Além de pão-dura, eu sou uma pessoa, digamos, exigente. Isso significa que minhas aquisições materiais, além de me fazem tirar dinheiro do bolso, o que nunca é motivo de alegria, correm o grande risco de não estar à altura das minhas expectativas. Antes que me acusem de má-vontade, deixem-me relatar alguns episódios:
Evidência número 1: as cortinas da discórdia.
As janelas da sala cobrem uma parede toda. Resultado: uma vista linda de árvores e verdes, mas um sol inclemente que bate sem dó de 6 da manhã até as 2 da tarde. Solução: uma cortina cara, de qualidade, de uma loja igualmente cara (mas de qualidade duvidosa, como me dei conta depois).
Encomendei bonitos bandôs enroláveis. O vendedor garantiu que eles resolveriam meu problema. Resolveram? Que nada. Deixavam praticamente toda a claridade entrar. Depois de longas negociações com a loja, instalaram uma segundo cortina na frente, essa em blackout (não de graça: a preço de custo). Resolvido? Que nada. A segunda cortina veio toda amassada e com a bainha enrugada. Outras longas negociações se seguiram. No fim, confesso que fui vencida pelo cansaço e fiquei com essa cortina mesmo. (Perceba, Ivair, a enrolância do cavalo: eles mataram dois funcionários, em duas ocasiões diferentes, como desculpa para não vir nos horários marcados.)
Evidência número 2: as telinhas do rancor.
Moramos no meio de árvores e verdes. O que é lindo, inclusive segundo vários tipos de bichos voadores. Para nos protegermos dos mesmos, instalamos duas telas nas grandes janelas do banheiro (e também foi caro. Tudo em Brasília é caro).
A loja colocou as telas, percebeu que elas não ficariam perfeitamente encostadas nos cantos (nas janelas tem umas molduras de madeira que terminam uns dois dedos antes de começar o mármore) e sabe o que fizeram? Disseram pro Leo: "Tampa com Bombril". Sério, gente. Você paga 4 dígitos 3 dígitos em duas telas mosquiteiras e o povo te diz pra tampar com Bombril. Liguei lá, pedi para eles virem dar um jeito. Depois de umas quatro ligações, eles vieram, olharam, disseram que dariam um jeito. E nunca mais voltaram. Vencida pelo cansaço, desisti de reclamar. Pelo menos essa loja não matou ninguém.
Evidência número 3: o cachecol da cizânia.
Encantada com sua felposidade, comprei um cachecol de cor duvidosa. Tive então a brilhante ideia de mandar tingi-lo. Levei-o à uma lavanderia e perguntei se eles tingiam. Sim, disse a velhinha fofa que me atendeu. "Vou usar tinta sintética e vai ficar ótimo."
Quando fui buscar o cachecol cor-de-burro quando foge, ele tinha virado marrom-escuro-quando-foge, e o burro tinha adquirido uma doença dermatológica, i.e., estava todo manchado. Apontei o fato para a velhinha fofa, que imediatamente prometeu comprar outra tinta, essa sim adequada ao material, e deixar o cachecol pretinho.
Na semana seguinte, fui buscar o cachecol, que estava... exatamente igual. (Aparentemente, essa é uma tática largamente difundida no comércio local. O povo das cortinas da discórdia também fez isso: buscou as cortinas amassadas de bainha enrugada para consertar e passar e devolveu exatamente as mesmas cortinas, só que mais amassadas pelo transporte).
Vencida pela exaustão (e pelo fato que o serviço custou apenas 20 reais), resolvi não brigar com a velhinha fofa, para evitar que ela matasse alguém da família. Fui para casa imaginando a maneira mais rápida de me livrar da abominação que o cachecol se tornou.