domingo, 21 de junho de 2020

É uma bruta ansiedade

O único porém da minha estadia nas Filipinas é uma ansiedade terrível. Às vezes melhora (nas férias e nos fins de semana, principalmente), às vezes piora, mas está presente em quase 100% do tempo. 

Um dia conto essa história toda de depressão e ansiedade (ela é longa e, na soma final, mais positiva do que negativa), mas o que temos para hoje é o fato de que o trabalho me deixa muito tensa. 

Racionalmente, sei que não há razão para tal. Sou atenta, cuidadosa, comprometida e "de fácil trato". Só recebi elogios de todos os chefes até hoje. Tiro 100 nas avaliações e ainda ganho observações congratulatórias. 

E é aí que mora o perigo. Quero fazer o melhor possível sempre. E, se não consigo, sofro, me angustio e e me agito. Só que esse comportamento não ajuda necessariamente a conseguir os melhores resultados. Além de me atormentar, também é um tiro pé.  

Meu psiquiatra (sim, tenho um psiquiatra em Manila, e ele é ótimo), me disse que a dificuldade de diminuir o perfeccionismo é que a resposta dos outros a ele é muito positiva. Os colegas de trabalho acham ótimo que eu seja tão dedicada. O Leo volta e meia agradece eu ter passado no concurso do Itamaraty. Ou seja, é um mau hábito reforçado a cada instante. 

Pessoas razoáveis dirão: mas você pode ser uma boa funcionária sem sofrer. E podia ter sido sido aprovada em último lugar das vagas, pois não faria diferença prática. Mas para mim é difícil aceitar isso. Na minha cabecinha, só há duas possibilidades: ser a melhor possível ou não me preocupar - o que equivale a chutar o balde total. 

E tem mais: a minha personalidade está toda construída em torno do fato de ser caxias. Não foi tão difícil largar mão das preocupações com a beleza e passar para o mínimo porque, afinal, eu me acho competente. Com o consumismo foi a mesma coisa.

O que quer dizer é que o plano é reconstruir a minha identidade. Como? Não tenho ideia. 

Mas estou certa de que será a melhor reconstrução de identidade de todas. 

domingo, 14 de junho de 2020

De volta ao trabalho presencial (Diários VI)


Desde segunda-feira passada, dia 7 de junho, voltei a trabalhar presencialmente. Quer dizer, meio período - no outro meio período, continuo em home office. 

A ideia é fazer um revezamento e menos gente se encontrar (e eventualmente se contaminar) no escritório. Mas é meio bizarro, para dizer a verdade. Minhas manhãs não rendem tanto e acabo esticando o horário presencial. Devia sair às 5 da tarde, mas ando saindo às 6. Ou 7. 

O prédio e nosso andar estão todos trabalhados nas medidas de segurança. Tapete desinfetante, álcool gel, medição de temperatura. Só 5 pessoas no elevador. Mais tapete desinfetante, mais álcool gel. Máscara o tempo todo. 

As ruas da região ainda estão bem vazias. O transporte público está voltando aos poucos, teoricamente mantendo as regras de distanciamento social. Isso quer dizer que muita gente ainda não consegue chegar aonde precisa. 

Por duas vezes, acompanhei o Leo ao supermercado (agora pode). Tentamos ir em horários que estariam vazios (e acertamos). Fizemos compras rapidinho, não fiquei cutucando os produtos (que é o que eu costumava fazer, pré-pandemia) e voltamos para casa. 

A sensação que tive era de estar voltando de uma longa viagem. O isolamento social em Manila começou em 15 de março, e desde então estive obedientemente em casa, saindo só para umas poucas e necessárias idas ao escritório para consultar documentos. Agora vejo a cidade com olhos de quem retorna. 

Não é que eu tenha sentido muita falta, pois estive bem e tranquila. Mas fiquei feliz por voltar.

* * * 

Estamos em EMGQ (quarentena reforçada modificada geral). Vamos ver se nos próximos dias passamos para a fase seguinte ou voltamos um passo atrás.