terça-feira, 27 de abril de 2010

O Caso da Pequena Mudança

Voltei da Austrália menos radical. Continuo não ligando muito para a aparência, mas não me importo tanto se estou vestindo roupa unissex. Primeiro porque aqui faz um calor danado, e achei besta renegar todos os vestidos e blusas de alça (que não são curtíssimos nem decotadões, só frescos). Segundo porque a crítica à moda/maquiagem vem junto com a crítica ao consumo exagerado, e não faz sentido precisar reformar o guarda-roupa pra pregar o feminismo, né?

Além do mais, não dá pra esconder o fato de que eu sou mulher, seja lá o que isso signifique. Lembro que a uns dois anos tive uma psicóloga picareta que dizia que eu tinha que "desenvolver minha feminilidade". E eu perguntava "Mas o que é feminilidade?". E ela respondia "O que é feminilidade PRA VOCÊ?".

Pois é, acho que ninguém sabe direito. (E se alguém responder que é batom, saia e cor-de-rosa leva uma sapatada. E de sapato macio e sem salto, tá?)

Mas uma coisa eu sei: o fato de ser mulher não é um limite. É um ínicio de possibilidades.

sábado, 24 de abril de 2010

O Caso da Sorte

Não é sempre, mas às vezes o feminismo, a economia e a aversão aos sapatos realmente horrendos se encontram e a Lud acha uma sapatilha Usaflex de couro, prata velha, do número dela e pela metade do preço.

Eu sei: a Usaflex tem sapatos realmente horrendos, mas esse (assim como outro que eu estava usando aqui) é lindinho, juro. E os sapatos da marca são os mais confortáveis que eu já usei. Incluindo as sapatilhas, que não mastigam meus tendões como outras costumam fazer.

Aproveitei e pedi para a vendedora guardar o único outro par que tinha na loja para uma amiga que vai viajar. Ela é uma amiga muito bem-arrumada e fã de saltos, mas com esse golpe eu tenho certeza que a trago para a turma dos sapatos baixinhos e macios.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Caso da Irritação

Acho que o que mais me irrita nos padrões de beleza impostos às mulheres é que a gente nunca está pronta pra nada. Vamos ali no clube nadar? Peraí, tenho de checar se a depilação está em dia. Vamos a uma festa de casamento em meia hora? Ah, não tem jeito, não tenho vestido, as unhas não estão feitas, e o salão? Vamos passar na casa dos meus tios? Imagina, conhecer sua família com essa roupa horrorosa, claro que não. Dorme aqui em casa? Ih, não dá, como é que vou trabalhar amanhã vestida do mesmo jeito. Etc. etc.


Em suma: a gente se diverte muito menos do que poderia.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Caso da Mudança

Agora é oficial: em setembro nos mudamos pra Brasília. Diz o Renato Russo (em Faroeste Caboclo, lembram?) que "neste país lugar melhor não há". Confirma?

Só estive lá quando eu era criança. Tenho vagas lembranças de ter tido catapora, de minha mãe não ter me deixado nadar na famosa piscina de ondas (para não contagiar as outras criancinhas, humpf), de ter voado de avião pela primeira vez (e de perguntar insistentemente onde ficava o pára-quedas até um cara nervoso gritar para eu ficar quieta, o que me deixou magoadíssima). Ou seja, não sei muito bem onde estou me metendo.

Acho que vai ser ótimo: vou trabalhar em uma área diferente e, espera-se, empolgante (que área, exatamente, ainda está em discussão. Mas as duas opções são ótimas). Fico pensando na biblioteca do Senado, na UnB (adoro uma universidade), na arquitetura do Niemeyer e nos lugares bonitos e arborizados para caminhar. Estou tentando abstrair o preço absurdo dos aluguéis no Plano Piloto (sim, já comecei a olhar na internet) e a feiúra dos apês disponíveis (disponíveis pra mim: pagando 4 mil reais por mês, tem coisa bem bonitinha). Ah, as cerâmicas da época da construção da cidade. Os armários do tempo do onça. Os boxes de acrílico. E os rejuntes? Alguém aí sonha em montar um laboratório caseiro de penicilina?

Mas não é razão para arrancar os (meus poucos) cabelos: já descobri que procurando muito mesmo e não me importando de pagar três vezes o que custa aqui um apartamento novo e espaçoso, dá para encontrar opções parcialmente reformadas (na década passada; reformado nos anos 80 não vale), com dois quartos e dois banheiros (essencial para receber as visitas que estão me prometendo).

Não estou reclamando, só estou comentando. E como eu dizia, a UnB...

domingo, 11 de abril de 2010

O Caso das Australianas

Achei o relacionamento das australianas com a aparência bem diferente do nosso (modo generalização ativo).

Um monte de mulheres não usa maquiagem e/ou faz as unhas. As mais jovens são mais chegadas nessas coisas (acho que é influência americana), mas mesmo assim elas saem descabeladas e descalças (descalças, juro!) quando lhes dá na telha. Existem revistas de celebridades e revistas femininas, mas não muitas.

Nas cidades grandes em que estive - Melbourne e Sydney -, o pessoal usa as roupas do jeito que bem quer (incluindo os homens). O que significa muitas combinações e cabelos que umas das meninas que estavam comigo achou hor-rí-veis, e que eu adorei, porque o povo não se preocupa em "estar na moda". Acho que tem um cuidado com o visual, sim, mas a idéia é mais "se expressar" do que seguir um padrão.

Nas cidades do interior, não tinha ninguém de cabelo rosa, mas vi montes e montes de cabelos brancos/curtos entre as mulheres de 40/50/60. Uma das mulheres que me hospedou estava na casa dos 60 e pintava o cabelo de castanho-escuro, com altas mechas vermelho-sangue. Liberdade total.

E o pessoal definitivamente valoriza o conforto, mesmo nas ocasiões formais. Sapatos baixos pra tudo quanto é lado, poucos decotes e, engraçado, algumas moças de saias e shorts curtíssimos. Mas sem o menor apelo sensual (eu pelo menos achei).

As australianas são menos "bonitas" do que as brasileiras (pelos nossos padrões)? São. Mas elas não me pareceram ser menos felizes por causa disso. Nem ter mais dificuldades em relacionamentos (os quais muitas vezes elas tomam a frente para iniciar). Tem desigualdade entre os gêneros na Austrália (salários menores, menor representação política)? Tem. Mas as pessoas têm consciência disso e o governo banca programas para combatê-los. E as mulheres me pareceram muito independentes (pra sair da casa dos pais, para escolher carreiras, para abrir negócios - mais de 30% das pequenas empresas australianas são comandadas por mulheres).

Existe uma ligação direta entre a menor preocupação com a aparência das australianas e sua situação na sociedade (que me pareceu melhor do que a das mulheres brasileiras em geral)? Será que a segunda é causa da primeira? Será que a primeira acaba retroalimentando a segunda? Será que a beleza brasileira é uma estratégia de sobrevivência em um país machista e em desenvolvimento?

Eu só sei que a mulher australiana gasta menos tempo, dinheiro e neurônios com o visual. E ninguém morreu por causa disso.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Caso da Praticidade em Viagens

essa viagem à Austrália, de cinco semanas, inaugurei uma nova era da praticidade: cabelo curto e sapatos totalmente confortáveis.

Enquanto as minhas amigas de cabelos longos sofriam com os banhos rápidos, as chuvas eventuais e as casas nas quais não havia secador, eu lavava a cabeça em dois minutos e ainda podia dormir com o cabelo molhado. (É verdade que aí às vezes ele acordava arrepiado, mas eu botava um boné enquanto trocava de roupa - manha do Maridinho! - e pronto, ele voltava ao normal.)

Enquanto as moças do grupo xingavam as caminhadas prolongadas, eu saltitava alegremente no meu tênis (preto) e em duas pseudo-sapatilhas dessas linhas conforto. (Nenhum dos duas foi barata e eles não são exatamente lindas, mas visualmente elas enganam bem e meus pezinhos ficaram ótimos.)

Devo acrescentar que o uniforme do programa (camisa pólo e calça jeans) ajudou muito na praticidade: não tinha de ficar pensando no modelito do dia. O fato de os australianos serem bastante informais, também.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Caso dos Detalhes do Intercâmbio Profissional

O intercâmbio foi no estado de Victoria, que fica no sul da Austrália. Fiquei hospedada por cinco famílias em cinco cidades diferentes: Ballarat, Nhill, Geelong, Portland, Colac. E bota diferentes nisso: Nhill tem 800 habitantes; Geelong, meio milhão. Fui a fazendas, plantações, empresas e portos. Na parte profissional, visitei dois escritórios de advocacia, dois de contabilidade, dois tribunais, dois jornais e um estúdio de tevê (é, eu sou formada em direito e comunicação. No meu trabalho mexo com legislação, mas é claro que as visitas jornalísticas foram muito mais legais. Se bem que a Suprema Corte Australiana estava visitando Geelong. Jamais esquecerei os juízes de toga vermelha e peruquinha branca com rolinhos laterais).

Fizemos apresentações sobre nós, nossos empregos e o Brasil (7 vezes) e respondemos a milhares de perguntas. Nessa hora meus estudos históricos e geográficos compensaram lindamente.

Os australianos são fofos. Eles são amigáveis, receptivos e bem-humorados. Gostam de argumentar e trocar idéias. Não ligam a mínima para as aparências (dei altas dicas de como economizar em NY para um engenheiro simpático de jeans e tênis, e depois me contaram que ele tinha um Porshe na garagem).

A Austrália que eu conheci é muito arrumadinha e limpinha. Não vi pessoas carentes em Victoria. Já em Sydney havia três pedindo dinheiro muito humildemente. Há uma rede de proteção social muito boa: seguro-desemprego eterno, auxílio-aluguel, educação e saúde gratuitas e de boa qualidade, apesar de eu ter escutado reclamações sobre filas para intervenções cirúrgicas. Quem não quer esperar e pode pagar pode apelar para os planos de saúde privada.

Por outro lado, faltam profissionais de saúde. Dentista, então, nem se fala. Os que existem adoram arrancar dente, e o resultado é que vimos muita, muita gente bem de vida sem dentinhos aqui e acolá na boca. Como disse a dentista da nossa turma, "Na Austrália pré-molar é luxo".

O custo de vida é alto. Tudo é caro, de comida a roupa a aluguel. Por outro lado, as pessoas ganham bem. Um advogado formado a pouco tempo me contou que ganhava 40 mil dólares australianos por ano. E que profissionais técnicos, como eletricistas e motoristas, recebem tão bem quanto ("e os horários de trabalho são melhores," brincou o advogado).

A Austrália é um país muito novo: a Constituição Federal deles é de 1901. Ou seja, não tiveram tempo ainda de desenvolver uma cultura marcadamente própria. Quase tudo é herança direta dos ingleses/escoceses/irlandeses, pelo menos no estado que visitei. Eles gostam muito de dar nomes aborígenes às cidades, mas exterminaram quase toda a população nativa (igualzinho a gente fez, mas pelo menos no Brasil os portugueses se reproduziram alegremente com as índias, então pelo menos a herança genética ficou. A avó do Maridinho jura que a mãe dela era índia da tribo, e o meu cunhado tem olhos e cabelos negros como a asa da graúna).

Então, na parte cultural, o Brasil é muito mais legal. E eu realmente tenho esperanças que vamos conseguir transformar crescimento econômico em desenvolvimento econômico, com mais oportunidades e melhor distribuição de renda pra todo mundo, igualzinho à Austrália. Aí sim.


domingo, 4 de abril de 2010

O Caso da Identidade

Cortei o cabelo curtinho, o que foi ótimo, e não estava usando maquiagem nem esmalte nem acessórios, fora brincos pequetitos, o que também foi muito prático. Só que o uniforme 1 do intercâmbio era terno e gravata e o uniforme 2 era camisa pólo que veio do modelo errado (reto). Resultado: virei um menino pré-adolescente!

Conheço muitas mulheres que continuariam parecendo mulheres sob as mesmas condições de temperatura e pressão. Esse não foi o meu caso. E não é coisa da minha cabeça, não: eu percebia as pessoas me olhando perplexas, sem saber onde me encaixar. Sim, porque eu parecia um menino, mas a voz e o gestual continuaram femininos (eu não consigo conversar sem as mãos). Em uma das matérias que fizeram sobre o grupo no jornal local, a jornalista achou por bem frisar que eu era uma "mulher casada de 33 anos". Nenhum dos outros participantes mereceu uma definição de gênero.

Confesso que achei estranho me olhar no espelho e não me reconhecer. A minha tese era que mulheres e homens e podiam se vestir de maneira muito prática e semelhante e não ia dar problema nenhum. Que as mulheres iam continuar parecendo mulheres e os homens, homens. Mas a prática (involuntária) não funcionou assim, pelo menos pra mim. Bem que uma amiga minha dizia, citando um pensador dessas questões, que "gênero é performance".

Para completar, eu estava em um programa de troca de experiências profissionais. O meu aspecto pré-adolescente não estava impressionando, não.

Aí apelei: voltei a usar batom e base em pó nas olheiras.

Meio que funcionou. Mas os australianos continuaram me achando "tiny" (minúscula).

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Caso da Volta da Austrália

Tô voltando! Amanhã, sexta-feira 02 de abril, embarco em Sydney às 10 da manhã. Aí passo em Auckland, Santiago, São Paulo e finalmente chego em BH, às 11 da noite da sexta-feira mesmo.

Rapidinho, né? Quem dera: o vôo total dura mais de 30 horas. Só que eu ganho um dia inteiro, novinho, só pra mim, quando ultrapasso a linha internacional de data. Mas na verdade estão só devolvendo o dia que me tomaram quando passei pela linha indo pro lado de cá do planeta.

Volto com um monte de casos e algumas idéias novas. Contarei tudo em capítulos diários ou quase diários cheios de emoção. Adianto que passei a mão em coala, dei comida a canguru, vi ornitorrinco, tomei banho de foca, passeei no bush, tomei um monte de vinho, comi um monte de BBQ, falei mil coisas do Brasil e perguntei mil coisas da Austrália (Oz, para os íntimos).

See ya, mate!