domingo, 8 de novembro de 2020

Vidas alternativas

Uma diversão que eu e o Leo temos é imaginar o que teria acontecido conosco se tivéssemos tomado decisões diferentes em momentos-chave da vida. 

E se nunca tivéssemos saído de Belo Horizonte? E se tivéssemos comprado um apartamento no interior de Minas? E se tivéssemos decidido ter filhos? 

E se tivéssemos passado no concurso de oficial de chancelaria... em 2008? Foi o que abriu antes do último, que teve edital em 2015, prova em 2016 e posse em 2017.  

(Falo "tivéssemos" porque somos um time e essa carreira é um projeto conjunto. Estudamos juntos, planejamos juntos e curtimos juntos. As tarefas são divididas. Nós dois trabalhamos: eu na embaixada, o Leo se ocupando da casa e de todas as burocracias. 

Sem falar que, na véspera do concurso, o Leo insistiu em me ensinar a tabela verdade, que ele jurava que ia cair. Eu não tinha estudado raciocínio lógico, porque me acho ótima em matemática (eu sei, eu sei). Só que o Leo não deixava de ter razão: foram duas questões de tabela verdade, e graças à aulinha da véspera eu acertei as duas. Resultado da prova de raciocínio lógico: 10/10.)

Se tivéssemos passado no concurso de oficial de chancelaria em 2008, estaríamos no exterior há uma década. Por outro lado, será que teríamos estrutura para isso?

Em 2008, ainda éramos muito mimadinhos. Não tínhamos tanta consciência dos nossos privilégios. Achávamos muito natural sobrar carro e casa, ter faxineira duas vezes por semana. Se tivéssemos ido para o exterior lááá atrás, provavelmente iríamos querer replicar nosso estilo de vida, e isso ia ser sofrido, porque cada lugar é um lugar. Naquela época, ainda não tínhamos aderido ao minimalismo e à vida simples, e eu não era uma feminista prática (só teórica, o que já é alguma coisa, né). 

Digo isso porque vejo os colegas reagindo às remoções cada um dia um jeito. É muito natural que cada pessoa tenha suas dificuldades (eu também tive as minhas!). Mas percebo que há que lide melhor com as mudanças, e há quem passe um perrengue danado, principalmente quando tenta repetir sua vida no Brasil. 

Pode ser uma questão de experiência: eu recebi o resultado do concurso alguns dias depois do meu aniversário de 40 anos. Já tinha saído viajando e desapegado de objetos e aprendido a cortar meu próprio cabelo. O Leo, além de tudo isso, já tinha trabalhado 20 anos com TI e estava pronto para partir pra outra (ser "conjechan", cônjuge de ofchan).

Talvez a diferença seja achar se mudar de país a cada 3, 4, 5 anos um vantajão - ou um grande problema. 

No fim das contas, o importante é que deu tudo certo. Se tivéssemos passado no concurso em 2008, estaríamos voltando para o Brasil. Como fizemos o de 2015, temos é um bocado de tempo de exterior pela frente. Oba! 

2 comentários:

  1. Oi, Lud! :)

    Eu não gosto muito de pensar no "E SE" porque sempre imagino que eu estaria bem melhor do que estou hoje e isso me deixa triste, ainda mais nesse momento que estamos sem perspectivas por aqui. :(
    Mas eu me consolo pensando que eu tomei a melhor decisão que podia com o conhecimento que eu tinha na época. Poderia ser pior, né? Sempre pode ser pior...

    Não entendi o final... Vocês precisam voltar depois de 10 anos?

    Beijos e fiquem bem!!

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  2. Oi, Andrea!

    O momento de fato não está propício para ninguém. 2020 tá osso.

    Exatamente, sempre pode ser pior! Quando a gente brinca de "E SE", tem de focar é nessas possibilidades, rs. Mas eu entendo: quando estamos pra baixo, tendemos a nos fixar nos aspectos negativos do passado. Eu passei uma época amaldiçoando a maior parte da minha adolescência.

    É isso mesmo, precisamos voltar ao Brasil depois de 10 anos. É o máximo de tempo no exterior. Aí temos de ficar por aí um tempo antes de partir para mais um ciclo fora. Também podemos voltar antes de 10 anos se quisermos, e/ou ficar no Brasil para sempre.

    Beijos!

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