sábado, 10 de fevereiro de 2024

A aurora de dedos rosados

Em 2022, usamos as férias de fim de ano para ir visitar Noruega e Polônia, para incredulidade dos vizinhos de prédio que, na festinha de confraternização, nos contaram que estavam indo para o Caribe e a América do Sul. Embora a viagem tenha sido ótima (aurora boreal! pilhas de neve!), nos demos conta do erro de cálculo: se for para viajar no inverno, que seja para um lugar mais quente e ensolarado que a Suíça, e não para um onde o frio e o escuro sejam ainda piores. Em Zurique, as baixas temperaturas duram de outubro a março. Tem a sua graça, mas uma hora cansa. Aí você percebe como o clima no Brasil é maravilhoso, como a gente não valoriza etc. 

Assim sendo, em 2023 voamos para em Porto em dezembro e, agora, para a Grécia. As temperaturas estavam bem baixas (em Portugal, chegamos a pegar 0º C), mas o céu azul e os dias luminosos compensam tudo. 

O céu azul, os dias luminosos e a comida, claro. 

Começamos com três noites na ilha de Santorini. Essa é Oia, a cidadezinha mais famosa.

Depois partimos para a capital. Sim, o Partenon (templo da deusa Atenas,
que dá nome à cidade) está em processo de restauração. 

Mãozinha na água do Mediterrâneo em Flisvos, Atenas
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Quando criança, aprendi mitologia grega com a Enciclopédia Disney (volume 4, Grandes Aventuras e Mitologia. Na minha casa não tinha, mas na casa de uma tia em Ouro Preto tinha. Ela comprova belas coleções de livros e os três filhos não gostavam de ler. Pois bem, eu aproveitava muito as belas coleções de livros) e com Monteiro Lobato (o Minotauro e os Doze Trabalhos de Hércules. Também não tinha na minha casa, tinha na casa de um primo filho único a quem os pais davam tudo que o dinheiro podia comprar. Pelo menos esse primo não desgostava da leitura). 

Mais recentemente, li Circe, da Madeleine Miller, um releitura de vários mitos gregos da perspectiva da própria Circe, uma feiticeira imortal, e Stone Blind (traduzido como "O Olhar da Medusa" no Brasil), da Natalie Haynes, que conta a história da criatura que transformava seres vivos em pedra de um ponto de vista diferente (o dela própria). Ambos são muitos bons, mas o segundo é meio deprê, porque as mulheres (não importa se mortais, imortais, deusas ou monstros) se ferram demais. 

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Em Santorini, fizemos algo que não fazíamos há muito tempo: alugar carro (a última vez foi em 2018, quando trabalhei dois meses em Munique e quisemos aproveitar um feriado para explorar a Baviera). Em geral, somos adeptos do transporte público, até em lugares como a Provença, que fizemos alegremente usando os ônibus locais. Mas, como fevereiro é baixa temporada na Grécia, a frequência das linhas é baixíssima. Acabou sendo a melhor decisão, porque ganhamos tempo e pudemos explorar a ilha de norte a sul. 

Também foi bom para o Leo não perder a prática da direção (inclusive impressionou muito o moço do hotel com suas rés na subida e suas manobras para estacionar). Eu continuo sendo uma péssima navegadora, mas o Google Maps com voz ajuda demais. 

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Santorini é uma graça, mas estava parecendo uma ilha fantasma: 90% dos estabelecimentos fechados e ruas praticamente desertas (verdade que tinha muita obra rolando). 15 mil pessoas são residentes permanentes, e DOIS MILHÕES visitam todo ano. Ou seja, a alta temporada deve ser um inferno. Mas aposto que a média (primavera/outono) é ótima. 

(E por que fomos pra lá  na baixa temporada? Porque os preços despencam: pagamos 25% do preço do quarto de hotel com vista para a caldeira e uma piscina aquecida só para nós.)

A gerente do hotel me contou que a ilha tem várias escolas para as crianças, mas só uma escola técnica e nenhuma universidade. Ela mesma nasceu em Atenas e se mudou para lá quando se casou com um local. 

Achei um lugar bem curioso para se viver. Este blog é de uma moça que se mudou para Santorini depois de viver em Roma, Milão e Londres: One Quarter Greek

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Falando em se viver: Atenas tem embaixada? Teeeem. Então eu vou olhando tudo pensando que é possível um dia morar ali. 

Atenas é uma cidade grande: mais de três milhões de habitantes (um terço dos gregos mora lá). Tem o centro histórico lindíssimo e bairros normais, onde as pessoas vivem de verdade. Comparada com Zurique, ela perde nos quesitos trânsito, poluição e baguncinha. E ganha nos conceitos charme, comida e alegria de viver. Nenhum lugar é perfeito, a questão é escolher. 

Eu e o Leo adoramos bater perna na rua e conhecer bairros fora do circuito turístico, e em Atenas não foi diferente. Encontrei uma cidade muito parecida com Belo Horizonte (ruas e calçadas estreitas, subidas e descidas, predinhos estilo anos 80). A diferença é que Atenas é mais limpa e mais segura. 



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Em A Odisseia, o poema épico de Homero que é um dos textos fundadores da literatura ocidental, a madrugada (personificada na deusa Eos) aparece umas 20 vezes, e todas as vezes ela é descrita como "a aurora de dedos rosados". 

Pois bem, assisti a uns nasceres do sol na Grécia e Homero tinha razão: todos eles foram bem róseos.

O amanhecer na varanda do hotel em Fira, Santorini