segunda-feira, 27 de abril de 2020

Diários do corona, parte IV

Faz um bom tempo que estou sem paciência para ficção. O último realmente bom que li foi a quadrilogia da Elena Ferrante, A Amiga Genial e seguintes.

Agora estou lendo The Fifth Season (A Quinta Estação) e estou apaixonada. Ficção científica, mundo pós-apocalíptico, universo paralelo. Personagens feminios e escritora mulher, N K Jemisin. Como a J K Rowling, do Harry Potter, iniciais em vez do nome. Provavelmente pela mesma razão: "leitores estão acostumados a (e gostam de) escritores masculinos". Afe.

Dito isso, no período em que trabalhei em casa, o Leo ajudou muito. Fez planilhas, compilou informações, pesquisou rotas. Então fico pensando no número de esposas/amantes/namoradas que deram o sangue para artistas/cientistas/políticos e jamais foram reconhecidas. Sabem aquela história, "atrás de um grande homem há uma grande mulher"?

Para finalizar: se eu fosse homem, provavelmente teria me animado a ter filhos. Afinal, a mulher vai parir, amamentar e cuidar dos mininu. Eu só ia ajudar.

Diários do corona, parte III

Eu não acho que o coronavírus seja um recado da natureza.

Eu não acredito que a pandemia veio ensinar nada para ninguém.

Eu acho que estamos todos lascados, uns muito menos lascados que os outros (e me incluo aí).

Dito isso, o ser humano é um criador de significados e um tecedor de histórias.

Se as pessoas derem sentido um sentido ao Covid-19 que deixe a vida delas mais fácil e que as torne indivíduos melhores, sou totalmente a favor.

Dito isso, estou com o Karnal: a solidariedade deixou de ser altruísmo e passou a ser necessidade de sobrevivência. Que os privilegiados (e me incluo aí) sejam um pouco menos egoístas, ou eles vão ver o resultado.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Diários do corona, parte II

Posso falar? Adoro ficar em casa. Então, para mim, passar a quarentena quietinha no apartamento não é problema, é solução.

Sei que para muita gente ficar em casa não é uma opção; que há quem viva em lugares precários e minúsculos, ou que nem tenha onde morar. Tenho consciência do meu privilégio.

Dito isso, há quem tenha o mesmo privilégio e esteja detestando o isolamento social.

Estamos em um daqueles raros momentos em que os introvertidos se sentem realizados como pessoas (nem consigo pensar em outro, para falar a verdade). O lockdown está sendo nosso carnaval e nossa micareta. Uma curtição!

É bem verdade que somente nos últimos dias estou, de fato, aproveitando o lar. Consegui uns dias férias depois de um mês trabalhando feito doida (e sem ver o tempo passar). Agora é que poderei tirar várias sonequinhas ao dia, acordar e dormir na hora em que bem entender, ler um montão de livros e ver um montão de séries, ligar prazamiga, escrever no blog. E, talvez, começar a sentir falta da rua.

Veremos.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Diários do corona, parte I

As últimas semanas foram complicadas para todo mundo (e todo o mundo). Aqui nas Filipinas, a quarentena começou no dia 12 de março e no dia 16 já virou quarentena reforçada, com praticamente tudo fechado e transportes todos suspensos.

Só uma pessoa da família pode sair de casa, para comprar comida e remédios. Essa pessoa é o Leo, que sabe chegar aos lugares e tem força para carregar sacolas pesadas. Ele vai ao supermercado uma vez por semana. Quanto a mim, estou em casa desde então, trabalhando sem parar, atendendo os turistas brasileiros que ficaram retidos nas ilhas quando os voos domésticos foram cancelados - e muitos internacionais também. 

Não teve feriado, fim de semana ou fim de expediente. Foram muitas aventuras, que incluíram fretar um avião para resgatar os brasileiros em sete regiões diferentes e que decolou sem ter permissão para pousar nos dois últimos (sim, elas foram conseguidas durante o voo) e uma quebra de isolamento para ir ao Aeroporto Internacional de Manila embarcar 34 brasileiros (de máscara e com muito álcool gel). A sorte é que os colegas de trabalho são ótimos e estivemos todos juntos nessa empreitada. Os repatriados chegaram ao Brasil neste domingo de Páscoa, então as coisas no trabalho estão mais calmas. 

Se der tudo certo, na quinta-feira saio de férias. Como a quarentena foi estendida até 30 de abril, não vou poder sair do país, da cidade ou de casa, e vai ser ótimo. Estou precisando é de cansar de descansar. 

Em suma, eu e o Leo estamos muito bem. Temos casa confortável para nos isolar, internet, tevê a cabo, livros, dinheiro para comprar comida. Temos um ao outro. Estamos tomando muito cuidado para não nos contaminarmos, nem contaminarmos ninguém. Tentamos ajudar os entregadores de comida com gorjetas gordas, os funcionários do prédio com produtos de higiene, o Projeto Bantu com doações, os vizinhos com pequenos favores. É uma gota no oceano, mas é melhor do que nada.