terça-feira, 19 de setembro de 2017

O preço dos sonhos

Sonhos têm um preço. Gostaria de dizer que não, que dá pra ter o bolo e comê-lo também, que o mundo é perfeito e maravilhoso, mas acho que a verdade é outra. Alcançar sonhos implica escolher e toda escolha gera uma perda. 

Dito isso, se o sonho é dos bons, a gente paga o preço sem pensar muito e sem sentir (muita) dor. O que os outros vêem como sacrifício vira só uma maneira, muitas vezes desafiadora (e portanto divertida), de alcançar objetivos. 

Sim, sei que sou privilegiada por poder escolher meus caminhos com tanta liberdade. E que dei muita sorte de ter um parceiro que tem ideais tão parecidos. Mas não foi do dia para a noite: foi todo um processo, que durou anos. Passei por mais de um período de terapia, por fases monótonas e aparentemente improdutivas, pela aprendizagem do desapego - não só de objetos, mas da ideia que eu achava que os outros tinham de ter de mim. Perdi (quase todo) o medo do ridículo. Descobri que só eu posso decidir o que acho importante. 

Admito que a idade ajuda. Tenho 41 anos, uma série de experiências, uns bons anos de vida profissional, um tanto dinheiro guardado no banco. Dá para bancar escolhas que não é todo mundo que pode. 

Essa introdução toda foi para contar duas historinhas. A primeira é a da filha de um professor, minha xará, que está no terceiro ano e quer fazer Artes Plásticas. Meu conselho para ela: vai atrás do sonho, mas vai pensando em pagar as contas também. É muita responsabilidade para uma carreira nos deixar plenamente satisfeitas e ainda nos garantir financeiramente. Parece contraditório com o que eu disse antes? Nem é. Acho que o maior presente que uma pessoa pode se dar é a autonomia.

A segunda historinha é a de um casal que conheci recentemente. A esposa quer pedir uma licença e se mudar para o exterior, talvez definitivamente. Ao mesmo tempo, eles estão se mudando e vendendo os móveis lindos e novinhos (alguns dos quais a gente comprou, aliás) porque vão fazer tudo planejado no novo apartamento. Então o discurso não está batendo com a prática, tanta financeira quanto psicologicamente. 

E quem sou eu para dar palpite na vida alheia, dirão vocês? Ora, ninguém. Até porque nem me perguntaram. Mas, de fora, superficialmente, sabendo só um pouco do que está acontecendo, achei os episódios bastante iluminadores: as pessoas têm sonhos, mas nem sempre estão dispostas a pagar o preço. 

2 comentários:

  1. Oi, Lud!
    Autonomia é realmente tudo. E assumir o custo dos sonhos também.
    Não é realmente fácil, estou vendo agora.
    Apesar de todo o planejamento que fiz para pedir demissão, fazer um intercâmbio e terminar uma segunda graduação em uma área que parece ter mais a ver com a Rafaela de hoje em dia, não é moleza encarar diariamente os custos desta decisão.
    Continuo achando que fiz a coisa certa, mas tenho total consciência de que dei uma boa dificultada na minha vidinha confortável.
    Esperar (e planejar) os próximos capítulos. :)
    Beijo

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  2. Oi, Rafaela! Sim, tem horas que a gente vê muito claramente que a vida podia ser mais fácil se a gente não mudasse. Mas, por outro lado, que graça teria? Os anos teriam se passado e continuaríamos no mesmo lugar.
    Força aí!

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