Então vai fazer dois anos que eu trabalho e o Maridinho estuda. Foi muito tranqüilo e sem trauma nenhum, e eu particularmente adorei: ele tem mais tempo livre, então se ocupou dos afazeres domésticos. Ele diz que a profissão atual dele é dondoco, mas eu acho que madame sou eu, que ando pra cima e pra baixo de chofer conjugal e não tenho preocupação alguma fora do horário de trabalho.
Quando nos decidimos por esse esquema, meu pai estressou um pouco, mas escutou nossas razões e nunca falou mais nada. Na verdade, a mais preocupada foi uma amiga nossa muito querida e meio conservadora. Quando a gente se encontra, ela sempre acha que o Maridinho está meio tristinho. Aí, no dia seguinte, eu pergunto pra ele: meu amor, você anda insatisfeito? E ele me olha com total perplexidade e responde: como assim? Eu estou ótimo!
O que eu quero dizer é que, se eu e o Maridinho fôssemos pessoas agarradas aos papéis que a sociedade gosta de destinar a homens e mulheres, estaríamos muito menos felizes do que agora. Provavelmente ele teria continuado num emprego que não o satisfazia mais. Talvez decidisse terminar a faculdade à noite, e aí a gente só se veria nos finais-de-semana. Se topasse parar de trabalhar para estudar mas não levantasse uma palha em casa, provavelmente eu ficaria ressentida. E de qualquer jeito reclamaríamos da queda de nossa capacidade de consumo, porque afinal gastar não é um direito adquirido?
Não estou dizendo que eu tenho a receita do sucesso. Só estou falando que pode ser que sair da rota programada compense. Às vezes exatamente o que nos dizem que é caminho certo para a felicidade pode virar prisão.
Exemplo 1: quando a gente casou, todo mundo nos dizia para comprar um apartamento. Decidimos alugar, e quando o Leo parou de trabalhar, tínhamos reservas financeiras para uma emergência (que nunca aconteceu). Agora ele está fazendo concurso público e a gente topa ir para qualquer lugar do Brasil, porque não tem nada que nos prenda - nem mesmo um imóvel.
Exemplo 2: tenho um casal de amigos que são profissionais muito bem-sucedidos. Eles têm reclamado muito da rotina e da profissão (não, Chris, não são vocês - vocês não reclamam!), e eu e Maridinho vivemos sugerindo alternativas, mas eles ganham tão bem que fica difícil mudarem de carreira, mesmo não estando satisfeitos com ela.
Estão vendo?
acho que esse negócio de apartamento próprio e emprego público parece mais bonito do que é na realidade. porque tudo que te dá segurança também te prende, e muito! ando numa fase desapegada, já faz alguns anos, vamos ver o quanto dura =)
ResponderExcluirquanto às trocas de papéis, acho que é isso mesmo - a gente tem que tentar até coisas que parece que não fazem sentido na nossa busca pelas coisas que fazem a gente feliz. e às vezes precisa retroceder pra tomar impulso, mas tem muita gente que não topa retroceder nem um milímetro =I
Oi, Lud
ResponderExcluirSe fôssemos todos robôs fabricados no mesmo lugar e com todas as atividades pré-programadas, aí talvez houvesse uma única fórmula que servisse bem a todos. Obviamente a coisa não é assim (ufa!) e, portanto, não pode existir uma única maneira de se viver bem.
Falei o óbvio, eu sei. Mas é justamente o não pensar sobre o óbvio que, às vezes, engole a gente, certo?
Bjs!
Rita
O marido trabalhar menos no futuro pra poder estudar é um dos planos em casa também, mas por enquanto, não rola. Mas não temos o menor preconceito com isso. Tenho muita aversão a esses esquemas pré-estabelecidos de viver. O engraçado que eu era muito contaminada por essa lógica, até fazer terapia. Daí a terapeuta perguntava porque eu continuava no trabalho mesmo estando infeliz, morando com os meus pais e fazendo universidade pública (quer dizer, ficar sem trabalho não seria um problemão), e eu só sabia responder que achava que era o que todo mundo fazia. Daí tomei coragem, larguei o emprego e tive que parar a terapia, porque não tinha mais grana. Mas o problema tava resolvido, né?
ResponderExcluirUma amiga muito querida comprou um apartamento bem bacana, reformou, e tals. Financiou pra 10 anos. Eu acho válido, sabe? Mas só acho válido se for seu momento. Eu e essa amiga temos a mesma idade, mas não me veria comprando um apartamento finaciado agora. Gosto das novas possibilidades que o não-compromisso traz. Outro dia tava falando com o marido em mudar de bairro quando o contrato de aluguel vencer. A gente gosta do bairro onde estamos, mas a idéia de experimentar outra coisa parece tão bacana também! E, claro, de repente outro estado, outro país, porque não?
Ah! Adorei o post em que você fala que gosta de comentários grandes. Porque eu tô completamente à vontade, apesar de ter acabado de chegar. Daqui a pouco já abro sua geladeira procurando uma cerveja...
Bela,
ResponderExcluirde fato, segurança prende. E o retroceder para tomar impulso é pura verdade, e uma imagem tão bonita também! Vou adotar.
Rita,
não sei se você falou o óbvio, não. Quantas pessoas que você conhece que realmente desafiam a fórmula?
Às vezes eu acho que a fórmula funciona para um monte de gente. Talvez reclamar da vida faça parte da fórmula.
Iara,
ResponderExcluirfique à vontade. A casa (e a geladeira) é sua!
Eu também era muito contaminada pela lógica dos esquemas pré-estabelecidos de viver. Lei e ordem, advogada, sabe como é. Meu apelido era "sistema".
Aí, com o tempo... não sei o que aconteceu. A vida aconteceu (e a terapia também).
Acho que as pessoas têm todo o direito de seguir os esquemas pré-estabelecidos. Eu só gostaria que elas escolhessem segui-los, e não seguissem simplesmente "porque é o que todo mundo faz".
É... foi interessante o que você falou pra Lara, porque conheço pessoas que seguem esses esquemas pré-estabelecidos e são muito felizes! MESMO! É difícil de aceitar, certas vezes, mas todo mundo tem o direito de fazer o que quiser!! Quem quiser se rebelar, ótimo! Quem está feliz como está, ótimo!
ResponderExcluirAcho muito chato quando pessoas que mudaram algum comportamento, ou forma de agir, começam a criticar outras que estão felizes com a atual situação!
Cada um tem que saber o que é felicidade. Nem sempre o que me faz feliz faz outra pessoa feliz. Aceitar diferenças é muito, mas MUITO, mais difícil que qualquer outra coisa!!!
(ps: se a Lara tá se sentindo à vontade pra mexer na geladeira, imagina eu... to quase achando que te conheço de verdade e somos amigas! =p rs)
Ai, Lud!
ResponderExcluirAcho isso tudo muito legal. E isso só é possível porque você e o Leo são muito companheiros e se gostam muito. Além, claro, de não se importarem aos tais papéis.
Lindo isso! :)
Beijo!
Ah... Tava pensando outra coisa...
ResponderExcluirO tal casal que você falou podia se apoiar um no outro também, né?
Se eles estão infelizes, um podia tirar uma licença de uns meses e fazer, sei lá, aula de piano, ou tentar uma carreira diferente. Aí depois o outro faz isso. Porque se os salários forem realmente bons, um dos dois consegue manter durante um tempo o outro, não?
Mas você já deve ter dado esses conselho pra eles... Hehe...
Setembro,
ResponderExcluircomo assim, você acha que nós somos amigas? Eu tenho certeza! =D
Respeitar as diferenças é tooodo um trabalho dificílimo. E complicado. E além disso... ai, acho que vou fazer um post.
Fer,
a idéia é ótima e nós já a sugerimos. Eles não conseguiram concordar a respeito de quem tiraria a licença e quem continuaria trabalhando =).
Legal teu exemplo de vida!
ResponderExcluirEu tô no time que não ganha mal, mas se sente infeliz no trabalho e tá louca pra largar tudo... Mas e as contas? Quem paga?
Beijo.
Oi, Ivana! Tem de ter os "eshquema", como diriam os cariocas. Primeiro passo, letra a) cortar gastos (para ter combustível para retroceder para tomar impulso). Quanto mais dinheirinho guardado, mais tranqüilidade pra mudar de rumo. Primeiro passo, letra b) descobrir o que você gosta antes de chutar o balde. Vai fazendo por hobby, ou serviço voluntário, ou de graça pras amigas, pra ver se é isso mesmo.
ResponderExcluirSegundo passo: tirar férias. De repente o que você está sentindo é pura exaustão. Se for, problema resolvido.
Terceiro passo: trocar de emprego na mesma área. Mais fácil do que começar uma carreira nova, e você pode descobrir que o que você odiava era a empresa/colegas antigos. Se for, problema resolvido.
Quarto passo: ainda infeliz no trabalho, mas já sabe o que quer fazer? Agora é bolar o plano de ataque, contando com aquele dinheirinho economizado no primeiro passo. Boa sorte!
Ei Lud!
ResponderExcluirPor que achou que eu ia pensar que era eu???? rsrsrsrs...
Bjo!
Chris