Um dia conto essa história toda de depressão e ansiedade (ela é longa e, na soma final, mais positiva do que negativa), mas o que temos para hoje é o fato de que o trabalho me deixa muito tensa.
Racionalmente, sei que não há razão para tal. Sou atenta, cuidadosa, comprometida e "de fácil trato". Só recebi elogios de todos os chefes até hoje. Tiro 100 nas avaliações e ainda ganho observações congratulatórias.
E é aí que mora o perigo. Quero fazer o melhor possível sempre. E, se não consigo, sofro, me angustio e e me agito. Só que esse comportamento não ajuda necessariamente a conseguir os melhores resultados. Além de me atormentar, também é um tiro pé.
Meu psiquiatra (sim, tenho um psiquiatra em Manila, e ele é ótimo), me disse que a dificuldade de diminuir o perfeccionismo é que a resposta dos outros a ele é muito positiva. Os colegas de trabalho acham ótimo que eu seja tão dedicada. O Leo volta e meia agradece eu ter passado no concurso do Itamaraty. Ou seja, é um mau hábito reforçado a cada instante.
Pessoas razoáveis dirão: mas você pode ser uma boa funcionária sem sofrer. E podia ter sido sido aprovada em último lugar das vagas, pois não faria diferença prática. Mas para mim é difícil aceitar isso. Na minha cabecinha, só há duas possibilidades: ser a melhor possível ou não me preocupar - o que equivale a chutar o balde total.
E tem mais: a minha personalidade está toda construída em torno do fato de ser caxias. Não foi tão difícil largar mão das preocupações com a beleza e passar para o mínimo porque, afinal, eu me acho competente. Com o consumismo foi a mesma coisa.
O que quer dizer é que o plano é reconstruir a minha identidade. Como? Não tenho ideia.
Mas estou certa de que será a melhor reconstrução de identidade de todas.