segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O Caso das Mães Atormentadoras

A Georgia deixou um comentário no último post dizendo que ou eu não tenho mãe ou moro muito longe dela. Porque quem mais a perturba na questão do "se cuidar" é sua mãe. Ela acertou em cheio: eu moro mesmo longe da minha mãe. Se eu morasse perto, minha guinada para o feminismo prático seria menos indolor. Quando escrevi o post otimista, havia acabado de chegar à casa dos meus pais para passar duas semanas. Depois de um contato mais prolongado com a mamã, a coisa mudou um pouco de figura.

Minha mãe continua achando que eu estou "desleixada", ou "largada". Que "a aparência é muito importante nos dias de hoje". Que "radicalizar é ruim".

Perguntei se ela percebia que eu estava feliz. Ela hesitou um momento e me lascou um "mas tenho medo que você se decepcione, porque não dá para mudar o mundo". Eu respondi que, se eu não fizesse nada, o mundo ia ficar do mesmo jeito. Se eu fizesse e o mundo não mudasse, nada se perdia, e além do mais eu estava me divertindo no processo.

O discurso dela é contraditório. Ela diz que minhas teorias só servem pra mim, que já tenho emprego, sou casada e tenho boa aparência (ué, mas eu não sou desleixada?). Eu rebato dizendo que, se eu, com todas essas vantagens, não estiver disposta a desprezar as exigências sociais, quem vai estar?

Mas, enfim, eu converso com ela a título ilustrativo. Porque estou segura e serena em minha decisão e não preciso convencê-la. Uma coisa é explicar; outra é querer que ela concorde. Eu sempre quis a aprovação dos meus pais (quem não quer?), mas um dia descobri que ela não é exatamente necessária. Sou idependente financeiramente: posso fazer as minhas próprias escolhas e bancá-las (em mais de um sentido). Sem briga e sem conflito. Minha mãe reclama, eu sorrio, e pronto.

Chegar nesse nível zen, claro, não é fácil. Eu, por exemplo, gastei trinta e três anos.

Desejo boa sorte à Georgia. E lembro que o jeito mais fácil de encerrar uma discussão é dizer à outra parte: "Você tem razão". E continuar fazendo tudo do jeito que você bem entender.

7 comentários:

  1. Comigo é a mesma coisa, só q meu pai tbm adora dar as opiniões dele... desde que decidi usar meu cabelo cacheado natrural, tive q aguentar minha mãe falando que se eu quizesse ela pagava escova pra mim, meu pai falando que meu cabelo está precisando de tratamento... ninguem merece --'

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  2. Ninguém merece mesmo. É interessante como o corpo feminino é esfera pública: todo mundo acha que tem direito a dar palpite. Eu tenho um tio barrigudo, outro barbudo, um magro demais e outro que só usa camisa branca. E ninguém fala nada! Nem os chama de desleixados, claro.
    Força aí no cabelo cacheado. É lindo, e é seu.

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  3. É mesmo!
    Mais uns oito ou dez anos, e eu aprendo a nem ligar com os comentários...
    PS: no Natal, ela ficou fazendo indiretas, eu reagi, ela saiu emburrada. Funcionou!!! =)

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  4. Minha mãe é a pessoa que mais se incomoda com o meu excesso de peso. Muito mais do que eu mesma.

    E quando eu reolsvi cortar o cabelo curtinho pela primeira vez, na adolescência, ela disse que "só ia aparecer nariz na minha cara". Isso porque o narizinho dela é pequenininho, e o meu é grandão. Mas ela é pequenininha e eu sou grandona, então, né, proporção.

    Mas eu amo minha mãe. Só tenho que constantemente lembrá-la qual é o seu lugar. Pode parecer grosseiro dizendo assim, mas com a prática o relacionamento fica ótimo.

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  5. a questao eh que mamã so fica contente se reclama. e se da opiniao na vida alheia. escutemos e concordemos. =)

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  6. Obrigada, obrigada!
    Mas graças a Deus tb moro bem longe da minha mãe, com meu marido, meu emprego e minhas contas pagas por mim mesma.

    Tá tudo bem, a gente nem chegou a brigar. Eu me irritei muito pq ela faz aquela cara de pena sabe? Aquela que só as mães sabem fazer quando vêem que vc tá fazendo uma cagada. Eu não discordei dela, meio que argumentei no "nível" dela, falei que não usava maquiagem por vaidade, pois sei que maquiagem envelhece e não quero ter rugas. E que não faço as unhas pq as cutículas estão ali para proteção e não posso tirá-las. Etc.

    Dai ela discordou de tudo, mostrou a tal foto 3x4 em que eu me amava muito mais pois me cuidava e me maquiava e consequentemente era mais feliz e os olhos dela encheram de lágrimas e essas coisas normais em datas comemorativas...

    No auge da minha putice (porque a safada ainda se diz ultra-feminista) eu gentilmente me retirei e fui pro computador ler meus blogs preferidos e cheguei no seu post... Dai foi aqui mesmo que soltei meus cachorros rsrsrsrs

    Mas dá pra entender que somos nós mesmas, as mulheres, que mais perpetuamos o machismo. E dá um certo desconsolo ver que isso é um câncer, está dentro da gente, da nossa corporação-mulheres, que deveriamos todas estar lutando por liberdade e não convencendo as nossas filhas a serem mais um bife.

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  7. "E lembro que o jeito mais fácil de encerrar uma discussão é dizer à outra parte: "Você tem razão". E continuar fazendo tudo do jeito que você bem entender."

    Muito bom!

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