domingo, 13 de dezembro de 2020

A bolsa definitiva

Uso uma única bolsa: preta, básica, cruzada no corpo. Ela combina com tudo, é leve e confortável, e nunca perco tempo trocando conteúdos para uma outra. 

Ela só tem um problema: até o momento, os modelos que encontrei (e que estive disposta a adquirir) que correspondiam a essa descrição eram de couro ecológico. Depois de uns dois anos, elas começam a descascar, justo quando estou bem apegada a seus bolsinhos e zíperes, e não tem canetinha preta que disfarce.

Como aconteceu pela terceira vez, decidi abrir a mão e comprar uma bolsa mais duradoura. Convoquei o Leo e lá nos fomos para os shoppings, de máscara, face shield e bem na hora que eles abrem, quando estão quase vazios. 

Como sempre, a variedade na oferta de produtos femininos é de endoidar. Descartei de cara os couros sintéticos e os modelos coloridos. Fiquei de olhos nas de tecido impermeável e materiais naturais, como as leitoras deste blog recomendaram em um post antigo. 

No segundo shopping, o Leo logo achou uma bolsa bonitinha, bem a minha cara (vide abaixo). Coloquei e fui me admirar no espelho. Era de couro verdadeiro, mas fininho - logo, leve. Consultei a etiqueta: 64 dólares. Fiquei na maior dúvida. Embora a bolsa parecesse de boa qualidade, será que valeria tantos dólares?


Nessa hora o Leo me alertou que a gente estava viajando na conversão: não eram 64 dólares, ERAM 640 DÓLARES. Pelo menos resolveu a minha dúvida: não vale! 

Continuamos na labuta e mais um vez o Leo brilhou: em outra loja, achamos essa simpática bolsa: 


Ela é levíssima, tem um monte de zíperes e bolsinhos, alça regulável (a bolsa atual prestes-a-ser-aposentada tem um belo nó na alça, porque foi o jeito de acertar o comprimento), interior de tecido claro (aí dá para enxergar o que está lá dentro) e garantia de 2 anos. Ou seja, botei fé que vai durar para sempre. 

E custou menos que 64 dólares. 

sábado, 12 de dezembro de 2020

A (longa) reta final

Como a quarentena começou em março em Manila, estamos completando 9 meses cheios de restrições. Pelo menos não foi comprovada nenhuma contaminação por Covid por meio de superfícies, o que nos encorajou hoje a almoçar na mesinha de fora de um restaurante bem vazio (sendo que a única mesa próxima permaneceu desocupada). 

Há 9 meses nossa temperatura é tirada toda vez que entramos e saímos do nosso prédio e de qualquer supermercado; há 9 meses usamos máscara toda o tempo que saímos de casa (face shield: 8 meses); há 9 meses só encontramos os amigos em ocasiões ultraplanejadas, no parque, ao ar livre; há 9 meses não cogitamos sair de Manila, quem dirá das Filipinas. 

Todos esses cuidados funcionaram e estão funcionando: não pegamos Covid, nem tivemos suspeita de termos pegado. Para minha grande sorte, estive de férias bem na época em que a esposa de um colega testou positivo. Quando voltei ao trabalho ele já estava quarentenado. Ou seja, até agora escapamos de fazer o teste do cotonete que cutuca o cérebro. 

Enquanto isso, em vários lugares do mundo as pessoas se comportam como se a pandemia já tivesse acabado. Não estou falando de gente que precisa trabalhar para viver, mas a turma dos passeios, barzinhos e aglomerações. Dá vontade de copiar? Dá. Vamos imitar? Não. 

Pensamos a longo prazo. A longo prazo, ainda vamos viver muitos anos. Não vale a pena perder a paciência logo agora, quando as vacinas estão surgindo, correr o risco de nos contaminarmos e sofrermos sequelas imprevisíveis (a esposa do colega se recuperou, mas tudo ela que põe na boca está gosto de metal, inclusive pasta de dente. E isso é o de menos. Imagina ficar com pulmão comprometido? Eu só tenho um).

Mesmo com as vacinas surgindo, há um longo caminho pela frente. Vai demorar para ela ser aplicada maciçamente na população. Ou seja, estamos projetando mais 9 meses de quarentena, e imaginando que a próxima vez que vamos pegar um avião será na remoção para outro posto, no final do ano que vem. 

Estamos felizes com isso? Não. Estamos conformados? Sim.   

sábado, 5 de dezembro de 2020

A fritadeira

Quando eu era adolescente, minha mãe comprou uma Fritanella, um aparelho elétrico que prometia frituras fáceis e rápidas. Na prática, era necessário usar uma quantidade imensa de óleo e o troço era uma chatice para limpar. Minha mãe deve ter usado umas duas vezes e guardado para sempre. 

Assim sendo, vejo com muita desconfiança novidades eletrodomésticas. Quando a moda das fritadeiras elétricas chegou ao Brasil, não dei crédito nem bola. 

Os anos se passaram, estamos em plena pandemia, e o único lugar em que podemos ter aventuras é na cozinha. Pesquisamos uns modelos, vimos uns preços e, semana passada, demos de cara com uma air fryer de marca japonesa em promoção. Pronto, compramos. 

(Ok, confesso: o que nos fez dar o passo definitivo foi o fato de uma colega ter nos dado um pacote de coxinhas. Queríamos comer as coxinhas, mas não queríamos fritar as coxinhas.)

Chegamos em casa com o brinquedo novo e em cinco minutos limpamos, montamos e ligamos. As coxinhas ficaram lá dentro 12 minutos e saíram crocantes e deliciosas. Só não ficaram douradas (algo a ser remediado na próxima fornada com borrifadas de azeite).

Já fizemos batata palito, hambúrguer, linguiça, lombo fatiado, bastões de queijo. Fica tudo bom, e a cozinha continua limpa e sem cheiro. Carnes soltam água e gordura, mas é só forrar a parte de baixo do aparelho com papel alumínio que fica tudo bem. 

Não é sempre que as promessas de praticidade dos eletrodoméstico são verdadeiras (triturador de frutas e legumes? Um inferno para limpar). Mas essa fritadeira está sendo um sucesso.  

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Perdas e ganhos da pandemia

Perdi: a oportunidade de organizar um festival de cinema, um campeonato de futebol, um estande do Brasil em uma festa de países latinos. Perdi: o outono no Japão, a visita de amigos, uma temporada com meus pais e minha irmã. Perdi: 4 kg. Perdi: cabelos. Perdi: a chance de ser júri em um concurso de fantasias infantil e de participar de eventos organizados pelas embaixadas. 

Ganhei: tempo para ver seriados e ler livros. Ganhei: pratos deliciosos preparados pelo Leo. Ganhei:  oportunidades para cochilinhos. Ganhei: espinhas. Ganhei: fios brancos. Ganhei: um novo Kindle de teclas. Ganhei: grande apreciação pela casa. Ganhei: o hábito de usar máscara e face shield. Ganhei: horas sonhando com o próximo posto. 

Não perdi: a harmonia no relacionamento. Não perdi: a paciência, por enquanto. Não perdi: a vontade de viajar, mas estou tentando não dar atenção a ela. 

No fim das contas, o resultado foi positivo.  

Entretanto, observe-se, 2020 ainda não terminou.