quinta-feira, 5 de maio de 2016

Esse tal de nomadismo digital

Faz muito tempo que eu me interesso pela possibilidade de ser nômade digital. Que é basicamente  trabalhar a distância e sair pelo mundo, já que não precisa bater cartão no mesmo ponto físico todo dia.

A vantagem é que a pessoinha tem liberdade para morar onde quiser, pelo tempo que quiser. 

Ou seja, pode optar por uma cidade interessante com custo de vida baixo, conhecer um monte de lugares, pessoas e culturas, passar seis meses com vista para o mar e outros seis com vista para a montanha. As desvantagens? São o outro lado da moeda: o nômade, como o próprio nome diz, não tem morada fixa, não sabe onde vai estar dali a um ano e tem de encarar as saudades e a falta de convivência com a família e os amigos.

Pelo que sei, a ideia começou com os americanos e muitos deles se instalaram no sudeste asiático, que tem uma boa estrutura e preços baixos.

Nomadismo digital tem muito a ver com simplicidade e minimalismo.

Se a ideia é pipocar de um lugar que te atrai para um lugar que te atrai mais, não faz sentido montar casa e gastar os tubos transportando um monte de objetos toda vez que trocar de cidade ou país. Além disso, quanto mais baixo for seu custo de vida e quanto menos você consumir, menos horas você tem de gastar fazendo trabalho remunerado.

Em suma, não é todo mundo que topa (ou vê vantagem em) ser nômade digital. Os valores de quem adota o nomadismo são diferentes dos da maioria das pessoas que eu conheço (sem julgamento de valor: se não estiver prejudicando os outros, que cada um viva do jeito que achar melhor). Já eu gosto muitíssimo da ideia: acho que ela dá muita liberdade (uma das coisas que a gente mais sentiu falta quando voltou do sabático) e muita diversão. 

Quando saímos viajando, pensei em experimentar essa vida. 

Comecei a pesquisar e dei de cara com a dura realidade: em geral, nômades digitais trabalham pra caramba. Não tem essa do expediente terminar às 5 da tarde. Quando se é autônomo, antes de começar o trabalho é necessário caçar o trabalho: fazer propostas, buscar empregadores, arrumar frilas. Até fazer seu nome no mercado, se gasta tempo e muitas vezes se trabalha por valores pequenos.

Hoje, os nômades digitais que conheço recomendam que o candidato já saia do Brasil com o trabalho à distância consolidado e uma certa renda garantida, em vez de tentar conseguir isso na estrada, o que pode ser angustiante e demorado. E dar errado. 

No meu caso, a habilidade que poderia me dar algum dinheiro seria jornalismo de viagem. Só que viajar por prazer e viajar jornalisticamente é beeeem diferente. Então pensei bem, conversei com o Leo e decidimos que, como a proposta inicial do sabático era passear e se divertir e a gente tinha juntado dinheiro pra isso, era isso que íamos fazer. 

De qualquer forma, acho a proposta interessante.

Vejo bastante gente querendo sair dos moldes tradicionais do trabalho: 
horário fixo, cinco dias por semana, onze meses por ano. 

O trabalho remoto já é revolucionário: permite escapar do trânsito, trabalhar nos horários de maior produtividade, receber pelo resultado e não pelas horas sentado no escritório. E aí quem quiser pode morar onde bem entender - seja em uma cidade menor, com custo de vida mais baixo e mais perto da família, seja uma metrópole com muita oferta de cultura e diversão. 

Existem alguns nômades digitais brasileiros e vejo muitas dicas interessantes nos blogs deles. No entanto, tem dois aspectos que me deixam incomodada:

1) Vários ganham dinheiro ensinando as pessoas a... serem nômades digitais. É o clássico esquema de pirâmide e uma hora ele vai ruir, porque não vai ter sobrado ninguém interessado em ser nômade digital.

2) Justamente por ser novidade, o modelo não está consolidado ainda. Funciona agora, mas ninguém sabe como vai ser no futuro. Perguntado a respeito de aposentadoria, um casal responde que são empreendedores e, portanto, não pretendem se aposentar; outro, mais jovem, garante que planeja guardar dinheiro para o futuro, mas até agora só conseguiu fazer isso um ou dois meses.

Estou acompanhando essa novela e aguardo ansiosamente os próximos capítulos. 

* * * 

Para quem se interessou, alguns blogs de nômades digitais brasileiros: 

5 comentários:

  1. Lud,

    Já pensei nisso, mas eu não teria coragem. Tem que ter, realmente, espírito empreendedor é ser bastante desapegado. Além disso, a maioria dos que vi não está nada preocupado com as intempéries da vida (doenças, acidente, morte), e isso tem que entrar na conta apesar de não querermos nunca que aconteçam. Enfim, é realmente uma aventura. Tem que ter fôlego! ;)

    Beijos!

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    1. Emanuelle, eu acho que sou razoavelmente desapegada, mas não da segurança financeira, rs. E por segurança não se entenda muito dinheiro, mas dinheiro suficiente para uma emergência - e para a aposentadoria. Desconfio que vou trabalhar até bem velhinha, mas é legal ter a opção de parar ou diminuir as horas.

      Beijos!

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  2. Uma coisa q me irrita pessoalmente em alguns nômades digitais famosos é essa parada de "largue essa vida medíocre e realize seus sonhos" "viaje pelo mundo e saiba o q é realmente VIVER", pq torna o próprio desapego material uma questão de status sem um olhar sobre os contextos sociais. Nem todo mundo pode se dar ao luxo de parar de fazer o q "não ama". Tem milhoes de pessoas que PRECISAM desse trabalho "chato" para sustentar suas famílias. Um cara q trabalha como auxiliar de escritório, mora a 30km do trabalho e tem q acordar as 5h p poder pegar o ônibus e trabalhar o dia todo p ganhar pouco, mas só assim se sustentar minimamente não tem muita escolha já q todo um sistema de classes lhe negou acesso a coisas como ótima educação, posses materiais básicas e outros direitos. Me dá um pouco de birra esse papinho de coaching quando vc nasceu com o privilégio de escolha e julga os outros sob a sua ótica social.

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    1. E Lud, deixando claro q não estou me referindo e seu sabático maravilhoso, mas a essas pessoas q fazem ebooks e vendem esse estilo de vida como a única coisa realmente boa a se fazer sob pena de "ser um cara medíocre q vive atrás de uma mesa de escritório". =)

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    2. Fer, entendi perfeitamente! Eu e o Leo temos consciência de que somos privilegiados. Não é todo mundo que tem essa opção, não.

      Sem falar que realizar seus SONHOS é diferente pra cada um. Tem gente que não gosta de viajar, ué. Tem gente que tem outras prioridades. O discurso que "meu jeito é O jeito" é sempre irritante.

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