sábado, 2 de janeiro de 2010

O Caso da Teoria e da Prática

Ando navegando alegremente pelo meu novo sistema feminista. O interessante é que, quando a gente começa a praticar a reflexão, ela acaba se estendendo para outras áreas. No meu caso, a área que está na berlinda é a do consumo como reflexão de valor. Assim: para as pessoas te considerarem, você tem de ter ao menos um carro X, um apartamento Y, e uns acessórios LV.

(Pausa: acho que isso tem tudo a ver com a relutância de muitas mulheres de se livrarem dos enfeites femininos. Porque cabelão liso, bijoux várias, bolsa de marca e roupa da moda são, em nossa sociedade, sinal de poder financeiro, né? E no Brasil parece que quem tem cara de rico é mais bem-tratado.)

Ando concluindo que isso é uma bobagem. Que ter e ser não andam necessariamente juntos (ou separados). Que se algumas pessoas não quiserem ser minhas amigas por causa disso, então eu também não quero nada com elas, obrigada.

Ando achando que moro em um apartamento grande demais. Que tenho sapatos e bolsas demais. Que minha vida tem coisas demais, e olha que eu sou bem econômica e não muito consumista. (Só livros e fotos de viagem eu nunca acho que são demais.)

Meu novo jeito desapegado de ser funciona muitíssimo bem onde moro, uma cidade do interior sem muitas opções e mais para pobre do que para rica. Só que Maridinho está fazendo concursos, e é muito provável que no curso de 2010 a gente se realoque em uma capital.

Então ficamos pensando em alugar um apartamento menor, não só porque aqui sobra espaço mas também porque em uma cidade grade o aluguel é entre duas e três vezes mais caro. Hoje decidimos trocar de carro (o nosso é um médio, bom para pegar a estrada até BH) por uma versão mais econômica e compacta, depois da mudança. E não precisa nem dizer que pretendo continuar seguindo meu esquema altamente simplificado (inspirado no Maridinho) de moda e beleza.

Entretanto, não deixo de me perguntar como os meus princípios vão se comportar em um ambiente hostil. Será que, em um local de trabalho em que o habitual é tailleur e maquiagem pesada, vou acabar retornando aos cosméticos e acessórios? Será que, em uma cidade onde a norma é a ostentação de riqueza, eu vou começar a achar que carrões e apartamentaços são essenciais à minha felicidade?

Espero que não. Acho que não. Mas tô de olho, ó.

7 comentários:

  1. Oi!

    Uma vez li uma definição ótima sobre status. Diz que é gastar o dinheiro que você não tem em coisas que você não precisa pra mostrar a pessoas que não gostam de você que você é algo que você não é.

    Ó, tirando a temporada de 1 ano fora do país, sempre vivi em São Paulo, que é terra de ostentar por excelência. E vou fazer 30 anos sem nunca ter tido carro na vida, apesar do meu padrão de renda permitir. Quer dizer, agora eu e marido temos, mas ele também tem 30 anos e foi o primeiro dele. As pessoas (colegas de trabalho, familiares, etc) se incomodam vendo gente de classe média alta andando de ônibus lotado, mas se o capitalismo tem algo de bom é a possibilidade de eu gastar o meu suado dinheirinho em coisas que façam sentido pra mim. E "fazer bonito" pras expectativas alheias não está na minha lista de prioridades.

    Quanto à sua aparência, minha sensação é de que, passando um batonzinho, ninguém enche muito seu saco. Quer dizer, talvez até você tenha que ceder em alguma coisa, o que não é bacana, lógico, mas muito menos do que a propaganda quer nos fazer crer que é necessário.

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  2. Oi Lud! Vim dar meu depoimento sobre uma temporada na praia sem me depilar! Hahah lembra de mim? Então.

    Como eu disse antes, não me depilo a mto tempo (uns 5 meses, axo), ou seja, os pêlos das pernas e axilas estão compridos e bem visíveis, também pelo fato de eu ter a pele ligeiramente clara, e os pêlos escuros se destacam.

    Então vamos lá. Passei 8 dias na Praia Grande(em SP), com meu namorado, meus pais e minha irmã. O primeiro dia não deu praia, então fikei no apto. No segundo dia, resolvi sair pra andar, usando um shortinho e uma blusa de alcinhas. Confesso q fiquei meio tensa com as axilas e não levantei mto o braço na rua. As pernas eu não me importo mto pq, suponho q quase ninguém vá desviar o olhar pras minhas canelas...já as axilas ficam quase na altura do rosto, qdo estamos conversando com alguém, é pra onde costumamos olhar.

    Bom, no 3º dia fui a praia e direto pro mar, ondas, mar agitado e eu pulando as ondas com os braços levantados, e só dps lembrei q "ops, esqueci q posso ofender as pessoas com minhas axilas em estado natural". Daí me toquei do quão absurda era essa frase e passei a levantar os braços em cada onda q eu pulava, aí foi só alegria o resto da viagem, não pensei em pêlos de maneira negativa.

    Observações: minha mãe e minha irmã demoraram duas horas pra se arrumar para a praia pq estavam... raspando os pêlos. Tempo q podia estar sendo usado para diversão e castelinhos de areia.

    As pessoas geralmente me encaram mto na rua, pq eu tenho o cabelo rosa-choque. Logo, pensei q teria q ouvir absurdos sobre meus pêlos, mas, tirando alguns olhares chocados em direção às minhas axilas e pernas(e aos meus cabelos), sempre pelas mulheres, não ouvi nenhum xingamento e ninguém jogou ovos podres em mim. (é, meu medo estava gde!!)

    Concluindo: pretendo manter meus amados pêlos comigo, inclusive ir trabalhar com eles aparecendo(saia, blusinhas), andar de metrô com com eles(braços levantados), etc! O saldo foi positivo!!

    Adoro seus posts =)

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  3. Complicada essa questão de condicionamento, né? Viver em sociedade e muitas vezes fazer coisas que não nos agradam pra ser mais aceito pelos outros... Quando a gente percebe isso, como vc percebeu, acho que dá sim pra ser mais livre.
    Eu tenho o cabelo crespo, bem cheio, aliso porque acho bonito (olha o condicionamento aí, rs), mas não deixo de sair se o cabelo tiver "feio", não fico fazendo escova com frequência porque acho uma chatice e uma perda de tempo (e já fui chamada de desleixada por isso por algumas colegas). Não uso sapato ou roupa que ache bonita, mas desconfortável, porque acho que não vale a pena.
    Não gosto de me embonecar, não acho que seja necessário, mas não abro mão de delineador, por exemplo. Batom eu não gosto e não uso. Brinco é uma vez na vida e outra na morte, me incomoda.
    Carro pra mim é questão de conforto. Depender de ônibus muitas vezes é muito chato, mas carro também acaba sendo símbolo de status.
    Enfim, vou vivendo em um meio termo, buscando me agradar.
    Abraços e boa sorte na sua empreitada.

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  4. Iara,
    essa definição de status é fantástica!
    Que bom que você não se sente obrigada pelas expectativas alheias. Eu estou trabalhando nisso.

    Flavia,
    obrigada pelo seu depoimento. Ele me encheu de alegria. A gente perde tanto tempo da vida se livrando dos pelos! E se preocupando se eles estão visíveis ou não. E evitando roupa sem manga naquela semana que eles já aparecem mas estão curtos demais para serem depilados com cera. E exfoliando e hidratando para não encravar... que escravidão!

    Laurinha,
    meu plano é racionalizar. Também acho que carro é conforto: próximo passo, calcular qual o mínimo que preciso pagar por esse conforto. Percebo que as pessoas em geral tendem a adquirir os bens mais caros que seu dinheiro pode comprar. E isso, é claro, não faz muito sentido.

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  5. Oi Lud!! Não estou aqui pra falar do seu post dessa vez!!
    Queria saber uma coisa...
    Ano que vem vou passar uma temporada na europa!! vc podia me dar umas dicas?? queria ficar em pensões, gastar o mínimo com hoteis, e aproveitar as cidades!!!
    como a europa é sua segunda casa (praticamente) que tal dividir seu conhecimento? rsrs
    qlqr coisa me avisa!!!
    thanks! =**

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  6. Acho muito interessante como isso de "viver com menos, só com o necessário" anda junto com a falta de interesse em se enfeitar. Pelo menos no meu caso, sempre andou. E é meio que uma revolução quando a gente começa a questionar o pensamento vigente de "quanto mais e maior, melhor" (que obviamente não se aplica ao peso ou a comida que ingerimos, mas se aplica à quantidade de pares de sapatos que temos ou ao tamanho do apê), e ver que dá pra viver bem com muuuuito menos. Que bom que vc deixou essa conexão mais evidente!

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  7. Depois eu fiquei pensando se pareceu que eu acho que carro é só status. Mas acho que você entendeu o ponto, né? É conforto, lógico, mas é um conforto que eu escolhi não ter pra ter outras coisas. E o problema mora em, justamente, a gente se alienar dessa capacidade de decidir o que é melhor pra nossa vida.

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