sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O Caso dos Gêneros

Uma das discussões do feminismo é a igualdade entre os sexos. Porque homens e mulheres não diferentes, ué.

Eu costumava negar isso até a morte, afirmando que as diferenças são puramente construídas, mas tive de dar o braço a torcer. Agora acho que as diferenças são majoritariamente construídas. De fato um homem não vai engravidar e uma mulher não vai ter câncer de próstata. Mas nada impede que ele tenha licença-maternidade (na Suécia o tempo é divido entre mãe e pai) ou que ela vá pra guerra (em Israel o serviço militar é obrigatório para as mulheres também).

A amiga L., que faz Filosofia na USP, me disse que a discussão biológico X cultural na diferenciação de gêneros já está superada. O entendimento atual é que ambos os fatores influem e não há como dizer qual é mais importante do que o outro. Particularmente, ela acredita que todos nós nascemos com características [consideradas pela sociedade como] femininas e características [consideradas pela sociedade como] masculinas, e algumas são mais estimuladas do que as outras, conforme o sexo biológico do indivíduo.

Acho que faz sentido. E também acho que o estímulo dirigido é uma estupidez. É mesma coisa que pegar uma criança no primeiro ano escolar, decidir que ela deve se aplicar ao português porque seus olhos são castanhos, e proibir que ela freqüente as aulas de matemática. E ensiná-la a olhar com desconfiança as crianças de olhos azuis, que freqüentam as aulas de matemática. E a desprezar as crianças de olhos castanhos que insistem em freqüentar as aulas de matemática, indo contra a ordem natural das coisas, as pervertidas!

Embora as crianças em geral tenham habilidade tanto para línguas quanto para números, nossa criança ia ficar ótima em português e fraquíssima em matemática. Ela não precisaria se preocupar, já que a sociedade ia dizer pra ela que gente de olho castanho nasce para dominar o português, mesmo. Mas não seria muito melhor para ela saber português E matemática?

Acho que é uma boa analogia para o que acontece com a gente. Uma sociedade na qual os homens não podem ser meigos e as mulheres não podem ser agressivas está obrigando todo mundo a enferrujar um monte de habilidades. Um mundo no qual “mulher masculinizada” e “homem afeminado” são xingamentos condena os seres humanos a viverem enclausurados em seus papéis pré-determinados. Porque, vejam bem, características consideradas femininas e masculinas não são mutuamente excludentes. Uma pessoa pode ser briguenta no mercado de ações e delicada com o cônjuge. A situação, e não os cromossomos X e Y, é que determinaria o comportamento. O que me parece muito mais lógico e adequado, né não?

18 comentários:

  1. Concordo. Nossa sociedade é tendenciosa em tudo, infelizmente.
    Acabei de ler: http://oqueeutenho.uol.com.br/portal/2010/01/08/testosterona-e-agressividade-estudo-demonstra-que-nao-ha-relacao/

    Saudade de estar aqui.
    Feliz 2010, Ludmila.

    Abs,

    ADA

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  2. Oi Lud, cada vez estou mais convencida que tudo é cultural, e nao biologico. Tipo, empurram as mulheres para a vaidade, a maquiagem, a moda dizendo que essas sao coisas de mulher. Mas, po, nem todas as mulheres gostam disso. Por outro lado, os tem muitos homens que gostam de "se cuidar" também, que se importam com a moda e que se pudessem, iam bem usar uma maquiagem.

    O que eu quero dizer, é que as pessoas sao diferentes, o que nao me interessa, pode ser interessante pra voce. Estou falando isso pq eu achava que essa coisa de vaidade tinha sido criada pra aprisionar as mulheres, mas depois percebi que tem gente que realmente gosta de se produzir. Se mesmo alguns homens tem a coragem de nadar contra a corrente e perder horas com sua aparência, é pq realmente gostam de fazer isso.

    Dai entendi que temos que dar liberdade das pessoas escolherem o que elas querem fazer, mesmo se elas quiserem gastar rios de dinheiro no salao de beleza, mas sem relacionar a coisa com o gênero. O problema é saber quais as mulheres gostam relamente e quais foram ensinadas a gostar.

    Nossa, ficou confuso, espero que vc tenha entendido o que eu quis dizer. Beijos!

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  3. Tinha uma professora minha que dizia que o problema do estereótipo não é que ele sempre é mentiroso, mas ele sempre é redutor. Eu vou ainda mais além nessas questões que você colocou: ainda que homens e mulheres fossem assim tão diferentes, porque tenho que aceitar um único modelo como válido? Explico: nunca me identifiquei com essa coisa cor-de-rosinha, meiga e fofa. Mas quando fui à Espanha e vi os trajes típicos usados pelas mulheres nas festas, os babados, as cores, as argolas, enlouqueci e me indentifiquei horrores. É tudo construído culturalmente também, claro, um modelo pronto, mas muito menos "princesa Disney", sabe?

    Os modelos prontos são muitos, e eles não abarcam só gênero, mas também origem, idade, etc. Há sempre uma expectativa em relação ao outro e a gente tende a ter idéias pré-concebidas de que um inglês vai ser instrospectivo e um espanhol vai ser mais falante, pra dar um exemplo inocente. O desafio está em tentar ao máximo olhar as pessoas como indivíduos. Isso parece senso comum com outras características, não é socialmente bem aceito que se discrimine alguém por ser judeu. Mas é bem tolerado qualquer suposição ou pré-julgamento em relação à mulher.

    Lembrei de um dos meus primeiros posts:

    http://foifeitopraisso.blogspot.com/2009/10/dose-cavalar-de-patriacardo-segunda-800.html

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  4. Você realmente super ignorou minha pergunta em alguns posts atrás??? ...
    acho que o "nariz empinado" existe mesmo!! =/
    ou não?
    =)

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  5. Oi, Lud

    talvez você já tenha lido, mas seu post me remeteu imediatamente a esse outro da Marjorie: http://marjorierodrigues.wordpress.com/2009/05/11/da-frase-que-mais-me-irrita-nessa-vida/

    Bjocas
    Rita

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Bom, quanto "à direção", tenho um testemunho.

    Meu filho é do sexo masculino, tem 13 meses, e fala perfeitamente a palavra carro, de tanto que ele ama. Ele também fala bola, de que gosta, mas não tanto como de carros. Ele também tem diversos bichos de pelúcia, poderia fazê-los de bonequinha, mas por que não o faz??? E por que não os chama de nada? No meio dos brinquedos dele há um coelhinho de pelúcia, um ursão bem fofo, um Frajola, um Piu-Piu, um Pernalonga, um Cebolinha Jovem, ele poderia fazer todos de bonequinha... Mas prefere o carro... Fazer o quê?

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  8. Preferências são pessoais e não estão ligadas ao gênero. Por exemplo, meu sobrinho de 1 ano e meio também adora carros, principalmente aqueles bem grandes. E essa preferência é reforçada por todos ao redor (afinal meninos gostam de carros, né?!), então ele tem vários carrinhos, incluindo uma réplica da caminhonete do papai. Ao mesmo tempo, ele é apaixonado por panelas e adora fazer "papa" para todo mundo, porém dificilmente ele ganhará uma cozinha de brinquedo (afinal cozinha é lugar de mulher,né?!). E é justamente nessas distinções que se encontram o problema, não nas preferências em si.

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  9. Ótimo texto... conciso e denso ao mesmo tempo. a analogia foi muito bem colocada. parabéns
    compartilhei no reader.

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  10. Ada,
    muito legal a matéria. Vou ver se faço um post sobre isso.

    Amanda,
    entendi, sim. Eu acho que a questão é essa mesmo: o que as pessoas gostam e o que são condicionadas a gostar!
    Um homem que usa salto alto e maquiagem é um transgressor, definitivamente. Mas uma mulher, a princípio, não, né? Tudo depende do contexto.

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  11. Iara,
    muuuito legal o seu post. Teve uma época que eu andei procurando uma religião (longa história) e o Judaísmo me atraiu, porque eles não ficam querendo converter pessoas à força, e acham que homens e mulheres justos, não importando que religião professem (ou não), estão ok com o Ser Superior.
    Aí descobri que na oração matinal os judeus agradecem a Deus por não tê-los feito mulher.
    Não rolou.

    Setembro,
    juro pelo véu com o qual minha xará Santa Ludmila foi estrangulada pela nora que eu respondi ao seu comentário e o Blogger engoliu! Eu adooooro dar palpites em viagens alheias. E comandos também =D.
    A resposta foi mais ou menos assim:
    Que bom que você já tá planejando a viagem para o ano que vem! Eu acho que o planejamento faz com que a viagem comece, psicologicamente, muito antes. Conta pra mim: em que época você vai? Quantos dias pode ficar? Que lugares faz questão de conhecer?

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  12. Rita,
    o post da Marjorie tem tudo a ver! Eu o li há uns meses e com certeza ele foi subsídio pro meu.
    O blogue da Marjorie é o máximo. Tô triste dela ter dado uma pausa.

    Camilinha,
    que bom que o Rafa tem acesso a todas essas opções. Aí a escolha dele fica pessoal, né? Não é porque ele só tinha carros para brincar. Mas observe: por acaso, quando seu marido/parentes brincam com ele, eles dividem o tempo igualmente entre carros e bonecos? Alguém canta cantigas de ninar e põe o Cebolinha Jovem pra dormir perto do Rafa? Em suma, alguém "ensina" o Rafa a brincar de boneca? (Não é crítica, não - só curiosidade.)

    Vanessa,
    eu desejo muito muito que você encontre uma cozinha de brinquedo para dar para o seu sobrinho. Nem vou dizer pra você comprar o modelo rosa e lilás mesmo (direcionado para as meninas), porque acho que a homofobia iria rolar solta (pelo menos na minha família isso ia acontecer).
    Acho que em lugares como Mercados Centrais você acha panelinhas de ferro "unissex".

    Snorks,
    Obrigada!

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  13. No natal de 2008 meu filho ganhou um fogãozinho e panelinhas, e depois disso vive "fazendo" gororobas pra gente. Já no último natal ele invocou que queria um caminhão de lixo, enorme de plástico, falou tanto no danado que não tinha como o papai noel trazer outra coisa. Pra minha filha, mais nova, andei, pensei, pesquisei, mas tudo que eu achava mais legal e estimulante já temos em casa, pois já foi comprado pro meu filho. Acabei comprando uma boneca de pano super fofa, feita à mão, que parece mesmo um bebê de 1 ano e pouco (a idade da minha pequena). Pois minha lindinha não está nem aí pra boneca, no máximo um abracinho de 2 segundos, e já acha um carro pra sair dirigindo pela casa fazendo "brrrrrrr"! Enfim, minha experiência de mãe de um menino e uma menina é que essas diferencas são mesmo impostas, é claro que vejo que são indivíduos com personalidades diferentes, mas essa coisa de gosto por carros e princesas deve ser mesmo imposta, pq meus 2 pequenos gostam de tudo um pouco, e ao mesmo tempo que meu menino adora brincar de carros, também ama ver filmes de princesas com seus vestidões cor-de-rosa, e minha filha, bem, ela já deixou bem claro que prefere carros a bonecas!

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  14. Ahh... que bom!!! prefiro passar os detalhes de outra forma!! Se vc aceitar me ajudar fico muito feliz... me manda um e-mail no "pb.ocanha@hotmail.com" (Paula Fernanda Ocanha... é meu nome! ... Mas, se você me chamar assim eu não respondo! Por isso pode continuar com o Setembro! =p)
    eu tenho alguns lugares em mente... mas gostaria mesmo que você desse palpite, sabe? acho ruim conversar por aqui!!!
    e juro por Deus que isso não é uma desculpa pra pegar seu e-mail e ficar te ameaçando anonimamente!!!
    ... nossa... pq eu pensei nisso?! asuhauhauhsua
    bjo Lud!! Thanks!

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  15. eu ia fazer um post sobre isso, mas o umbiguismo não tá deixando. o que eu ia dizer é que na europa é muito mais comum os homens cuidarem da pele e até usarem maquiagem. meus amigos que moram por lá usam corretivo numa boa, creminhos pra pele, mesmo os que eram supermachistas no brasil acabam considerando isso natural. isso vai a favor da minha teoria (que vai contra a sua) de não ser contra nda, e sim a favor de tudo. maquiagem? todo mundo pode usar. salto? todo mundo pode usar. bom salários e carrões? todo mundo pode ter. =)

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  16. Katia,
    o legal é que você não tenta impor a eles o que é "adequado" ou não. Acho que ter filhos de sexos diferentes deve ser ótimo, porque um tem acesso aos brinquedos e diversões "típicos" do outro, mesmo se os tios e avós são conservadores e gostam de dar presentes "de menina" ou "de menino".

    Setembro,
    te mandei um e-mail!

    Bela,
    eu também sou a favor de tudo, mas acho que tem de rolar um momento de quebra dos modelos pré-estabelecidos. O fato dos homens usarem maquiagem é legal, mas não vai destruir o conceito de "mulher-objeto". Porque na nossa sociedade homem é sujeito e vai continuar sendo, mesmo passando corretivo e delineador (que eu acho lindo).

    Eu gostaria muitíssimo que todo mundo tivesse bons salários e carrões. Mas o capitalismo não comporta - ele gosta é de concentrar riquezas. E, aparentemente, o planeta Terra também não (ai, que barango isso. Você sabe que não sou ecológica. Quer dizer, sou, mas como externalidade positiva do meu pão-durismo.)

    Beijos a todas!

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  17. Oi, Lud, eu de novo.

    Aí passei por aqui para ver seus comentários dos comentários e veja as coincidências:

    há poucas horas, pela primeira vez na vida, li sobre essa coisa de se agradecer em oração por não ter nascido mulher (capítulo inicial de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, do José Saramago) e aí pensei "ué, que troço mais esquisito, o que o Saramago quer dizer sobre o José (pai de Jesus, que faz a oração) com essa frase..." ignorância, santa ignorância. Agora entendi. Eram judeus... Mas que doido isso, né? Essas coincidências são um barato. Nunca vejo o troço na vi-da. Aí, em poucas horas, tá em todo lugar.

    bjs
    Rita
    p.s. A-DO-RO seu blog.

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  18. Rita,
    muito obrigada!
    Eu também adoro essas coincidências. Elas são tão instrutivas!

    Beijos a todos.

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