segunda-feira, 30 de maio de 2016

A consumidora infeliz

Além de pão-dura, eu sou uma pessoa, digamos, exigente. Isso significa que minhas aquisições materiais, além de me fazem tirar dinheiro do bolso, o que nunca é motivo de alegria, correm o grande risco de não estar à altura das minhas expectativas. Antes que me acusem de má-vontade, deixem-me relatar alguns episódios:

Evidência número 1: as cortinas da discórdia.
As janelas da sala cobrem uma parede toda. Resultado: uma vista linda de árvores e verdes, mas um sol inclemente que bate sem dó de 6 da manhã até as 2 da tarde. Solução: uma cortina cara, de qualidade, de uma loja igualmente cara (mas de qualidade duvidosa, como me dei conta depois). 

Encomendei bonitos bandôs enroláveis. O vendedor garantiu que eles resolveriam meu problema. Resolveram? Que nada. Deixavam praticamente toda a claridade entrar. Depois de longas negociações com a loja, instalaram uma segundo cortina na frente, essa em blackout (não de graça: a preço de custo). Resolvido? Que nada. A segunda cortina veio toda amassada e com a bainha enrugada. Outras longas negociações se seguiram. No fim, confesso que fui vencida pelo cansaço e fiquei com essa cortina mesmo. (Perceba, Ivair, a enrolância do cavalo: eles mataram dois funcionários, em duas ocasiões diferentes, como desculpa para não vir nos horários marcados.) 

Evidência número 2: as telinhas do rancor.
Moramos no meio de árvores e verdes. O que é lindo, inclusive segundo vários tipos de bichos voadores. Para nos protegermos dos mesmos, instalamos duas telas nas grandes janelas do banheiro (e também foi caro. Tudo em Brasília é caro). 

A loja colocou as telas, percebeu que elas não ficariam perfeitamente encostadas nos cantos (nas janelas tem umas molduras de madeira que terminam uns dois dedos antes de começar o mármore) e sabe o que fizeram? Disseram pro Leo: "Tampa com Bombril". Sério, gente. Você paga 4 dígitos 3 dígitos em duas telas mosquiteiras e o povo te diz pra tampar com Bombril. Liguei lá, pedi para eles virem dar um jeito. Depois de umas quatro ligações, eles vieram, olharam, disseram que dariam um jeito. E nunca mais voltaram. Vencida pelo cansaço, desisti de reclamar. Pelo menos essa loja não matou ninguém. 

Evidência número 3: o cachecol da cizânia. 
Encantada com sua felposidade, comprei um cachecol de cor duvidosa. Tive então a brilhante ideia de mandar tingi-lo. Levei-o à uma lavanderia e perguntei se eles tingiam. Sim, disse a velhinha fofa que me atendeu. "Vou usar tinta sintética e vai ficar ótimo." 

Quando fui buscar o cachecol cor-de-burro quando foge, ele tinha virado marrom-escuro-quando-foge, e o burro tinha adquirido uma doença dermatológica, i.e., estava todo manchado. Apontei o fato para a velhinha fofa, que imediatamente prometeu comprar outra tinta, essa sim adequada ao material, e deixar o cachecol pretinho. 

Na semana seguinte, fui buscar o cachecol, que estava... exatamente igual. (Aparentemente, essa é uma tática largamente difundida no comércio local. O povo das cortinas da discórdia também fez isso: buscou as cortinas amassadas de bainha enrugada para consertar e passar e devolveu exatamente as mesmas cortinas, só que mais amassadas pelo transporte). 

Vencida pela exaustão (e pelo fato que o serviço custou apenas 20 reais), resolvi não brigar com a velhinha fofa, para evitar que ela matasse alguém da família. Fui para casa imaginando a maneira mais rápida de me livrar da abominação que o cachecol se tornou. 

Tem uma moral nessa história, mas no momento não estamos conseguindo encontrá-la. Vocês entendem: faleceu uma pessoa aqui do bairro e estamos todos muito abalados...

11 comentários:

  1. Moral da história: "é melhor morar debaixo da ponte e não ter nada." :p
    Brincadeiras à parte, te entendo perfeitamente.
    (A cortina desamassa com o tempo e com o próprio peso. A bainha... é, aí não tem jeito.)

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    1. Acho que eu reparo mais do que devia, rs. O Leo não teria percebido se eu não falasse.

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  2. Fico imaginando que quem tem muita coisa se aborrece mais ainda, Lu. Ou será que existe um nível de riqueza que proporciona produtos impecáveis e serviços irretocáveis?

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    1. Lud,
      Eu confesso que deixo de fazer muita coisa pra casa só pra evitar a fadiga de me relacionar com um fornecedor e o serviço ficar ruim ou não ser entregue.
      Acho que existe um nível de riqueza que permite olhar só o serviço, e não se preocupar com o preço, e terceirizar a incomodação. Tipo quando você tem uma governanta, uma secretária, um assistente pessoal. Tô só imaginando kkkkk

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  3. ai que dó!!! eu fico extremamente revoltada com essas coisas, mas respiro fundo e penso nas tragédias da humanidade pra não me abalar tanto.. seu blog é tão bom, seria muito legal se você postasse mais fotinhas de vez em quando :) bjos!

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    1. Jessica, também gosto de blogs com foto, mas dá um trabalhão, rs. No próximo post vai ter foto, prometo.

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  4. Lud,

    É, eu sou assim também, às vezes até tenho vontade de mudar umas coisas em casa, mas me dá uma preguiça por causa desses problemas que sempre surgem. O que eu faço é sempre pedir indicações e reclamar por escrito. Eu reclamo no reclame aqui, nos fale conosco dos sites, nos e-mails de contato, até por carta registrada eu já reclamei. Parece que depois que eu escrevo, a minha raiva alivia. Já consegui resolver algumas questões assim (com a Brastemp, com a Embratel, com a BrasilTelecom, com a Net, com a ortobom), mas às vezes eu ameaço mesmo. Tipo que eu vou ir na loja e só sair de lá com o meu dinheiro de volta (é, eu sou meio barraqueira).
    Historinha de família: minha mãe foi na loja reclamar de um móvel que fazia mais de mês que deveria ter sido entregue. A vendedora disse que o gerente não estava e ia demorar. A minha mãe: eu vou esperar. Todo mundo que entrava na loja ela dizia assim: não compra aqui não que eles não entregam. O gerente se materializou imediatamente e o móvel foi entregue no dia seguinte. É, barraco é coisa de família, mas a gente gasta uma energia...

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  5. Pelo menos as suas tragédias fazem alguma coisa positiva: a gente rir ;)
    E tou aqui até hoje com um ventilador semi-instalado (com a fiação toda pra fora, a tempo de um menino se eletrocutar), o ar condicionado (que não está instalado) sem tampa frontal que o infeliz que a levou pra consertar, quando o instalou no apartamento antigo, até hoje não devolveu, com as paredes em tons diversos de cinza e verde (e apagadores lambrecados de tinta até hoje)... Acho que vou é mudar de apartamento pra um menor (que não acho) assim que o número de coisas a consertar aumentar muito...

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  6. Lud, não sei como é no resto do país, mas tenho a impressão de que aqui em Brasília a questão da prestação de serviços/atendimento ao público é bem pior que em outras capitais. Não sei se é pelo fato de acharem que o povo aqui tudo é "rico" e que pouco se importam com a qualidade do serviço que recebem...sei lá. Mas já notei um descaso maior por aqui...
    Carol

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  7. Mas olha aí que interessante, sempre ouvi que bombril tem 1001 utilidades e acho que não conseguia chegar até 5, mas ai está mais uma, tapar as frestas rs, coitado do bicho que se atrever a passar... rs.

    Realmente temos que ter muita mas muita paciência no pós compra, no mandar realizar algum serviço, é realmente um teste de nervos, por outro lado aprendemos muita coisa nisso né? Muita coisa tentamos fazer e o que não tem solução, pelo menos de tanto se inteirar do assunto conseguimos uma melhor resolução. Eu tive um problema assim no ar condicionado do meu carro. A primeira vontade que tinha era trocar e que outro ficasse com a dor de cabeça, mas dai fiz cálculos e não era o momento, então comecei a tentar mandar arrumar, foi em um, foi em dois, quando estava desistindo, fui em outro na região metropolitana e expliquei tudo que já havia sido feito e que nada daquilo tinha adiantado. Ele ficou uns 2 ou 3 dias com o carro e devolveu como se estivesse no polo norte, explicando o que foi feito e o porque nas outras duas vezes deu errado com os outros locais, o que deixaram de fazer. Por menos de R$ 700,00 e tendo gasto R$ 600,00 no total dos outros dois, ainda saiu mais barato que comprar outro e trocar um carro quitado e tudo certinho por outro a pagar, só porque tinha dado um problema.

    Mas voltando ao bombril, tem um spray que vendem que fica uma espuma, usam pra tapar frestas geralmente em ar condicionado de parede, não sei se seria o caso. E uma vez tinha mandado uma impressora para conserto, o cara tinha identificado o problema, autorizei, e ele vendeu junto cartucho compatível pra ela. Chegamos em casa e nada de funcionar, meu irmão ligou pra lá e ouvi ele repetindo "limpar com veja?", ai peguei o telefone e a conversa terminou em voltando lá e ele devolvendo o dinheiro para comprar cartucho original, mas inicialmente ele queria que limpássemos com veja, num cartucho novo que ele tinha vendido, compatível mas novo, inaceitável ter que fazer gambiarras...

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