quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Caso da Beleza

Eu sou uma pessoa visual. Cores, formas e harmonias me interessam profundamente. E tenho respeito e admiração pela beleza.

Mas um dia comecei a questionar a máxima "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental". Porque ela se refere especificamente à beleza feminina. O criador da frase, Vinícius de Moraes, era um cara feio: gordo, careca, enrugado. Ainda assim, ele queria que as mulheres fossem belas, que lhe dessem prazer visual.

Pô, sacanagem, né? As moças ficam lá fazendo dieta, unha, cabelo e maquiagem. E o Vivi, o que faz? Faz poesia.

Prefiro fazer poesia.

* * *

Ok, não tenho talento para poesia. O que eu quero dizer é que o dito do "Poetinha" (interpretem o diminutivo como quiserem), que virou lugar comum, coloca as mulheres na posição de objeto, valorizado pela aparência e só. O problema (um deles) é que a beleza física passa rápido, né, gente? Fica no máximo registrada em um quadro ou uma foto. E quem fez o quadro, ou a foto, é que vai pra posteridade.

* * *

Como eu dizia, eu sou defensora da beleza. Mas, poxa, existe beleza em tantos lugares. Fico pensando: se as mulheres fossem liberadas dos cuidados diários com cutículas, pelos e pontas duplas, será que não teríamos (mais) um monte de cientistas, artistas e pensadoras por aí?

* * *

Sim, eu entendo que a maneira que a pessoa se apresenta é um jeito de se expressar. Mas, cá pra nós, o guarda-roupa masculino é bem mais limitado, né? E nem por isso vejo os moços reclamando que tem dificuldade em dizer a que vieram.

* * *

Ok, leitora, eu entendo: você é linda, fashion, maquiada, inteligentíssima e bem-sucedida. Então que tal, da próxima vez que você comprar um batom Chanel por mais de cem reais, doar a mesma quantia para uma fundação que defenda os direitos das mulheres ou para uma candidata cuja plataforma lhe agrade? Aí você vai estar fazendo do mundo um lugar mais bonito E melhor.

8 comentários:

  1. Tô adorando esse blog, nossa!
    Eu amo o "Poetinha" de paixão, mas toda vez que me lembro dessa barbaridade que ele disse, dá vontade de ressuscitá-lo só pra meter-lhe uns tapas nas fuças. Tem o contexto histórico da coisa, TEM. Não é desculpa, mas tem.
    O que não tem desculpa mesmo é a gente, as filhas (ou irmãs) da revolução, das mulheres que queimaram os sutiãs e exigiram espaço, a gente apertar de novo as fitas do espartilho e virar boneca do tipo objeto-de-consumo, conscientemente. O que me dá aflição é ver que tem MUITA mulher seguindo nesse caminho. Sabe? Como vc, não sou nada contra beleza, estética, mas existe um abismo entre GOSTAR disso e VIVER PRA ISSO.
    Queria tanto ser livre.

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  2. E tem uma porcaria de uma música do "Poetinha" que é a mais detestável de todas, que fala que "mulher tem que ser só perdão". Vai $#@%¨$#%¨%, viu!
    Eu ainda acho que essa história de preocupação com a beleza é justamente uma preocupação que nos impuseram pra gente não dominar o mundo. E que dá vontade de sacudir um povo que só pensa nisso, dá!

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  3. Lud,

    Adoraria saber sugestões de entidades SÉRIAS que defendam os direitos das mulheres. Você tem alguma sugestão pra dar?

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  4. faço coro com a roberta. eu topo o desafio da doação quando eu perder a cabeça na sephora (apesar de que não tenho mais fé que isso vá acontecer muitas vezes)

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  5. Jux,
    brigada!

    Laetitia,
    morri de rir com o "uns tapas nas fuças". Concordo que tem o contexto histórico, mas é que tenho visto tanto artigo e propaganda citando esse versinho, sabe? Como verdade fundamental. Me irrita profundamente.

    Ashen Lady,
    brigada também!

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  6. Dani,
    é isso mesmo: uma maneira de dominação. A mensagem da sociedade é: sua primeira obrigação é ser bonita, e cuidado pra não quebrar a unha quando você for fazer alguma coisa no tempo que sobrar.

    Roberta e Sarah,
    olha, eu tô pesquisando. Assim que eu descobrir ponho aqui no blogue.

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