quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Caso dos Detalhes do Intercâmbio Profissional

O intercâmbio foi no estado de Victoria, que fica no sul da Austrália. Fiquei hospedada por cinco famílias em cinco cidades diferentes: Ballarat, Nhill, Geelong, Portland, Colac. E bota diferentes nisso: Nhill tem 800 habitantes; Geelong, meio milhão. Fui a fazendas, plantações, empresas e portos. Na parte profissional, visitei dois escritórios de advocacia, dois de contabilidade, dois tribunais, dois jornais e um estúdio de tevê (é, eu sou formada em direito e comunicação. No meu trabalho mexo com legislação, mas é claro que as visitas jornalísticas foram muito mais legais. Se bem que a Suprema Corte Australiana estava visitando Geelong. Jamais esquecerei os juízes de toga vermelha e peruquinha branca com rolinhos laterais).

Fizemos apresentações sobre nós, nossos empregos e o Brasil (7 vezes) e respondemos a milhares de perguntas. Nessa hora meus estudos históricos e geográficos compensaram lindamente.

Os australianos são fofos. Eles são amigáveis, receptivos e bem-humorados. Gostam de argumentar e trocar idéias. Não ligam a mínima para as aparências (dei altas dicas de como economizar em NY para um engenheiro simpático de jeans e tênis, e depois me contaram que ele tinha um Porshe na garagem).

A Austrália que eu conheci é muito arrumadinha e limpinha. Não vi pessoas carentes em Victoria. Já em Sydney havia três pedindo dinheiro muito humildemente. Há uma rede de proteção social muito boa: seguro-desemprego eterno, auxílio-aluguel, educação e saúde gratuitas e de boa qualidade, apesar de eu ter escutado reclamações sobre filas para intervenções cirúrgicas. Quem não quer esperar e pode pagar pode apelar para os planos de saúde privada.

Por outro lado, faltam profissionais de saúde. Dentista, então, nem se fala. Os que existem adoram arrancar dente, e o resultado é que vimos muita, muita gente bem de vida sem dentinhos aqui e acolá na boca. Como disse a dentista da nossa turma, "Na Austrália pré-molar é luxo".

O custo de vida é alto. Tudo é caro, de comida a roupa a aluguel. Por outro lado, as pessoas ganham bem. Um advogado formado a pouco tempo me contou que ganhava 40 mil dólares australianos por ano. E que profissionais técnicos, como eletricistas e motoristas, recebem tão bem quanto ("e os horários de trabalho são melhores," brincou o advogado).

A Austrália é um país muito novo: a Constituição Federal deles é de 1901. Ou seja, não tiveram tempo ainda de desenvolver uma cultura marcadamente própria. Quase tudo é herança direta dos ingleses/escoceses/irlandeses, pelo menos no estado que visitei. Eles gostam muito de dar nomes aborígenes às cidades, mas exterminaram quase toda a população nativa (igualzinho a gente fez, mas pelo menos no Brasil os portugueses se reproduziram alegremente com as índias, então pelo menos a herança genética ficou. A avó do Maridinho jura que a mãe dela era índia da tribo, e o meu cunhado tem olhos e cabelos negros como a asa da graúna).

Então, na parte cultural, o Brasil é muito mais legal. E eu realmente tenho esperanças que vamos conseguir transformar crescimento econômico em desenvolvimento econômico, com mais oportunidades e melhor distribuição de renda pra todo mundo, igualzinho à Austrália. Aí sim.


2 comentários:

  1. Lud,
    Parabéns pelos questionamentos que vc levanta em seu blog, mas no seu post "O caso da vantagem" discordei de algumas coisitas que vc escreveu. (desculpe comentar aqui, mas só agora conheci seu blog).
    Primeiro quando vc rotula e ressalta o velho homem x mulher. O estereótipo de mulher, aquela preocupada com unha, cabelo e espinha. O homem que se diverte muito mais que nós no boteco tomando seu chope. Não concordo muito com esse discurso, até pq meu marido é super vaidoso e não vejo problema algum nisso, pelo contrário, acho uma delícia. Prefiro não dizer que homens são assim e mulheres são assado. Já me bastam os comerciais de cerveja afirmando e reafirmando esse velho rótulo...
    Quanto à maquiagem, lembro que desde que o ser humano vivia de forma, digamos, primitiva, sem uma organização formal de sociedade, homens e mulheres já se pintavam como forma de sedução. Se observamos as tribos indígenas mais contemporâneas, perceberemos que os índios ainda usam pinturas e acessórios específicos para o momento da “conquista”. Ou seja, "se maquiar" é um ato mais velho que sei lá o quê.
    Decretar que é mais vantagem gastar dinheiro nisso ou naquilo é um tanto perigoso, pq vc acaba caindo no mesmo erro do homem médio: o de estipular padrões, sem considerar a diversidade das pessoas.
    Concordo que a beleza por si só não pode ser considerada vantagem, mas, ao contrário de vc, acho, sim, que o maior problema é o exagero. O exagero de querer o cabelo da fulana, as pernas da ciclana, a bunda da beltrana ou estabelecer padrões de beleza do tipo: mulher bonita tem que ter mais de 1,70m de altura (se fosse assim eu tava lascada, pq sou baixinha), boca da Angelina Jolie, pernas da Ivete Sangalo. Até imagino um lugar com todas as mulheres e homens iguais. Como seria entediante...
    Sou concursada e com certeza os cinco minutos diários que tiro para passar um rímel e um batom não afetaram meu tempo dedicado aos livros, tampouco me deixaram mais burra. Às vezes gasto mais tempo no banheiro fazendo outras coisas...
    Outra máxima que me incomoda: mulher arrumada é sinônimo de falta de “inteligência”. Parece o discurso que eu ouvia quando fazia engenharia: só mulher feia quer ser engenheira. Acho muito pretensiosa essa idéia que alguns pseudo-intelectuais tentam passar: estudo muito, por isso não tenho tempo para cuidar de minha aparência e não estou nem aí para isso, pq isso faria de mim uma pessoa fútil. Ahn???
    Tenho meus flancos, meu mega culote e minha barriguinha, mas nem por isso me submeteria a uma lipo ou pararia de comer os doces que tanto amo em função disso. Sou bem resolvida com meu corpo. Continuo estudando, leio bastante, amo viajar, tento me aprimorar naquilo que faço, mas também nem por isso eu sairia sem passar um batom por acreditar que agindo assim eu estaria em desvantagem em relação homens. Não acredito que isso seja uma competição.
    Beleza é algo tão difícil de definir... O que é belo?

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  2. Oi, Carlinha!

    Eu também discordo do homem X mulher. Estava falando justamente do discurso que a sociedade (inclusive com os comerciais de cerveja!) adota e passa pra gente como regra. E o caso do casamento no interior é verdadeiro!

    O problema que eu vejo com a maquiagem é 1) só a mulher se maquia. Se fosse todo mundo, como nas culturas que você citou, eu não ligava a mínima; 2) maquiagem pode ser obrigação (pra aeromoça, pra vendedora de loja, pra executiva). Conheço profissionais que são chamadas de "desleixadas" se não fazem as unhas.

    Em momento alguma eu disse que mulher arrumada é sinônimo de falta de "inteligência". (Eu, por ex., era muito ligada à aparência e sempre me achei inteligentíssima =). A questão é que, como dizem os economistas, os recursos são limitados. As pessoas escolhem alocá-los nas áreas que lhes prometem mais retorno. O que eu disse é que, bem, talvez o "retorno da beleza", ao contrário do que diz a mídia, seja bem chinfrim.

    E falando em beleza, voltamos ao ponto crucial da questão: por que a mulher tem "obrigação" de ser bonita e o homem não?

    Beijos!

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