sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Caso do Apartamento em Brasília, Primeira Parte

Eu estava conformada com os azulejos decorados de Brasília, juro. Aí apareceu um apartamentinho bem-localizado com banheiro e cozinha abençoadamente livres de flores e cores. Fiquei feliz da vida. Até comecei a acionar meus contatos na capital para que alguém fosse lá dar uma olhada. Mas ontem liguei na imobiliária e... uma pessoa tinha acabado de entrar com os papéis para fechar o contrato.
 
O resultado é que eu vou passar o fim-de-semana mentalizando pra alguma coisa acontecer com essa pessoa. Tipo ser chamada em concurso excelente em outro estado, receber uma oferta de emprego em Paris, herdar uma casa linda em outra cidade, ou descobrir que finalmente está grávida e vai precisar de um apartamento maior.
 
Dedos cruzados, ó.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Caso dos Cabelos de Prata

Mais um bonito fio platinado apareceu, dessa vez no alto da cabeça. O legal é que esses fios são meio espetados, o que quer dizer que eventualmente me livrarei da minha cabeleira lambida original e finalmente terei um pouco de volume.

 
Estou até pensando em deixar o cabelo crescer para mostrar ao mundo sua beleza. Sério. Se quando as pessoas envelhecessem os fios ficassem, sei lá, azuis, ninguém ia ter preconceito com os cabelos brancos. Com certeza ia ter muita gente fazendo luzes prateadas no salão.
 
É tudo uma questão de nome, gente. Se cabelo louro fosse chamado de amarelo, e o nome das tinturas não fosse "champanhe" e "mel", mas "vinagre" e "gema de ovo", ou "placa bacteriana" e "hepatite", o glamour ia ser muito menor, garanto.
 
O meu cabelo é castanho-escuro e acho muito legal ter fios de cores diferentes. Já paguei vários dígitos a cabelereiros para conseguir mechas "manteiga rançosa" e "cerveja passada". Agora a natureza quer me dar lindos reflexos da cor do luar. E de graça! Vê lá se eu vou passar tinta em cima. 

O Caso do Aviso

A irmã I. me contou que eu posso fazer postagens por e-mail. É muito prático e eu vou adotar. Isso significa que não visitarei o blogue com tanta freqüência e posts novos podem surgir antes das respostas aos comentários dos posts antigos.
 

(Só pra vocês não acharem que sou uma esnobe horrível que não responde aos comentários. Eu sou uma esnobe horrível, mas respondo aos comentários.)

 

terça-feira, 27 de julho de 2010

O Caso do Corpo Útil

Sempre fui péssima em esportes. Mas ninguém se preocupava com isso, porque, afinal, eu era uma criança magrela. O povo queria era que eu comesse mais e me agitasse menos.


Minha preocupação com o corpo começou lendo Capricho e continuou por meio da revista Cláudia e da revista Nova. Elas queriam que eu tivesse uma pele lisa e uniforme e nada de gorduras localizadas. Como alcançar o ideal? Fazendo tratamentos estéticos e usando produtos de beleza, claro (olá, consumo!). Quando aparecia alguma indicação de atividade física, o objetivo era só perder peso.


Há três anos anos achei que não estava tão magra quanto habitualmente e acompanhei o Maridinho em uma dieta. Perdi cinco quilos, o equivalente a quase 10% do meu peso. Não fez diferença alguma em minha vida, a não ser na satisfação de comprar roupas tamanho 36. E isso lá é conquista que faça alguém se orgulhar? Fala sério. Não é como se eu tivesse perdido peso por motivos de saúde. Foi pura vaidade.


Enquanto isso, continuei descoordenada, fraquinha, sem fôlego e sem consciência corporal. Mas isso não importa, porque afinal de contas eu sou magra, né?


Pois é, cansei. Eu não quero mais um corpo magro, eu quero um corpo útil. Que tenha força e coordenação, que consiga carregar pesos grande não fique batendo em quinas por aí. Que, em caso de necessidade, consiga me defender.


Ou, no pior dos casos, sair correndo.


quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Caso da Riqueza

Eu ando me sentindo muito rica e privilegiada ultimamente. E nem tive aumento ou recebi herança: é porque comecei a estudar um pouco de história e a me interessar pelo mundo que vai além do meu umbigo e percebi que minhas condições de vida são superiores a uma fatia gigante da população. Brasileira, porque mundial, então, nem se fala: tem guerras civis, conflitos étnicos e bolsões de miséria pelo planeta, enquanto eu fico aqui bem quentinha na minha casa segura e meu salário regular.

A primeira consequência dessa percepção é que eu não reclamo mais de quase nada. Porque, pensando bem, a maior parte dos meus "problemas" é ridícula. Achar ruim os azulejos coloridos das cozinhas dos apês em Brasília? Fala sério, né.

A segunda consequência é pensar o que eu posso fazer para mudar as coisas. Ajudar os outros é ótimo, mas não resolve. Dei outro aumento pra minha faxineira, dessa vez de 50%, mas olha só, ela teve aumento porque eu quis. As pessoas não deviam precisar depender da boa-vontade alheia para melhorar um pouquinho de condição. Eu não precisei: estudei em escola boa, tive apoio dos meus pais, fiz faculdade pública e arrumei um emprego bom.

Então a primeira coisa que eu vou fazer é votar em candidatos de esquerda, que se preocupam com o social e a distribuição de renda. Porque, no Brasil, ela está concentradíssima, não tenham a menor dúvida.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Caso do Bagulhismo

Eu não sei se é porque, quando eu era pequena, tinha de dividir tudo com a irmã D.; ou se é porque minha mãe adota o lema “quem guarda tem”. Só sei é que sempre fui adepta do bagulhismo radical, isto é, da capacidade de nunca jogar nada fora, e ainda requisitar o que os outros querem dar fim.

Isso é passado. Depois que arrumei um maridinho minimalista, fui percebendo que não precisava guardar todas as caixas vazias dos presentes de casamento (eu me agarrei a elas durante umas boas semanas), nem todas as revistas que eu compro, nem todos os livros que ganho. O que não quer dizer que virei uma pessoa totalmente desprendida – a roupas, como já contei, sou mais apegada -, mas melhorei bastante. Juro.

Mesmo assim, os preparativos da mudança estão sendo uma prova de fogo. Se dependesse do Maridinho, ele ia só com a roupa do corpo, o computador e a televisão. Já eu fico tentando avaliar se, na nossa nova vida, vamos precisar justamente naquele negocinho que, aqui, passamos seis meses sem usar.

Maridinho me convenceu facilmente a doar a bicicleta ergométrica e pesinhos e caneleiras do tempo do onça, mas fico dividida quanto aos itens de cozinha. Tudo bem que as nossas habilidades culinárias atuais se restringem a brigadeiro, ovo mexido e sanduíche, mas vai que em Brasília viramos gourmets? Lá tem um monte de lugares que vendem ingredientes diferentes e interessantes, oras.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Caso dos Conselhos

Eu tenho não só a petulância de achar que sei o que é melhor para a vida das pessoas, como também o mau hábito de contar para elas. Não é que elas peçam conselhos, não: eu é que viro na lata e falo "ó, se você fizer assim é melhor". Ultimamente tenho amaciado minhas preleções com introduções do tipo "ah, mas você já pensou nisso e naquilo?". Mas não desisto fácil: se a pessoa disser "já", eu continuo empilhando razões para convencê-la do meu ponto de vista.

Surpreendentemente, até agora ninguém me bateu. Talvez porque percebam que as minhas intenções são puras. Talvez porque achem mais fácil fingir que me dão razão e encerrar a conversa.

Em minha defesa, adianto que meus argumentos são geralmente racionais, lógicos, econômicos e pacifistas. Ainda assim, quero perder essa mania. É arrogância achar que sei mais do que cada um. Tenho de aprender a respeitar a autonomia das pessoas (argh!).

Agora, se me pedirem conselhos, aí são outros quinhentos. Estou liberada para dar minhas opiniões. E darei, muitas. Até porque vou ter várias acumuladas, né?