terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Operação Cabeulos

Não pinto o cabelo (tenho uns belos fios brancos e curto) e corto em casa (a irmã I. batizou o método de unicórnio: é só fazer um rabo de cavalo na testa e passar a tesoura nas pontas. Voilà, temos um corte em camadas). Mas para tais práticos e econômicos empreendimentos precisamos de um elemento essencial: cabelos.

O feminismo me libertou de muitas vaidades, o que muito agradeço. Infelizmente não consegui (ainda) desapegar de algumas exigências sociais, como a de ter um certo número de cabelos na cabeça. Diante de uma longa e acentuada queda que não se resolveu por si só (sempre uma opção antes de apelar para a medicina), decidi ir à dermatologista.

Pontos positivos: consulta barata e consultório perto de casa. Pontos negativos: não pediu exame algum, só receitou um kit de xampu e vitaminas por três a seis meses (e que eu podia comprar logo ali na recepção).

Preço do kit de xampu: 52 dólares. Preço de um mês de vitaminas: 54 dólares. Comprovação científica para a eficácia dos produtos: zero.

Vocês podem imaginar minha indignação e a indignação do escorpião que habita meu bolso (ele anda mais tranquilo aqui nas terras filipinas, mas morto não está). Agradeci a atenção, paguei só a consulta e fui para casa resmungando.

Até acho que os tais produtos têm um certo efeito, principalmente cosmético. Aí basta parar de usar para voltar tudo ao que era antes - só que estarei mais pobre, e os fabricantes, mais ricos.

Depois de refletir um pouco sobre o assunto (não muito, porque tenho mais o que fazer), decidi pela minha própria versão do tratamento: ferro quelato 50 mg por três meses, que combate a minha ferritina baixa (preço: 16 dólares) + uma poção chinesa de óleos variados que é adicionada ao xampu  (preço: 2 dólares).

O ferro eu sei que funciona (já me foi receitado por dermatologistas brasileiros umas três vezes nos últimos anos, e resolve até a ferritina baixar de novo). A poção é para dar um charme.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Luxo e sedução

Aqui em Manila está rolando toda uma opulência. O mais importante na moradia era a proximidade do trabalho, e no fim das contas alugamos um apê grande e chique a 300 metros do escritório. Eu queria um lugarzinho menor, mas 1) só tinha muito menor -  ou maior ainda; e 2) happy spouse, happy house. O Leo gostou desse, e como a manutenção da casa é com ele, batemos o martelo.

O lado bom é que o apartamento é novinho (somos os primeiros moradores) e veio todo mobiliado, com cortinas e lustres e máquina de lavar. O lado ruim é que são muitos metros quadrados para limpar, mas se o Leo não está reclamando, quem sou eu para fazê-lo.

O diabo é que as poucas coisinhas que trouxemos, como escorredor de prato, porta-detergente e lixeira, ficaram feias e pequenas diante de tanto esplendor. Aí toca a ir ao shopping para adquirir novos e bonitos, o que foi bastante frustrante no começo, porque eu não queria gastar muito (ou nada, ponto).

Com o tempo, fui me convencendo que podia abrir um pouco a mão, inclusive porque objetos de melhor qualidade vão durar mais tempo. Mas, mesmo assim, tinha horas que eu batia o pé: todos os acessórios de pia que a gente via eram caríssimos, então enrolei até acharmos lindas latinhas, que cumprem muito bem a função por um décimo do preço. E o Leo ficou encantado com as lojas de decoração e queria objetos para preencher as muitas estantes, mas consegui convencê-lo a fazer isso com porta-retratos e lembrancinhas de viagem que a gente já tinha (sim, eu me livrei de muitos souvenirs, mas alguns ninguém quis comprar na garage sale, e como eram pequetitos guardei).

A última aquisição foi um belo conjunto de panelas (Tramontina!). Valeu a pena, porque o Leo tem cozinhado assiduamente: estrogonofe, macarrão à bolonhesa, porquinho com molho de mostarda e mel. E sanduíches maravilhosos.

Confesso que ainda estou me adaptando à nova realidade. Acho que tenho uma tendência católica a achar bonito me privar das coisas (e uma tendência particular a adorar juntar dinheiro). Mas o Leo tem me convencido que gastar (moderadamente, é claro) em conforto é um bom uso de recursos.

Em conforto e em comida, claro.