domingo, 25 de novembro de 2018

Pra cá e pra lá (com muita ou pouca bagagem)

Uma das maneiras mais fáceis e recompensadoras de embarcar no minimalismo é imediatamente antes de uma mudança. Se for para um lugar menor, melhor ainda. Fazer uma seleção do que realmente importa não só facilita o transporte dos objetos como a mudança de cenário faz com que você nem sinta a falta deles. Casa nova, vida nova!

Logo, imaginei que pessoas para as quais a mudança de endereço é um estilo de vida (isto é, meus colegas de trabalho) seriam craques nisso. Se de tantos em tantos anos você tem de empacotar tudo e partir para um destino totalmente diferente, não é prático carregar pouca coisa? Tanto para não se preocupar com atrasos na mudança e com danos nos móveis como para ter espaço, na casa e na alma, para novos hábitos e estilos de vida. Móveis de varanda não serão muito usados na Sibéria. Equipamento de esqui vai ficar encostado na Índia. Eletro-eletrônicos provavelmente vão exigir tomadas e voltagens diferentes. E por aí vai.

Perguntei a uma colega que cuidava de transporte de bagagem se os contêineres da galera iam ficando menores à medida em que a carreira progredia. Para minha surpresa, ela disse que não. Ao contrário: quanto mais anos de trabalho, mais coisa a pessoa juntava.

Fiquei sem entender até que, um dia, tive um insight: se a pessoa está cada par de anos em um país, ter em torno de si objetos familiares pode dar um sentido de continuidade e segurança. Principalmente para cônjuge e filhos, porque o servidor do serviço exterior tem pelo menos sua carreira para se agarrar psicologicamente. O acompanhante tem de se virar para (re)encontrar sua identidade a cada novo posto.

Dito isso, acho que existe uma grande distância entre possuir apenas 50 objetos e acumular pilhas de bens. Imagino que seja muito fácil adquirir obras de arte, artesanato, louça, roupa e equipamentos toda vez que a pessoa se instala em um território diferente. Tanta novidade! Tudo tão bonito e colorido! Mas imaginem o trabalho e a dor de cabeça a cada realocação.

É verdade que, de 2013 a 2015, ficamos sem casa por 26 meses, então eu não podia juntar coisas, ponto. Minha próxima mudança vai ser diferente: iremos para um lugar fixo onde ficaremos por pelo menos dois anos. Ou seja, vai ser possível (e até fácil!) me deixar seduzir pelo consumo e pela acumulação.

Mas acho que não vai acontecer, viu? Voltamos para Brasília e mantivemos nosso estilo de vida simples e desapegado. Pensamos seriamente em, quando formos removidos, alugarmos um apartamento mobiliado e levarmos pouquíssima coisa do Brasil.

Só paçoquinhas e cachaça.

2 comentários:

  1. Leva um carregamento de leite moça tb, pros brigadeiros ;)
    A vantagem de vcs dois é que levam o security blanket um do outro sempre consigo, o outro. Muito mais portátil =)
    Beijos!

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