segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O Caso do Espectro

O cunhado M. disse que meu feminismo prático é complicado para mulheres que estão tentando arrumar uma vaga no mercado de trabalho e/ou um namorado. Como se só existissem duas opções: perua total X esfarrapada de chinelos.

Expliquei para ele que existe todo um espectro de cuidados femininos. E que quem concorda de que muitos deles são imposição da sociedade sem embasamento racional pode optar por ficar na parte mais baixa do espectro, sem radicalizar. (Apesar de mães que acham que "não passar esmalte na unha" ou "não fazer escova" seja radical, ninguém vai apontar você na rua por causa disso. Acho que radicalizar é sacudir as expectativas mesmo, como passar máquina 4 na cabeça ou não se depilar.)

Não acho que meu feminismo prático seja o único feminismo possível (a Marta Suplicy é feminista e usa botox, uai). E vejo que a maior beneficiária dele, até agora, fui eu.

Fico pronta num instante. Arrumo malas num piscar de olhos. Não preciso passar em casa para trocar de roupa entre programas. Não ligo para o que as pessoas estão vestindo. Acho um monte de gente "fora do padrão" bonita. Não me importo com pequenas imperfeições em mim e no mundo. Não vejo mais E!Entertainment. Estou mais tranqüila, mais alegre, mais feliz. (sim, eu fico brava quando leio uma matéria sexista ou veja um comercial idem. Mas nem esquento com probleminhas do dia-a-dia.) Ah, e também ando me achando muito rica, agora que descobri que bolsas de marca que custam milhares de dólares e sapatos idem são inteiramente dispensáveis (nunca comprei nenhum dos dois, mas confesso que, no ápice das leituras das revistas femininas e dos blogues de moda, cheguei a achar que eles eram importantes).

Por sua vez, o Maridinho está achando ótimo. Ontem ele declarou que o meu feminismo foi a segunda melhor coisa que aconteceu a ele (a primeira foi casar comigo). É fato que meu nível de frescura despencou.

14 comentários:

  1. Nossa, que grande elogio do seu marido! O meu NUNCA elogiou o meu feminismo (mas também, ele já me conheceu feminista e, digamos, não-vaidosa; não houve mudança). Vou cobrar!

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  2. Eu diria que as experiências de viver sem vaidades são libertadoras. Às vezes nosso crítico-interior ainda quer nos irritar com auto-comentários preconceituosos, mas a gente manda pro espaço, e ponto. E rapidamente se lembra do $$$ economizado. Então fica tudo certo!

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  3. Concordo completamente com você, e posso falar com muita segurança sobre as entrevistas de emprego. Trabalhei boa parte da vida como secretária em multinacionais, uma posição machista e conservadora. Como já contei, sempre passeei livremente por fases mais peruas e outras menos, sem me preocupar muito com isso. Já fui a entrevistas de emprego com cabelos bem curtinhos, calça, camisa, sem pintar as unhas. Mas eu passava um batonzinho e tinha lá um brinco na orelha. Sempre odiei sapatos altos, então era um modelo feminino de salto baixo. O que pega nesses ambientes, eu tenho a impressão, é não parecer revolucionária. Então, 2 ou 3 sinais "femininos" são suficientes pra ninguém te achar uma pessoa estranha, mesmo em lugares pouco tolerantes.

    Como relacionamentos são muito subjetivos, não dá pra gente dizer muito o que funciona ou não: há homens que, seguramente, gostam de mulheres mais peruas. Outros que tem aversão total a qualquer sinal de peruíce. E acho que uma maioria que se acostumou a gostar dessa identidade visual do "feminino", mas dá muito menos importância pra isso do que pensam as mulheres. (Obs: depois de escrever notei que meu comentário foi heteronormativo total, mas a idéai funciona pra mulheres que gostam de mulheres também)

    Então, acho sim que exite uma exigência real com relação à aparência das mulheres, mas ela é muitíssimo menor do que a publicidade quer nos convencer.

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  4. tanto não existe essa dualidade que conheci meu bofe escândalo (atual noivo, futuro marido, disputado quase a tapa) na minha fase mais "baranga". de cunhada e sogra irem reclamar com ele que eu não usava maquiagem, vê se pode Lud.

    beijos pra vc e o maridinho!

    Fernanda DBPM

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  5. E algo bom nisso também é que a gente pára de cobrar essas frescuras das outras mulheres.
    A gente pára de ficar comparando, analisando, julgando toda mulher que passa na nossa frente. Achei isso libertador.

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  6. Eu ja passei exatamente a maquina 4 no cabelo e nem me achei tao revolucionaria assim...

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  7. Olá!

    Qual seu e-mail de contato?

    Abraço,
    Cristiano
    contato@webreside.net

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  8. Lolinha,
    o seu Maridão é mal-acostumado... inscreve o moço num desses programas "Troca de Maridos", que ele vai ver o que é bom, hehe.

    Ada,
    acho que viver sem vaidade é realmente libertador. E é aquilo: como agora me olho no espelho só vez em quando, e a palmos de distância, ando me achando um xuxu!

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  9. Iara,
    ótimo ter seu depoimento. Eu o achei muito reconfortante! Ninguém quer ser preterido numa promoção/emprego por causa de (falta de) esmalte.

    Fernanda,
    muito bom! Mas que coisa, cunhada e sogra se sentirem no direito de dar palpite na sua aparência. Corpo feminino é arena pública mesmo.

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  10. Ashen Lady,
    você tem toda razão. Eu ainda quero escrever sobre isso. Acho a rivalidade feminina uma porcaria. "Dividir para conquistar" é uma tática de guerra antiga e eficiente, né?

    Amanda,
    máquina 4 não é radical, não? Confesso que escolhi um número aleatório. Mas imaginei que fosse bem curtinho. Você já estava morando na França quando cortou assim?

    Cristiano,
    vou te mandar um e-mail.

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  11. Oi Lud, sim, maquina 4 é raspado mesmo, o que eu quis dizer foi que no momento eu nao me senti hiper radical. Até gostei do look, hehehe.

    Eu tinha 20 anos, quando vim pra França ele ja estava bem crescidinho de novo. :)

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  12. Amanda,
    eu estou gostando muito do meu cabelo curto, e achando que se ele fosse mais curtinho ainda, seria ainda mais prático. Ele ainda demora um pouco pra secar etc. Máquina 4 deve ser ótimo!

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  13. Oi!
    Eu também sou um bocado adepta da praticidade - por exemplo: a foto é meio antiguinha, mas já tem tempo que uso o cabelo megacurto. Não abro mão dos meus creminhos e de meus confortos e não dou bola, fácil, fácil, pra qualquer coisa de grife - por outro lado, sou tarada pelos gadgets mais modernosos e tecnológicos que são lançados no mercado; coisas tipo i-Phone, tablet notebooks ou até o GPS do carro me deixam muito mais ligada! rsss..... Muitas amigas dizem: "mas isso não é coisa de mulher!?!?!" então eu penso: bem, quem são mesmo os machistas? rsss......
    Por outro lado, confesso que não penso muito em toda essa história de feminismo - sei lá, quando entra o tal "ismo" na palavra, parece que sugere uma coisa de "ativista" que não combina muito com meu jeito de ser.

    É, acho que a leitura de todos esses seus casos vai me inspirar a escrever algo...

    bjs xará!

    Ciao!

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  14. Lud xará,
    Muito engraçados seus amigos... como assim, não é coisa de mulher? Eles acham que a gente é boba, é?
    Quanto ao feminismo, bem, só de ser formada em um curso tradicional e predominantemente masculino você já sendo ativista, huahuahua.
    Beijos!

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