sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Caso dos Respeitos, Mais Um

Discutimos e discutimos, mas não sei se tocamos em um ponto importantíssimo: há idéias e idéias, e ideologias e ideologias.

Respeitar uma pessoa feminista é muito diferente de respeitar uma pessoa machista. Respeitar uma pessoa "pró-escolha" é muito diferente de respeitar uma pessoa "pró-vida". Respeitar um escravocrata é muito diferente de respeitar um abolicionista.

O feminismo quer que todo mundo tenha direitos; o machismo quer que os homens tenham prerrogativas só para eles. O movimento "pró-escolha" acredita que cabe à mulher decidir se aborta ou não; o "pró-vida" decide que ela não pode, e pronto. A escravatura... não preciso completar.

Existem ideologias includentes e excludentes, e eu só respeito as includentes. Não me venham dizer que as religiões que pregam a submissão das mulheres são equivalentes às que não pregam (tem alguma?). Que as culturas que obrigam à circuncisão feminina são tão válidas quanta as que consideram que as mulheres são donas de seus próprios corpos. Direitos humanos, pô!

Eu "não tenho de respeitar" as escolhas alheias coisa nenhuma. Quando a escolha alheia for espancar os filhos, aceitar passivamente estelionato religioso (dizerem que você não arruma emprego porque não doou o suficiente para Deus é o quê?), desprezar pessoas de raça diferente, a pessoa pode estar feliz o quanto for: eu não concordo, não aceito, não respeito e acabou-se.

* * *

Eu tinha botado "intervenções cirúrgicas desnecessárias" na lista negra. Aí percebi que, se eu acho que se o corpo é da pessoa, inclusive pra ela se matar se quiser, não posso deixar de respeitar a opção por botox e silicone. Esses vão ficar na lista "não acho bom, não valorizo e não aplaudo". Mas respeito, né.

Acho que um bom sinal de que as idéias da gente prestam é o fato de elas geraram situações que não nos agradam individualmente, como no exemplo acima. Porque a idéia não é criar um mundo que eu pessoalmente ache fofo, mas um lugar de justiça e igualdade pra todo mundo.

11 comentários:

  1. Deculpe, mas.... eu perdi alguma coisa??
    que post revoltado foi esse??

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  2. Oi, Lud.

    Eu tinha algo a dizer aqui, mas não tenho 150% de certeza de saber do que você está falando... acho que você deve ser quem eu penso que é.. hehehe papo doido.. mas como não posso apostar nem um real nisso, digo nada. Então meu comentário é: pisque uma vez para sim e duas para não. Se esse seu post tem algum viés, digamos, culinário, eu volto aqui depois. Caso contrário, esquenta não.

    (Cara, esse foi de longe o comentário mais doido que já fiz em todos os blogs por onde ando).
    Bjs
    Rita

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  3. Oi, Set! Revoltado, você achou? Eu achei incisivo, hehe.

    Oi, Rita! Este foi o comentário mais enigmático que já recebi em minha vida, virtual ou real! Então vou ter de piscar duas vezes. Mas um dia vou deixar uma palavra secreta no seu blogue (vamos combinar que é "jenipapo"?) e você me explica o babado, please?

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  4. HAHAHAHAHA
    Combinadíssimo, querida! hahaha Mas deixa eu ver se consigo me fazer entender pelo menos um pouquinho, só para você não ficar com a certeza indiscutível de que sou louca: essa semana rolou a maior polêmica em um certo blog que acompanho. O papo envolvia, em parte, o direito de fazer escolhas, quaisquer escolhas, quanto ao tipo de vida que se leva - independente, dependente, essas coisas. Pois bem, acontece que aluém bateu pé por lá e afirmou não admitir que uma tal postura fosse aceitável e foi muito criticada por isso. Quando li esse post seu, pensei "é a Lud!" (a pessoa não se identificou no outro blog). E fiquei com vontade de levantar um pontinho sobre o tema. Mas sem saber se ela é você e você é ela, ihih, não faria o menor sentido. É isso.. melhorou?


    Beijos!!

    Rita

    p.s. Mooorri de rir agora...

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  5. Amei.
    Sempre esbarrei nesse argumento de que eu tenho que respeitar as opiniões. E eu sempre achei que tem opinião que não se respeita, como as "religiosas", por exemplo.
    Agora tenho a resposta perfeita.
    Obrigada!

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  6. Por que não fazemos o seguinte:
    Aceitar opiniões, DESDE que elas não ofendam outras raças, religiões, opções sexuais, etc...
    E não só "não ofendam" como não descriminem, agridam, e outras coisas parecidas.
    Eu tenho uma opinião. Um jovem, por exemplo, que deixa a vida que leva para virar padre. Ele pode ser um fanático religioso, desde que não agrida nem ofenda as outras pessoas que não pensam como ele!!!!
    Acho que o que vale é aquela velha história: seu direito acaba quando começa o de outra pessoa. Claro que ninguém vai aceitar uma pessoa que espanca os filhos porque acha certo, nem outra que mata milhares por um ideal religioso. Mas um fanático religioso que respeita a opção de outras pessoas também deve ser respeitado!
    Lembrando que qualquer um é livre para ir e vir, pensar, se vestir, ser respeitado e fazer o que bem entender... Se ele não ferir o direito de outra pessoa de também ser respeitada, qual o problema?
    Quando eu falo em aceitar diferenças já estou falando de pessoas normais, não de "fanáticos assassinos", espancadores, racistas e pessoas igualmente desprezíveis!
    Aceitar diferenças no sentido: eu trabalho fora e acho que todas as mulheres deveriam ser independentes dos maridos. Não quer dizer que todas as donas de casa são amarguradas, dependentes e fracas por não fazerem o mesmo.
    Você Lud, não usa mais maquiagem e decidiu que não é enfeite. Deve respeitar quem acha que é...
    É nesse sentido...
    Mas, debater, levantar novas ideias e teorias, discutir e argumentar é sempre válido!

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  7. Lulu:

    Estou totalmente sem tempo, mas como estou aguardando um site abrir, vou me permitir comentar de maneira breve:

    1- Como eu não poderia perder a oportunidade de "chatear", gostaria de dizer que demorou, mas enfim, vc não resistiu e mostrou sua face da intolerância. A boa filha à casa torna...rs
    2- Então vc só respeita as teorias includentes...Mas includentes sob o ponto de vista de quem?
    3- Embora não seja sobre isto que pretendo teorizar, como cediço, dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. A inclusão de alguém implica na exclusão de outrem, nem que seja potencialmente e no campo macro, mesmo que não tenhamos condições de conhecer ou medir o (possível)excluído.
    Ex.: digamos que no país X, homossexuais não podem adotar crianças. Logo, 100% das crianças são adotadas por heterossexuais. ( no exemplo, há fila de adoção e não resta nenhuma criança sem ser adotada, aliás, fato comum em países europeus ricos). "Lei passa a prever a possibilidade de adoção por homossexuais, em porcentagm igual a sua ocorrência na população (digamos, 5%). Logo, esta lei (ou a ideologia que a suportou) é inclusiva, no que se refere aos homo, mas exclusiva quanto aos hetero. Estes tinham 100% do "mercado de crianças adotáveis". Agora só têm 95%.
    Depois de formular este longo exemplo, vi que o que eu queria exemplificar é mais fácil com a questão das cotas nas universidades. (se 20% das cotas são de negros, 5% índios, 25% advindos de escolas públicas - 50% tiveram seu *potencial* de entrada na universidade diminuído).
    4- teoria que prega que pelo menos 10% dos postos de trabalho na construção civil deverão ser ocupados por ex-presidiários é includente ou excludente?

    Depois continuo.
    Abraços,
    Marco

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  8. Oi, Rita! Obrigada pelo esclarecimento! Beijos!

    Georgia, de nada! Disponha, hehehe.

    Setembro, concordo: aceitar opiniões, desde que elas não ofendam/agridam/discriminem outras raças, religiões, opções sexuais. Só que eu acho que a expressão "fanático religioso" não combina com "que respeita as outras pessoas". Não conheço religião que pregue a total igualdade entre as pessoas (se tiver, me avisem, por favor). Por exemplo, um católico fanático, por definição, vai ser contra o homossexualismo, os anticoncepcionais, o feminismo e blá blá blá. Tenho a impressão que só no Brasil existe esse catolicismo "não-praticante", no qual a pessoa se diz católica mas não vai à missa, faz sexo antes do casamento e ainda usa camisinha, o herege! Beijos!

    Marquito,
    ideologias e políticas excludentes são aquelas nas quais são recusados direitos às pessoas devido à raça, sexo, orientação sexual. É evidente que, em um mundo em que os bens, materiais e imateriais, são limitados, como bem sabem os economistas, garantir o acesso de potencial de todos a esses bens diminui o acesso per capita daqueles pertencentes a um grupo anteriormente privilegido. Isso não significa que eles estão sendo excluídos, porque eles continuam tendo acesso!
    Além disso, existem direitos que são "ilimitados": legalizar o casamento gay não impede que os heteros continuem se casando, por ex.; o voto feminino não impede o voto masculino, e por aí vai.
    A política de cotas é includente porque visa a compensar uma desvantagem causada pela própria sociedade, assim como as vagas reservadas para deficientes em concursos. Se a sociedade brasileira fosse perfeitamente equipada para as necessidades dos deficientes não existiria essa determinação, já que eles não teriam dificuldades maiores do que as outras pessoas para se educar, arranjar emprego etc.
    A teoria dos 10% dos ex-presidiários é includente. Afinal, se eles já cumpriram pena, já pagaram sua dívida com a sociedade e deveriam ser tratados como cidadãos comuns, certo? Então a dificuldade de arrumar emprego é uma desvantagem social.
    Abraços!

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  9. Engraçado o que você colocou sobre cirurgia estética. Porque uns tempos atrás, uma amiga minha muito querida, fez uma (duas, na verdade). E morreu de medo da minha "desaprovação", porque sabe o quanto eu sou crítica. Ela não tinha problemas sérios de auto-estima, não achava que ia se tornar "uma nova mulher", mas tinha coisas na aparência dela que a incomodavam. E putz, eu também não acho o máximo, mas falei: "ei, é você, sua relação com seu corpo, não sou eu que devo te dizer o que é certo". Porque eu acho autoritário desqualificar, sabe? É querer moralizar o corpo do outro. Eu acho super violento se internar, tomar anestesia, ficar de repouso. Não acho que o resultado justifique nem a grana empregada, sem o sofrimento físico, nem o risco. Mas essa sou eu, né?

    No blog da Haline (você conhece?) ela postou sobre o filme "Do começo ao fim", que trata de uma história de amor homossexual e incestuosa. E eu disse pra ela que acho a idéia do incesto repulsiva, mas acho que a gente só demonstra tolerância de verdade quando se obriga a respeitar o que nos incomoda. Porque se alguém quer transar com o irmão, ou tomar anestesia e se internar voluntariamente, eu posso achar bizarro, mas em nome do respeito à alteridade, não desqualifico.

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  10. Oi, Iara! Também não gosto de desqualificar quem faz cirurgia plástica. O problema não está nas pessoas que fazem: o problema está na sociedade que faz com que as pessoas se sintam incomodadas com suas aparências (e aí se submetam às cirurgias plásticas). É aquela coisa de "odiar o pecado, amar o pecador", como a Lola diz, sabe?

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  11. Iara, continuando: eu não ligo para o incesto entre irmãos, talvez porque eu só tenha irmãs (o que não impediria um incesto homossexual, é verdade). Já entre pais e filhos me dá nojinho. Mas é o que você falou: eu respeito, já que cada um sabe de si (e eles não estão prejudicando/ferindo
    /discriminando ninguém).

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