terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Caso Complicado das Mulheres-Objeto

Tem muitas coisas na nossa sociedade misógina que eu acho uma porcaria, e entre elas está a superexploração da imagem da mulher como objeto sexual para vender, bem, tudo. De automóvel a celular a produto de beleza e a espaço publicitário (aumentando a audiência do programa).

É claro que para isso é necessário um estoque de corpos femininos belos e jovens dispostos a se expor. E o que eu acho disso? Primeiro, eu não acho inofensivo. Acho que reforça os estereótipos de mulher-enfeite, de cidadã de segunda classe que deve ser vista e não ouvida, de que a beleza é a aspiração máxima de cada mulher. (É diferente para os “homens-objeto”: modelos depilados desfilando de sunga não fazem que o eleitorado passe a exigir políticos ou apresentadores de jornal belos e malhados, ou que muitas mulheres arrumem amantes musculosos porque o marido “embarangou”.)

Dito isso, eu entendo perfeitamente que um monte de mulheres ache que ser modelo fotográfico/dançarina na tevê/personagem gostosona de programa humorístico seja a maior vantagem. Porque, de imediato, paga as contas (às vezes muitíssimo bem) e tem uma galera aplaudindo. Para muitas, em uma sociedade que paga menos à mão-de-obra feminina, que acha mais importante educar os filhos do que as filhas, que não estimula nas meninas os talentos esportivos/intelectuais, é um jeito de sobreviver ou progredir financeiramente. Então eu não tenho nada contra as mulheres-fruta e similares. Não as critico como pessoas. Minha crítica é à situação em que elas estão ou foram colocadas. Sendo que o mais cruel é que vira um círculo vicioso: quanto mais a mídia as mostra, mais pessoas acham que isso é a regra, mais meninas querem ser assim quando crescerem, e por aí vai.

Penso na Geyse Arruda. Acho triste que ela tenha sido vítima do patriarcado misógino e, fazendo cirurgias plásticas e saindo nua em revistas masculinas, vá reforçar exatamente o patriarcado misógino. Não estou dizendo que eu, no lugar dela, faria diferente. Ela tem mais é que garantir o dela. Mas que acho triste, acho.

8 comentários:

  1. Acho mesmo o caso da Geyse um grande desperdício de oportunidade. Durante semanas a figura da Geyse permitiu um rico debate em torno do machismo e da crise de valores em que estamos mergulhados até o pescoço; a conversa invadiu a blogosfera, ganhou um pequeno espaço na grande mídia. Aí o que ela faz disso? Alimenta generosamente o mesmo sistema que cuspiu nela. Não estou julgando a Geyse, isoladamente. Não consigo imaginar no que a vida dela se transformou naqueles dias. Estou tentando olhar para esse mecanismo tão eficiente que faz com que a mulher alimente a máquina que a atropela. E me pergunto: em maior ou menor grau, faço o mesmo quando pinto o rosto? Não tenho resposta para isso.

    (Pensando...)

    Bjs.
    Rita

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  2. Concordo com vc... Pra mim o problema não é a existência de mulheres frutas, mulheres que vivam de ser gostosonas... Pra mim o problema é tanto destaque, tanta repetição, que acaba passando que pra mulher vencer na vida só se for por esse caminho... E os mesmos que colocam essas mulheres lá no alto, são os mesmos que as criticam e as colocam abaixo de zero depois (talvez pra que elas não achem que tenham "poder" demais).

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  3. Isso é tão difícil de explicar para as pessoas, que quando a gente cita uma mulher fruta XYZ não é uma crítica pessoal à mulher fruta XYZ, é o que ela representa e o que determina para as outras mulheres.

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  4. Rita,
    adorei a frase do mecanismo eficiente. Você colocou em palavras exatamente o que eu tenho tentando fazer: não alimentar essa maquina que nos atropela.
    Algumas maneiras são óbvias; outras nem tanto. A questão da maquiagem é uma dessas últimas. As feministas não chegaram a um consenso, e eu também não sei a resposta. Só sei que eu, particularmente, não estou usando e estou achando ótimo.
    Beijos!

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  5. Laurinha,
    pois é: a mulher-fruta "serve" para sair na capa da revista masculina, mas ai dela se quiser, por exemplo, concorrer a um cargo eletivo. O mesmo fulano que correu para comprar a revista fica apoplético só de pensar na possibilidade.

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  6. Ashen Lady,
    é difícil mesmo. Tem de explicar todo o contexto, senão o povo não entende. E às vezes o contexto é tão fora de tudo que a pessoa pensava até ali que ela inteiramente perplexa.

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  7. Então, Lud, acho esse assunto complicado e espinhosíssimo. Porque, na verdade, não sei se eu tenho algo necessariamente contra esses corpos expostos. Eu tenho é contra a lógica que diz que quem expõe o corpo tá limitado a isso. Porque a Mulher Melancia pode ter um discurso muito bacana. Eu sei, eu sei, você também não está dizendo que ela não tem, e até mencionou aí canditatura política x Playboy, (aliás, acho que a Luisa Brunet já foi candidata a prefeita de Búzios).

    Eu acho os corpos poderiam estar lá e não ser necessariamente um problema, até porque em países em que essa exposição é super reprimida, as mulheres não são mais respeitadas. Não acho que necessariamente reforçam a misoginia. Acho que há uma questão, que a alienação da mulher de seu próprio corpo, que é muito anterior a publicidade sexista. Porque, como você mencionou, hoje até se admite em uma situação ou outra que o corpo masculino pode ser obejto de desejo de mulheres (como a publicidade é heteronormativa, né?), mas nem isso, nem as taras da Samantha no SATC, desqualificam a condição de sujeitos de todos os homens. O que eu concordo é que muito provavelmente, se as mulheres não fossem cidadãs de segunda classe, esse tipo de publicidade não teria tanto apelo.

    Vou colocar aqui o link de um post que achei muito bom sobre isso. É de um blog polêmico, porque a Lu é fã de pornografia, coisa que muita feminista abomina, mas que ela defende muito bem.
    http://ebompraquemgosta.wordpress.com/2010/02/09/parte-2-a-historia-da-minha-calcinha-nova/

    E um trecho do meu comentário lá, que cabe bem aqui:

    "Acho muito que, se a gente quer deixar de ser cidadã de segunda classe, tem que combater a vitimição, essa idéia de que, se me parece ruim e degradante, com certeza é ruim e degradante para todas as mulheres. Lembro de ter discutido numa caixa de comentários com uma mulher que criticava ferozmente donas-de-casa, dizia que era um absurdo com as conquistas do feminismo e blá, blá, blá alguém “se sujeitar a pedir dinheiro para o marido até pra comprar calcinhas”. Tão violento, tão opressor achar que o meu discurso dá conta do que é melhor pra todo mundo, né?

    Na minha cabeça o feminismo tinha que brigar para as mulheres terem todo o leque de escolhas possíveis, e brigar pra que sejam plenamente respeitadas em suas escolhas. Então da atriz pornô à dona-de-casa, quero respeito e cidadania pra todo mundo."

    Então, concluindo (prolixa? 'magina!), acho que a gente deveria combater essa alienação dos nossos corpos, toda e qualquer imposição que é feita a um corpo feminino só porque ele é feminino, seja pela publicidade, pela família, pela moral religiosa, quem for.

    Ai, me perdi, e talvez tenha ficado muito confuso :(

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  8. Iara,
    também acho um assunto complicado. Na minha opinião, existe uma correlação (não necessariamente causa e efeito) entre o fato da mulher ser cidadã de segunda classe e sua superexposição como objeto pela mídia. Então me incomoda. Se vivêssemos em uma sociedade igualitária, eu não ligaria a mínima.
    Quanto à pornografia, eu não sei se sou anti- ou pró-. Vamos continuar conversando que uma hora eu descubro!

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