Suplicy. Vê lá se eu vou desqualificá-la como feminista por causa disso...

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