Eu fui uma criança pulativa de cabelo curto, que só usava vestidinhos rendados em ocasiões especiais. Fui adotar bolsa e saia na adolescência, muito contra a vontade. Sempre gostei mais de calça comprida, porque eu vivo sentando em cima das pernas ou de perna cruzada igual índio, mesmo na cadeira da sala de aula ou do trabalho. E nunca hesito mais de cinco segundos antes de esparramar no chão, em qualquer lugar que haja filas e não assentos.
Apesar disso, houve um momento, entre os vinte e poucos e os trinta e poucos anos, que me entreguei inteira à busca da elegância e da beleza. Uma justificativa é o fato de minha mãe nunca ter sido vaidosa, e essa ter sido uma espécie de rebelião (meio fraca, é verdade, porque tenho duas irmãs que nunca exageraram na dose).
O que me consola é que meu pão-durismo nunca me abandonou. Eu não era de comprar muito e deixei de fazer luzes no cabelo quando achei que o preço tinha subido demais. Então jamais fiquei no vermelho por causa das vaidades. Mas gastava sem dó o meu bem mais precioso – tempo – lendo e pesquisando e pensando a respeito, montando combinações e investigando lançamentos.
A luzinha de alerta de que eu estava exagerando começou a piscar quando passei quase uma hora numa farmácia em Budapeste bisbilhotando perfumes e cosméticos qu estavam com o preço em conta. Sendo que eu e Maridinho tínhamos um único dia para ficar na cidade, tendo viajado quatro horas para ir e já sabendo que íamos gastar quatro horas para voltar. O resultado é que deixamos de ver coisas muito mais legais.
Uma segunda luzinha piscou quando eu li no blogue da Lola que uma porcentagem grande de mulheres acometidas de calvície na Inglaterra já tinha considerado o suicídio. E isso me pareceu tão triste e vão. E meu cabelo estava caindo que era uma coisa, mesmo após várias consultas e tratamentos. Aí eu decidi que eu não queria nem pensar em considerar a possibilidade, e a melhor maneira de fazer isso era separar meu valor pessoal da minha aparência.
Não foi tão difícil, porque eu já tinha mais de trinta e estabilidade afetiva e financeira. (Aparte: em análise retroativa, percebo que a vaidade não foi parte decisiva em nada disso. Nem na afetiva, gente: Maridinho me namorou magrela, de aparelho fixo, de blusa de plush verde-limão, e minhas incursões fashion nunca fizeram diferença pra ele.)
Sim, eu podia ter diminuído a dose da vaidade um tanto e pronto. Mas não, eu não sei fazer as coisas sem exagerar. Comecei com um experimento social, para ver se largar maquiagem, secador, esmalte, salto alto e roupas reveladoras fazia diferença na minha vida: não fez e eu continuei alegremente sem os três primeiros, e evitando como dá os dois últimos (porque eu não vou jogar metade do meu guarda-roupa fora, né? Tô conciliando a agenda do feminismo com a agenda do pão-durismo).
Isso não significa que eu não me preocupo absolutamente com a minha apresentação e saio por aí de pijama com manchas de chocolate. Quer dizer que eu tomo os cuidados exigidos do homem ocidental, e isso já me deixa mais arrumada do que os 30% dos homens que não tem noção de combinação de cores.
As vantagens do meu novo estilo de vida são várias: estou usando meus poderes para o bem. Gasto minha memória, minha inteligência e meu tempo lendo livros e textos interessantíssimos e úteis. Estou sempre pronta para qualquer programa. Meus pés não doem mais. Uma espinha não me arrasa. O que me incomoda mesmo são as desigualdades sociais e a misoginia não a falta de estilo das pessoas. Gosto mais de gente. E, o mais legal de tudo, gosto mais de mim.
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ResponderExcluirExcesso faz mal, em qualquer lugar e situação. Quase todas as mulheres e homens que eu conheço são prisioneiros das modices, e não se cansam em tentar se adaptar à elas.
ResponderExcluirMinha mamãe, p.e., é muito mais comedida, sempre nos lembrando que 'toda moda que vai volta, não se preocupe tanto com ela'. Acho válido reverter seus pensamentos, gostos e gastos para o que te faz bem e te deixa confortável.
Eu fui e estou sendo uma vítima da moda ainda, mas também comecei a refrear meus impulsos consumistas, já que a maioria dos lançamentos estéticos, sejam roupas, calçados, maquiagem dnetre outros, tem a única e exclusiva função de 'impulsionar o mercado'.
Então mais vale um determinado valor na conta bancária, ou em livros, ou CDs de qualidade, ou qualquer coisa, que uma bolsa de couro de mais de um salário mínimo. Semana passada, ao procurar aquela bolsa-carteiro, da qual te contei, deparei-me com uma loja famosa, em liquidação, cuja mercadoria custava 899 dinheiros suados.
Eu saí de lá muito revoltada, não com o público destinatário desta bolsa, mas em pensar que muitas famílias vivem com esse valor, e pagam transporte, alimentação, saúde, educação, dentre muitas outras coisas.
Em contra partida, eu me apego muito com a tática 50, 30, 20 (do seu salário, 50% para necessidades, 30% para poupança, 20% para consumo). Isso quer dizer que o consumo (20%) inclui livros, roupas, consertos não essenciais, ticket do metro, papelaria, lanchinho da padaria, e mais um monte de coisa. Sobra para esmaltes, pó bronzeadores, batons, lápis, máscaras, brincos da última coleção? Muito provavelmente não. E para mais um scarpin preto MARAVILHOSO, para sua coleção de 10 pares? Também não, a não ser que você economize X pãezinhos do café-da-manhã. Tirar da poupança ou deixar de pagar contas, para ceder a desejos, deveria estar fora de cogitação (os altos índices de inadimplência vêm daí não? alguém aqui já observou que a maioria dos empréstimos consignados são destinados ao consumo de bens não-duráveis? algum economista na área?).
Isto não quer dizer que eu tenha outros desejos impetuosos fora de hora, com cores e esmaltes, mas isto conto outro dia lá no meu blogue.
Por ora, paro de escrever aqui. ;)
Beijo
Certíssima! :)
ResponderExcluirComo eu te falei, nunca me senti sacricando o tempo em nome da vaidade, por isso nunca pensei neste aspecto de uma maneira mais radical, como a sua. Quando você falou num outro post sobre a menina que está concorrendo a uma vaga no vestibular, mas sente que se não passar no salão pra fazer pé-mão-hidratação isso vai abalar sua auto-confiança, percebi o quanto estava olhando as coisas só pelo meu ponto de vista desapegado. Porque quando eu trabalhava e estudava só fazia as unhas para ir a um casamento, uma vez na vida e outra na morte. E assim com todos os processos de "embelezamento": se eu tivesse tempo e vontade, ok. Se eu achasse chato e desnecessário, nem pensar.
Mas pessoas não são desapegadas, né? Elas realmente acham que isso é importante, que vai fazer diferença na vida delas. Lembrei da história maluca do pessoal que saiu às ruas pra protestar contra a proibição das câmaras de bronzeamento. Há uma inversão de valores e as coisas passam a tomar uma proporção que não deveriam ter. "Se cuidar" e "ter um tempo só pra você", passaram a ser sinônimos de alimentar essa indústria. Triste demais.
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ResponderExcluirA minha vaidade também demorou a ser despertada acho que também por não ter uma mãe vaidosa. Até comentei sobre isso há pouco tempo no meu blog...
ResponderExcluirLá pelos 15 anos, por influência de amigas, é que comecei a usar roupas mais "femininas", maquiagem e seguir rotinas que não me agradavam, como ir a salão toda semana e usar sapatos bonitos mas desconfortáveis que já chegaram a machucar...
Hoje em dia acho que sigo um meio-termo entre ser "vaidosa" ou não, salão só umas três vezes por ano, maquiagem uso pouca quando tô a fim e é porque gosto, mas não faço mais nada que seja desconfortável, que gaste muito dinheiro ou que me dê a impressão de estar jogando tempo fora...
Abçs!!!
Acompanho seu blog há muuuuito tempo, embora você possa nem imaginar e adorava os posts antigos.
ResponderExcluirClaro que te achava um pouco bitolada em moda, maquiagem etc e tal, mas isso nunca me desagradou, já que te visitava porque você tem um jeito de escrever muito leve e descontraído.
Não estou sentindo falta das suas dicas de antes, porque eu não uso sapato que sei que deixa meu pé doendo, não uso maquiagem para trabalhar (e raramente para sair), faço as unhas quando a cutícula me incomoda muito, não chego perto de secador e não costumo me privar de comer chocolate.
Tudo isso para dizer que estou gostando do blog. Mas e aí? Será que um dia você vai voltar a usar maquiagem sem culpa? Aliás... Tem essa vontade?
Lud, fico muito confusa quando penso nessas questões...Eu sou jovem e minha profissão é algo que me exige estar pelo menos bonitinha para exercê-la... Meu marido (muito mais velho que eu) sempre me diz que me acha linda sem maquiagem, sem acessórios, mas às vezes fico chateadinha, porque eu penso assim: Adoro maquiagem, adoro meu cabelo, loguíssimo e preto, minha altura... Aí também se une à idéia de que talvez ele não queira me ver maquiada e bem vestida por insegurança mesmo, egoísmo puro ou ainda por questões religiosas dele, que desconfio estarem por traz....Fico sempre pensando: Acho que vou continuar me maquiando para me sobrepor à essa idéia egoísta dele e me manter na direção de minha própria vida....O que vc acha?
ResponderExcluirBjos.
Sorry,
ResponderExcluirOnde está traz, leia-se trás...rs
Ada,
ResponderExcluirque bom que você está repensando seus gastos.
Como diz minha mãe, uma bolsa que custa 899 reais, no nosso país, é um acinte. Porque tem família que vive um mês inteiro com isso!
Iara,
não, as pessoas não são desapegadas. E não se dão conta disso. Elas juram de pés juntos que "escolhem" se preocupar tanto com a aparência. É ingenuidade, eu acho.
E o caso do bronzeamento seria cômico se não fosse trágico.
Jarid,
obrigada!
Eu também acho que dinheiro gasto com comida é muito mais bem-empregado. No meu caso, eu tenho grande queda por chocolates e vinhos...
Laurinha,
ResponderExcluiro engraçado é que você pode apostar que as suas amigas achavam que estavam te fazendo um grande favor. Te ajudando a valorizar seu potencial feminino, sabe? Que bom que você não caiu nessa para sempre.
Isabella,
não digo peremptoriamente que eu jamais voltarei a usar maquiagem. Mas não ando pensando em voltar a usar, não. Porque não vejo vantagem, sabe? Estou escrevendo um post sobre isso.
Não sinto "culpa" em usar maquiagem, sabe? Se eu fosse a uma festa à fantasia de palhacinho, por exemplo, me pintava toda sem problema.
Anônimo,
ResponderExcluireu acho que tudo é contexto nessa vida. Maquiagem pode ser submissão às exigências sociais para algumas pessoas, transgressão para um travesti, auto-afirmação para você. Logo, perfeitamente válido.
Mas aí é aquela coisa: você acha justo que a sua profissão exija que você esteja bonitinha para exercê-la? Se um dia você não for mais bonitinha você vai ser despedida? Ela exige o mesmo dos seus colegas de trabalho homens?
E o seu marido, ele também não gosta que você seja o centro das atenções ou que receba um aumento? Se ele não gostar, aí ele te achar linda sem enfeites é meio suspeito, sim. Mas se ele te dá o maior apoio em tudo e é seu fã, talvez seja gosto pessoal dele mesmo.
No fim das contas, acho que o importante é refletir e chegar às próprias conclusões. Para não ser vaquinha de presépio, sabe?
Oi, Lud.
ResponderExcluirHoje me senti obrigada a te citar no meu blog, que acaba de nascer.
Espero que vc seja inspiração para muitas meninas!
Beijos chanélicos!
http://dechanelnalaje.wordpress.com/2010/02/12/segunda-licao-voce-nao-deve-estar-bonita-para-os-outros-e-sim-para-voce-mesma/
Brigada, Chanel!
ResponderExcluirJá fui lá.
Sabe que eu estou na onda de comprar esmaltes para cubrir essa necessidade tonta de consumir? Esmaltes sao baratinhos e aqui nos EUA a gente mesmo faz as proprias unhas. Mas cara eu ja gastei tubos com 'beleza'. Se tivesse aumentado minha colecao de livros teria ganho zilhoes mai...minha mae eh vaidosa, trabalhei 10 anos com cosmeticos. Pense o quanto eh dificil para mim por a cabeca no lugar e prestar atencao ao que meu marido, por exemplo faz para sair de casa. Acho que a coisa de 'beleza' que ele mais se demora eh fazer a barba. Enquanto eu fico na tosquice de ateh usar torturador de cilios e prime antes da maquiagem. Mas eu ainda tenho conserto. A primeira atitude eh para com o 'tenho de me cuidar'. Argh!
ResponderExcluirbjs
ai Lud,eu fui uma adolescente que só usava bermuda ciclista e camiseta GG (e sou muitp magricela). Nos meus 15 anos minha mãe faria uma festa se eu me submetesse ao book. Fiz pra agradar a família, mas não abri mão de escolher a roupa da festa: um terninho cinza! hahaha..óbvio, porque em julho faz frio. Mas ninguém gostou (só eu). Me casei em outubro passado e estava de vestido fúcsia. Novamente ninguém entendeu. Nem eu. Sou vaidosa, mas prefiro o conforto aliado a vaidade. Escolhi o vestido com pressa e pelo preço, até porque o importante era casar! beijo e adoro seu blog!
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