quinta-feira, 22 de julho de 2010

O Caso da Riqueza

Eu ando me sentindo muito rica e privilegiada ultimamente. E nem tive aumento ou recebi herança: é porque comecei a estudar um pouco de história e a me interessar pelo mundo que vai além do meu umbigo e percebi que minhas condições de vida são superiores a uma fatia gigante da população. Brasileira, porque mundial, então, nem se fala: tem guerras civis, conflitos étnicos e bolsões de miséria pelo planeta, enquanto eu fico aqui bem quentinha na minha casa segura e meu salário regular.

A primeira consequência dessa percepção é que eu não reclamo mais de quase nada. Porque, pensando bem, a maior parte dos meus "problemas" é ridícula. Achar ruim os azulejos coloridos das cozinhas dos apês em Brasília? Fala sério, né.

A segunda consequência é pensar o que eu posso fazer para mudar as coisas. Ajudar os outros é ótimo, mas não resolve. Dei outro aumento pra minha faxineira, dessa vez de 50%, mas olha só, ela teve aumento porque eu quis. As pessoas não deviam precisar depender da boa-vontade alheia para melhorar um pouquinho de condição. Eu não precisei: estudei em escola boa, tive apoio dos meus pais, fiz faculdade pública e arrumei um emprego bom.

Então a primeira coisa que eu vou fazer é votar em candidatos de esquerda, que se preocupam com o social e a distribuição de renda. Porque, no Brasil, ela está concentradíssima, não tenham a menor dúvida.

4 comentários:

  1. Oi, Lud. É o Jogo do Contente aplicado à consciência social. :-) E eu morro de vergonha de meus tropeços e reclamações alienadas. Essa semana estou comprando uma mesa. Eu já tenho uma mesa. Estou comprando uma mesa maior. E estou me sentindo fútil até o fundo da alma. É um saco, seria melhor só me permitir curtir a mesa, ora, que mal há em querer nossa casa bonita. Mas... sabe... é isso aí. O povo de Alagoas dormindo nas escolas, no chão, amontoados como bichos enquanto o ano letivo é coisa do passado e as crianças perambulam pelas ruas pisando em cocô de cachorro. E eu aqui pensando se ponho tecido ou madeira nos encostos das cadeiras.

    Há dias em que não gosto muito do mundo.

    Beijo.
    Rita

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  2. Oi Lud,

    Eu venho de uma família bem pobre. Meus pais não passaram fome na infância, mas foi por pouco. Nem nas perspectivas mais otimistas sonhavam dar aos filhos o conforto que eu e meu irmão tivemos. E eu já tenho uma renda familiar maior do que a dos meus pais. Tô muito, muito longe de ser rica, no sentido de não ter que fazer contas. Mas, financeiramente falando, não reclamo de nada, porque não acho justo, me reconheço claramente como parcela privilegiada da população.
    Como você, voto na esquerda e acredito que a renda tem que ser melhor distribuída. E tento não ser hipócrita: prefiro ter uma faxineira a cada 15 dias, pagando decentemente e dormindo com a consciência tranquila a ter uma empregada mensalista que faça tudo na minha casa e não tenha condições de viver dignamente. Mas não é assim que todo mundo pensa. Muita gente na classe média alta acha muito bom que haja miséria neste país pra poder manter seu padrão de vida de sinhazinha, com mão de obra barata à vontade.

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  3. Ritinha,
    você disse tudo: tem dias que o mundo não é muito "gostável" mesmo não.

    Iara,
    eu acho que tem mesmo essa contradição nas classes mais altas: o fulano vai ao "primeiro mundo" e volta elogiando (e criticando o Brasil), mas não percebe (ou não quer perceber!) que em país desenvolvido quase todo mundo é classe média e mão-de-obra é cara. Logo, não daria para ter doméstica, motorista, mecânico a preços módicos, como ele tem por aqui.

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  4. Resta sabem quem é de esquerda neste país, né???

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