segunda-feira, 30 de agosto de 2021

O Dilema (ou Não)

Saí do Brasil em julho de 2019. Antes disso, fui a Belo Horizonte me despedir de meus pais e minha irmã mais velha e passei uns dias por lá.

Planos de voltar ao Brasil? Tenho sim, em 2029, quando completo 10 anos de trabalho no exterior e sou obrigada a passar pelo menos um ano em Brasília. Antes disso? Nem a passeio, obrigada. 

E a razão é muito simples: eu tenho 30 dias de férias só. Meus pais são aposentados; tios e tias, também. Minha irmã tem um montão de folgas. Faz muito mais sentido eles irem me visitar, em um lugar que eles não conhecem, ou conhecem muito pouco, e a gente ir passear, do que eu ir para o Brasil, um país no qual morei décadas. 

Sim, terei sempre um belo quarto de hóspedes à espera da família. 

Infelizmente, minha mãe não gostou da ideia. Ela já começou a perguntar "quando é que vou vê-la". Tentei vencê-la pela força dos meus argumentos racionais e ela não discordou ao telefone, mas uma irmã me contou que ela está achando um absurdo que eu fique tanto tempo longe. 

Minha avó também era assim. Se não fôssemos à casa dela, ela não ficava satisfeita. Mas minha mãe ainda está muito nova para essas coisas. Ela é muito ativa, está bem de saúde e viaja bastante (ou viajava, no mundo pré-pandemia).

Eu entendo que minha mãe não fique feliz com minha ausência. Não posso querer que ela aplauda todas as minhas decisões (até queria, mas não rola). Tenho duas opções: voltar ao Brasil para deixá-la contente ou conviver com sua desaprovação nesse ponto (sem briga nem nada, só uns suspiros fundos por parte dela). 

Falei que queria ter um armário no quarto de hóspedes para ela deixar roupas entre uma viagem e outra (como um casaco de frio), e ela se indignou. "Imagina, não faz sentido isso, se você tiver um segundo armário tem de ser para você mesma". 

Mal sabe minha mãe que espero que ela me visite várias vezes por ano. Não aqui, que é o país mais distante do Brasil e que, de qualquer jeito, está em lockdown. Mas no futuro posto, com certeza. Vai ser muito mais perto (até porque não tem como ser mais distante).

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Praticidades

O colega/amigo/vizinho de prédio voltou para o Brasil este mês porque completou o prazo máximo de exterior, 12 anos. Ele e a família moraram em quatro países diferentes.

Depois de a mobília ter sido empacotada, ele olhou para as 200 caixas e declarou: no próximo ciclo, vou fazer como vocês - alugar apartamento mobiliado e levar só o básico. 

Aplaudimos as boas intenções dele. A gente acompanha as mudanças dos amigos e vê que tudo pode acontecer: do contêiner cair no mar até a bagagem mofar. Sem falar dos atrasos - a pessoa fecha o contrato de aluguel e fica acampada com fogão e geladeira até a mobília chegar.

Aqui em Manila há muitos apartamentos mobiliados disponíveis. Escolhemos um deles, o mais próximo ao trabalho. É uma  maravilha: os móveis são adaptados aos espaços (não são grandes nem pequenos demais); dá para ficar confortável até o dia de mudar (com roupa de cama emprestada);  não tivemos trabalho nenhum (até lustres e cortinas já estavam instalados). 

Ou seja, aconselhamos fortemente essa opção: despachar só roupa, objetos pessoais e documentos. Se dependesse de nós, assim continuaríamos.

Só que a próxima cidade onde ambicionamos viver basicamente não oferece residências mobiliados. Maldita realidade e sua mania de se intrometer em meus planos! 

O jeito vai ser montar casa, né. Comprar cama, mesa, sofá. Cadeiras, cortina, abajur. E decidir se a partir daí nos tornamos caramujos (e passamos a carregar a casa nas costas, quer dizer, na mudança) ou continuamos livres, leves e soltos.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Os meus cabelos brancos

Parece que, com a pandemia, e consequente dificuldade de ir ao salão de beleza - ou com a reordenação das prioridades, sendo que pintar o cabelo não está não está no alto da lista - os cabelos brancos ganharam força entre as mulheres. 

Acho ótimo. Não tenho muitos fios brancos, mas tenho alguns. Como nunca pintei depois que eles começaram a aparecer, não tive que passar pela transição. Acho que eles funcionam como luzes prateadas. Não é ótimo?  

Exceto que não é bem assim. Agora que tenho 45 anos, entendo melhor alguns "tabus" e "tradições", do tipo "quem tem mais de quarenta deve usar cabelo curto". No meu caso, tenho menos cabelo do que tinha antes, e ele é mais fino e mais claro também. Os fios brancos são espetados e rebeldes. Os que têm cor são opacos e rebeldes. 

Comprei uns xampus diferentes, passei uns óleos. Melhorou, mas não ficou como antes. Porque antes eles eram cabelos xóvens! Espessos, lustrosos, resistentes. 

E agora eles não são mais assim. 

O diabo é que, em muitos lugares (sendo o Brasil um dos principais), é importantíssimo para as mulheres parecerem jovens (e belas). O que é muito irritante. 

Mas, à medida em que mais mulheres forem deixando os cabelos brancos, é bem possível que as pessoas se acostumem com isso (como na Europa). Ainda que eles sejam mais fininhos e menos brilhantes do que eram antes. 

É só não acabar a pandemia e todo mundo ir correndo pro salão. 

sábado, 7 de agosto de 2021

Deutsch

Faz uns meses que estou flertando com o alemão. Quer dizer, com a língua alemã. Achei uns cursos gratuitos na internet, arrumei umas gramáticas, reclamei que o Goethe Institut que tem do lado de casa está fechado desde o início da pandemia e basicamente não avancei nada. 

Até agora. Porque agora descobri um curso de alemão online que parece bacaníssimo. Não é gratuito, e para mim isso acaba sendo positivo, porque tendo botado dinheiro na jogada me sinto mais comprometida. O plano era fazer uma semana de teste para ver se era bom mesmo, mas na hora de cancelar (e me inscrever pra valer em setembro ou outubro), senti vontade de continuar a fazer as aulas. E estou fazendo. 

O fato de a professora ser minha xará não tem nada a ver com isso, imagina. 

* * * 

Lembram que comecei a estudar russo e vim parar nas Filipinas? Pois é. Então interpretem como quiserem esse interesse no alemão. Se o padrão se repetir, talvez o próximo posto seja a Coreia do Sul, hein. 

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Boletim de notícias

Estou de férias até o fim da semana que vem. Amanhã começa mais um lockdown de 15 dias. O colega/vizinho/amigo que chegou em Manila uma semana depois da gente voltou com a família para o Brasil.

O Leo está vendo as Olimpíadas na tv e em dois laptops ao mesmo tempo, cada um em um esporte diferente. Eu aproveito que estou de férias e corro lá toda vez que aparece um evento interessante. 

Finalmente compramos cadeiras e mesinhas para a varanda. Ontem chamamos um casal de amigos, também vacinados, para inaugurar: espaço aberto, distância social. 

Cortei meu próprio cabelo de novo. Estou vendo duas temporadas de RuPaul's Drag Race ao mesmo tempo. Estamos indo à piscina todos os dias (mas a partir de amanhã não pode, por causa do lockdown). 

A temporada de lançamento de livros está fraca. Definitivamente estou sem paciência para ficção. 

Fiquem ligadas para mais notícias cotidianas de uma vida normal em tempos de pandemia. 

Aniversário de 2 anos

Nem acredito que mês passado fez dois anos que saí do Brasil. A pandemia definitivamente atrapalhou a sensação de passagem do tempo: às vezes acho que foi muito menos, às vezes acho que foi muito mais. De qualquer forma, sinto um pouco que "não valeu". 

Usar o português no trabalho, tanto com os colegas quanto na maioria dos documentos, também faz com que a impressão de estar no exterior diminua. E, com a quarentena eterna, a maior parte da minha vida passou a girar em torno do escritório.

O trabalho foi mais difícil do que eu tinha imaginado. Gosto muito de teoria e acabei na área dos contratos e supervisão de serviços. Tenho de lidar diariamente com uma cultura diferente, o que é desafiante e às vezes frustrante. Por outro lado, não posso me queixar de tédio: cada momento é uma novidade.  

A cidade foi mais fácil do que eu tinha imaginado. Muita gente fala inglês, a cultura é bem ocidentalizada, no supermercado tem quase tudo que tinha no Brasil e conseguimos um apartamento pertinho do trabalho, o que me livra do trânsito insano a maior parte do tempo. 

Talvez eu só consiga avaliar direito este período nas Filipinas depois que eu sair daqui. 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Sociedades utópicas

Achei "Better To Have Gone: Love, Death and the Quest for Utopia in Auroville", de Akash Kapur, interessantíssimo. Eu nunca tinha ouvido falar em Auroville, uma comunidade fundada em 1968 na Índia por Mirra Alfasa, uma guru francesa, com o objetivo de promover "a união da humanidade, acima de todas as crenças, políticas e nacionalidades".  Auroville ("cidade do amanhã") existe até hoje, com pouco mais de 2 mil habitantes de 54 nacionalidades.

Experiências de criação de novas sociedades são fascinantes. A ideia de que é possível que pessoas se organizem de maneira diferente e consigam resolver problemas como miséria, opressão e guerra é muito atraente. Infelizmente, as sociedades novas são formadas por seres humanos imperfeitos, como as antigas. Dito isso, se me chamarem para participar de uma delas... provavelmente vou querer ir. (Se irei mesmo é outra história.)

O autor de Better To Have Gone e a esposa, Auralice, nasceram e se criaram em Auroville e foram estudar nos Estados Unidos. Quando decidem voltar, um dos objetivos é apurar o que realmente aconteceu na trágica morte dos pais dela - um americano de família rica e uma belga profundamente mística. 

(Pois bem, o que aconteceu é que eles ficaram doentes e recusaram socorro médico, acreditando que a força da crença iria curá-los. Não curou.)

Auroville deu certo? Há divergências. Por um lado, ela completa 53 anos em 2021. Por outro, nunca conseguiu ser autossuficiente financeiramente. Tem seus admiradores e seus críticos. 

E tem um website também.